quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Tv pública?


Cai a participação de dinheiro do governo no orçamento da TV Cultura


Lúcia Valentim Rodrigues


A participação da verba do governo de São Paulo na TV Cultura caiu quase pela metade nos últimos anos. Em 2003, o dinheiro estatal correspondia a 81,53% do total de recursos obtidos pela Fundação Padre Anchieta, que administra a emissora pública e que captou 18,47% do orçamento daquele ano junto à iniciativa privada.
Desde 2008, a situação se inverteu. Os recursos próprios superaram o valor destinado pelo Estado: do total de mais de R$ 192 milhões, foram 51,78% da fundação contra 48,22% do Estado.
Em 2009, essa diferença se intensificou, com a porcentagem da fundação chegando a 56,89%.
Houve um pequeno retrocesso em 2010 (52,8%) em virtude do repasse de R$ 13 milhões do governo para suprir gastos com demissões.
Em valores absolutos, houve redução de recursos em 2004 e em 2006. A previsão de verba estatal para este ano é de R$ 84 milhões -35% a menos que em 2010. A diminuição de repasses foi adotada em 2008 como política do governo para controlar os gastos da fundação. Esses dados fazem parte de um estudo feito pelo deputado Simão Pedro (PT), que preside a Comissão de Educação e Cultura e ocupa uma das 40 vagas no Conselho Curador.
Para ele, a baixa audiência é fruto desse processo. "A TV se sente pressionada a buscar recursos no mercado, que é instável. Diminui a qualidade dos programas e, com isso, o interesse do público."
Hoje, na reunião mensal da fundação, será apresentado um relatório sobre a audiência, que sofreu uma redução de 27% em um ano. O presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad, pediu pesquisa ao Ibope para avaliar a perda de público. O levantamento, no entanto, ainda não ficou pronto.
Com menos dinheiro do governo, a emissora busca recursos com venda de publicidade e enxuga gastos. Novas produções ficam comprometidas. Nesse período, uma das poucas estreias foi o "Quintal da Cultura". O foco fica naquilo que já faz sucesso, caso de "Cocoricó", que teve nova temporada encomendada.
Os números ainda mostram redução dos investimentos do canal. De 5,45% em 2004 passaram para 2,89% em 2010, que foram destinados a ampliar a rede de transmissão e implantar a TV digital.


Lúcia Valentim Rodrigues – 08.08.2011



Análise: britânica BBC é o principal modelo de TV pública no mundo


Em tese, TV pública é aquela que vive de recursos públicos -mantendo, ainda assim, independência do governo- e que, sendo livre de obrigações comerciais, pode ousar na programação.

Ana Paula Sousa
 A definição de uma televisão como pública ou comercial depende do modelo de financiamento.
Em tese, TV pública é aquela que vive de recursos públicos -mantendo, ainda assim, independência do governo- e que, sendo livre de obrigações comerciais, pode ousar na programação.
Já a TV comercial é aquela que vai buscar recursos no mercado, por meio de publicidade, que tem, como moeda de negociação, a audiência. Daí sua preocupação constante com o Ibope.
O principal exemplo de TV pública no mundo é a britânica BBC, que é mantida por uma taxa paga por toda a população do país e, cabe lembrar, também está passando por uma crise.
As pressões pela privatização dessa rede já duram três décadas.
Há também a norte-americana PBS, que, simplesmente, não permite anúncios publicitários.
No fundo, trata-se de uma questão conceitual. Uma TV só é pública se não tiver de submeter a programação às regras do mercado.
Fornecedora de conteúdo para as emissoras educativas de todo o país, a TV Cultura durante muitos anos, apesar dos tropeços, foi o paradigma de TV pública do Brasil. Mas, neste momento, essa definição está xeque.
E a próxima pergunta que os envolvidos nesse debate talvez façam é: uma TV que não é pública de fato deve receber recursos do governo?


Ana Paula Sousa – 08.08.2011