O FMI e as autoridades
financeiras da União Europeia aumentam a pressão sobre a Grécia e dizem que
país "ainda não reúne todas as condições" para receber ajuda. Querem
mais cortes de gastos públicos. Enquanto isso, na Grécia, crescem os casos de
abandono de crianças e de desnutrição infantil, o desemprego bate na casa dos
20%, as camas dos hospitais foram reduzidas em 40%, alunos não receberam livros
escolares e cidadãos deficientes, inválidos ou portadores de doenças raras
tiveram subsídios e medicamentos cortados. Saiba como destruir um país e seu
povo em nome da austeridade.
Marco Aurélio Weissheimer
A Grécia deveria prestar atenção no que está acontecendo em Portugal,
onde o governo decidiu cumprir tudo o que a troika (Fundo Monetário
Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) exigiu e a situação
econômica do país só está piorando. A advertência foi feita por Landon Thomas,
colunista econômico do jornal The New York Times, em um artigo intitulado Portugal’s Debt Efforts May Be Warning for Greece. Portugal, diz Thomas, vem fazendo tudo o que a troika exigiu em troca
dos 78 bilhões de euros de “resgate” liberados em maio de 2011. No entanto, o
resgate está fazendo a economia do país afundar cada vez mais no buraco. Neste
momento, a Grécia está sendo pressionada a seguir o mesmo caminho para garantir
um “resgate” de 130 bilhões de euros.
Em Portugal, o portal
Esquerda.net destacou a advertência de Landon Thomas que vem
apoiada em um dado eloquente: quando Portugal fechou o acordo para receber o
“resgate” de 78 bilhões, a relação dívida/PIB do país era de 107%. Agora, a
expectativa é que ela suba para 118% até 2013. Na opinião do colunista do New
York Times, isso não se deve ao fato de que a dívida de Portugal está
crescendo, mas sim ao encolhimento da economia do país. “Sem crescimento, a redução
da dívida torna-se quase impossível”, resume. Os números mais recentes ilustram
bem essa tese. O PIB português caiu 1,5% em 2011, sendo que, no último
trimestre do ano passado, a queda foi de 2,7%. A taxa de desemprego no país
chegou a 13,6% e o governo admite que esses números não devem melhorar em 2012.
Grécia “ainda não reuniu todas as condições”
A resistência da Grécia em aceitar os termos exigidos pelo FMI e pela
União Europeia está fazendo aumentar o tom das ameaças dirigidas contra o país.
Os ministros de Finanças da zona do euro cancelaram uma reunião marcada para
terça-feira (14) para discutir a situação grega alegando que o país “ainda não
reuniu todas as condições” para conseguir um novo empréstimo. As autoridades
monetárias europeias querem que o governo grego especifique em que áreas serão
executados cortes para atingir a meta de 325 milhões anuais exigida pelo bloco
europeu. O problema é onde cortar na penúria? A cobertura jornalística sobre a
crise na Grécia e em outros países europeus é abundante em números, mas escassa
em relatos sobre os dramas sociais cada vez maiores.
Uma exceção nessa cobertura é uma matéria da BBC que fala sobre como a crise financeira grega
causou tamanho desespero em algumas famílias que elas estão abrindo mão dos
próprios filhos. Há casos de abandono de crianças em centros de juventude e
instituições de caridade em Atenas. “No último ano, relatou à BBC o padre
Antonios, um jovem sacerdote ortodoxo grego, “recebemos centenas de casos de
pais que querem deixar seus filhos conosco por nos conhecerem e confiarem em
nós. Eles dizem que não têm dinheiro, abrigo ou comida para suas crianças e
esperam que nós possamos prover-lhes isso”. Até há bem pouco tempo, a Aldeias
Infantis SOS da Grécia costumava cuidar de crianças afastadas de seus país por
problemas com álcool e drogas. Agora, o problema principal é a pobreza.
