Rodrigo Vianna analisa o ato do Movimento
Passe Livre realizado nesta quinta-feira, 13, e afirma que a PM foi baderneira
e subverteu a ordem democrática: “Isso
tudo, sim, é baderna pura! É um Pinheirinho no centro de São Paulo. Um
Pinheirinho na avenida Paulista”.
Rodrigo Vianna
Qual o nome para o que a Polícia Militar fez em São
Paulo durante mais uma manifestação contra o aumento das passagens de ônibus e
metrô? Proibiu carros de som e megafones nas ruas, agrediu
jornalistas e fotógrafos, encurralou manifestantes, atirou bombas a esmo,
pisoteou a Democracia.
Desacostumado com manifestações públicas, o
brasileiro aceitou a versão da velha mídia que, após os atos da semana
passada, classificou os manifestantes como simples
“baderneiros”?
Dessa vez, quem tentou impedir uma manifestação
pacífica em São Paulo? Como se pode nomear as cenas protagonizadas pela
polícia (e devidamente registradas e espalhadas em tempo real pelas redes
sociais)? Baderna ou barbárie?
A polícia tentou cercear o direito à manifestação.
Atacou a liberdade de expressão. Isso se chama “subversão”. Sim, a PM paulista
subverteu a ordem democrática.
A Polícia Militar foi baderneira e subversiva!
E pra completar: manifestantes foram presos com
base numa lei que trata ativistas sociais como “quadrilheiros”. O mais
chocante: o PT e outros partidos de esquerda, as centrais sindicais mais
representativas e os movimentos sociais importantes estão ignorando a garotada
que foi pra rua enfrentar a barbárie. É preciso dizer: não aceitamos que o
governador de São Paulo trate manifestantes como “quadrilha”. Movimento social
não é quadrilha. O próximo passo, disse-me há pouco o colega blogueiro Renato
Rovai, é tratar movimento social como “terrorismo”.
Aliás, acompanhe cobertura ao vivo da Revista
Fórum, sob coordenação do Rovai.
Alckmin tenta se cacifar junto ao conservadorismo
paulista. Ele sabe bem o que está fazendo. É chocante ouvir por aí – na classe
média supostamente bem educada – que “essa gente tem é que levar borachada”. É
a base alckmista. Mas o mais chocante é perceber que o petismo e as bases
lulistas ficam sem saber o que dizer. Talvez à espera do sinal dos “líderes”, à
espera dos cálculos que submetem tudo, absolutamente tudo, à lógica eleitoral.
Humildemente, lembro que há questões inegociáveis. E
uma delas é o direito à manifestação. Ah, mas esses atos são convocados por
“radicalóides” do PSTU e do PSOL! Então, façamos com que sejam mais do que
isso, mais amplos. Ah, mas há provocadores que vão pra rua depredar e atirar
pedras! Ora, desde que o mundo é mundo, isso é assim. Não há manifestação com
mais de 2 mil ou 3 mil pessoas em que não surja gente disposta apenas a
tumultuar.
Mas volto a insistir. Manifestação não é baderna,
nunca foi e nunca será. Baderna, isso sim, é polícia que dá tiro em manifestante
ajoelhado, baderna é governador usar a cavalaria na avenida Paulista, baderna é
partido de esquerda (ou, ao menos, com bases de esquerda) submeter-se à lógica
eleitoral e não vir a público denunciar o fascismo social que se tenta
implantar em São Paulo.
Isso tudo, sim, é baderna pura! É um Pinheirinho no
centro de São Paulo. Um Pinheirinho na avenida Paulista.
Há erros na ação dos manifestantes? Parece que sim.
Mas há um mérito inequívoco na atitude deles: retirar da letargia jovens que,
na última década, foram acostumados com a idéia de que nenhuma ação coletiva
faz sentido
Atualização
No fim da noite, o prefeito Haddad (PT) saiu
da toca e falou de forma clara: “(…) infelizmente, hoje não resta dúvida de que
a imagem que ficou foi a da violência policial”. Haddad também disse que,
nesta sexta-feira (14), avaliará as medidas que tomará para tentar conter a
escalada de violência nos protestos.
Rodrigo Viana – 13.06.2013
IN
O Escrivinhador – http://www.rodrigovianna.com.br/
Prender manifestantes por
formação de quadrilha é AI-5 contra a luta social
Para o movimento
social agora não é hora de se discutir os exageros. É hora de defender os
direitos. O que está em curso é muito mais perigoso do que pode parecer à
primeira vista.
Renato Rovai
Os momentos históricos são diferentes, mas o que
está acontecendo em São Paulo precisa ser discutido do tamanho que merece.
Manifestantes não podem ser presos sob acusação de formação de quadrilha, crime
inafiançável. Se isso vier a prevalecer, estaremos entrando num cenário de
ditadura contra a luta social. Será um novo AI-5, o instrumento que faltava
para a tão sonhada criminalização dos movimentos sociais que vem sendo
arquitetada há tanto tempo pelas forças conservadoras do país. E que ganhou
hoje o apoio, em editorial, da Folha e do Estado de S. Paulo.
Na última terça-feira foram 20 presos. Hoje,
fala-se em mais de 60. Muitos deles jovens que carregavam apenas vinagre para
se defender do já previsto ataque de bombas da Polícia Militar. Entre esses que
carregavam vinagre, um fotógrafo da Carta Capital.
O jornalista da Carta Capital já foi solto, mas a
grande maioria dos jovens ainda está amargando o gosto da cela. Quem não está
sendo acusado de formação de quadrilha, pode obter a liberdade pagando 20 mil
reais.
Ou seja, a partir de agora quem for para a rua
lutar é bandido de alta periculosidade. E o pior disso tudo é que tem gente que
se diz de esquerda que está aplaudindo essa ação nefasta.
Cansei de ver os metalúrgicos do ABC parando a
Anchieta para reivindicar aumentos. Cansei de ver os bancários de São Paulo
fechando as ruas do centro de São Paulo em suas campanhas salariais. Participei
de greves gerais convocadas pela CUT e que interrompiam avenidas de todo o
país. E muitas vezes vi gente com pedaço de pau e o que tivesse na frente indo
para cima de policiais e da cavalaria. E também vi muitos sindicalistas com o
rosto jorrando sangue.
A polícia brasileira sempre foi violenta com os
movimentos sociais. E é essa violência que estamos assistindo contra os
manifestantes no centro de São Paulo que está engordando o caldo das
manifestações do