Crescem casos de abandono e
desnutrição infantil
Segundo os responsáveis pelas Aldeias SOS está crescendo o caso também
de crianças abandonadas nas ruas. De acordo com as estatísticas oficiais, 20%
da população grega está vivendo na pobreza e cerca de 860 mil famílias estão
vivendo abaixo da linha da pobreza. No final de janeiro, o governo grego
anunciou que iria começar a distribuir vales-refeição para as crianças após
quatro casos de desmaios em escolas por desnutrição. A medida, segundo o
governo, seria aplicada principalmente nos bairros mais afetados pela crise
econômica e pelo desemprego. Em um segundo momento, também receberiam os vales
as famílias em situação econômica mais grave. “Há casos de alunos de famílias
pobres que passam o dia todo na escola sem comer nada”, denunciou, em dezembro
de 2011, Themis Kotsifakis, secretário geral da Federação de Professores de
Ensino Médio.
Apesar desses relatos, para as autoridades do FMI, do Banco Central Europeu
e da Comissão Europeia, a Grécia ainda não reuniu todas as condições para
receber uma nova ajuda. A perversidade embutida neste discurso anda de mãos
dadas com o cinismo. No dia 24 de janeiro deste ano, Sonia Mitralia, membro do
Comitê Grego contra a Dívida e do Comitê para a Anulação da Dívida do Terceiro
Mundo (CADTM), denunciou, diante da Comissão Social da Assembleia Parlamentar
do Conselho da Europa, em Estrasburgo, a crise
humanitária sem precedentes que está sendo vivida na Grécia. Segundo ela, as medidas de austeridade propostas pela troika
representam um perigo para a democracia e para os direitos sociais.
“Dizimaram toda uma sociedade
europeia para nada”
Mitralia lembrou que as próprias autoridades financeiras admitem que, se
suas políticas de austeridade fossem 100% eficazes, o que não é o caso, a
dívida pública grega seria reduzida para 120% do PIB nacional, em 2020, ou
seja, a mesma percentagem de 2009 quando iniciou o processo de agravamento da
crise. “Em resumo, o que nos dizem agora cinicamente, é que dizimaram toda uma
sociedade europeia...absolutamente para nada!”. Estamos vendo agora,
acrescentou, “o sétimo memorando de austeridade e destruição de serviços públicos,
depois dos seis primeiros terem provado sua total ineficácia. Assiste-se a
mesma cena em Portugal, na Irlanda, na Itália, na Espanha e um pouco por toda a
Europa, disse ainda Mitralia: afundamento da economia e das populações numa
recessão e num marasmo sempre mais profundos.
Além do abandono de crianças e da desnutrição infantil, Mitralia aponta outros deveres de casa que estão sendo cobrados da Grécia e cuja execução é considerada insuficiente: o desemprego é de 20% da população e de 45% entre os jovens; as camas dos hospitais foram reduzidas em 40%; já não há nos hospitais públicos curativos ou medicamentos básicos, como aspirinas; em janeiro de 2012, o Estado grego não foi capaz de fornecer aos alunos os livros do ano escolar começado em setembro passado; milhares de cidadãos gregos deficientes, inválidos ou que sofrem de doenças raras tiveram seus subsídios e medicamentos cortados. Mas, para o FMI e a União Europeia, a Grécia ainda não está fazendo o suficiente...
Além do abandono de crianças e da desnutrição infantil, Mitralia aponta outros deveres de casa que estão sendo cobrados da Grécia e cuja execução é considerada insuficiente: o desemprego é de 20% da população e de 45% entre os jovens; as camas dos hospitais foram reduzidas em 40%; já não há nos hospitais públicos curativos ou medicamentos básicos, como aspirinas; em janeiro de 2012, o Estado grego não foi capaz de fornecer aos alunos os livros do ano escolar começado em setembro passado; milhares de cidadãos gregos deficientes, inválidos ou que sofrem de doenças raras tiveram seus subsídios e medicamentos cortados. Mas, para o FMI e a União Europeia, a Grécia ainda não está fazendo o suficiente...
Marco Aurélio Weissheimer – Jornalista
– 15.02.2012
IN “Carta Maior” – http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19620
Solidariedade com a Grécia alastra
Multiplicam-se as ações de solidariedade com o povo grego por toda a
Europa. Para Lisboa e Porto, estão convocadas ações para a próxima segunda
feira às 18 horas, no Largo de S. Domingos e Praça da Batalha, respetivamente.
Esquerda.net
Por
toda a Europa estão a existir ações de solidariedade com o povo grego, a maior
parte das quais convocadas através do facebook. Palavras de ordem como “Somos
todos gregos” e “Grécia não estás só” têm sido gritadas em diversas línguas e
cidades.
Para
os próximos dias estão marcadas ações para:

Alemanha – http://www.facebook.com/events/186555451450224/ ; Colónia (18/02) http://www.facebook.com/events/383553521670953/
Bélgica - Bruxelas (18/02) https://www.facebook.com/events/172822152831098/
Dinamarca - Copenhaga (18/02) https://www.facebook.com/events/288567254543756/
Finlândia - Helsínquia (18/02) https://www.facebook.com/events/250535518360698/
França - Havre (20/02); Clermont Ferrand
(18/02) https://www.facebook.com/events/344991582201075/ ; Grenoble (18/02) https://www.facebook.com/events/232270103531655/ ; Lyon (18/02) https://www.facebook.com/events/326949874007934/ ; Marselha (18/02) https://www.facebook.com/events/229518840476165/ ; Montpellier (18/02) https://www.facebook.com/events/130981520357485/ ; Nantes (18/02) https://www.facebook.com/events/285960971467697/ ; Nimes (18/02) https://www.facebook.com/events/333570396686672/ ; Paris (18/02) https://www.facebook.com/events/300935383297289/ ; Quimper (18/02) http://www.fruncut.org/actions/245 ; Saint Brieuc (18/02) https://www.facebook.com/events/257614284314070/ ; Toulon (18/02) http://www.facebook.com/events/110479822410015/ ; Toulouse (18/02) https://www.facebook.com/events/298868093508493/ ; Vannes (18/02) : https://www.facebook.com/events/191538730948207/ ; Comunidade
francesa de Atenas, em frente à embaixada (18/02, 14h) ; Grenoble (17/02) https://www.facebook.com/events/192964747470856/
Irlanda - Dublin (18/02) https://www.facebook.com/events/253637944712060/
Holanda - Amesterdão (18/02) https://www.facebook.com/events/334050029973081/
Reino Unido - Edimburgo (18/02) http://www.facebook.com/events/362985473720916/
; Londres (18/02) https://www.facebook.com/events/254245677985938/ ;
Suécia - Estocolmo (18/02) http://motkraft.net/kalender/2012/02/18/stockholm-solidaritetsdemonstration-med-grekiska-arbetarklassen/
Estados Unidos - Nova Iorque (18/02) Zuccotti Park
Iniciativas
de solidariedade já realizadas:
Alemanha - Hamburg (16/02) https://www.facebook.com/events/369317316411961/
; Düsseldorf (15/02) https://www.facebook.com/events/140580679395753/ ; Frankfurt
(15/02) https://www.facebook.com/OccupyFfM ; Berlim (13/02) http://www.youtube.com/watch?v=sJkjqWxCTdw ; http://www.youtube.com/watch?v=npuqJwbuZ6s ; http://www.facebook.com/events/322852801093574/
Áustria - Viena (15/02) https://www.facebook.com/events/129035723885771/ ; https://www.facebook.com/events/241257859291261/
Espanha - Várias cidades (13/02) http://www.madrid2noticias.com/n-7275-3-15M_sale_calle_solidaridad_griegos ; http://acampadabcninternacional.wordpress.com/2012/02/13/grecia-contentracion-manana-a-las-20-horas-en-el-consulado-o-embajada-griega-mas-cercana-15m-occupy-syntagma-greece/ ;
França - Nice (15/02): http://nice.demosphere.eu/node/151 ; http://www.flickr.com/photos/62305636@N04/sets/72157629335386981/ ; Paris
(12/02) http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=kEmG6N44wsQ
Itália – Roma (15/02): http://www.libera.tv/videos/2086/no-debito---occupazione-sede-unione-europea-grecia-libera.html (ocupação da sede da União Europeia) ; Rome,
ITALIE (14/02) http://www.facebook.com/media/set/?set=a.292307737498275.67535.161736480555402&type=3 ; Roma (13/02) http://www.facebook.com/events/345191878846240/
Esquerda.net – 17.02.2012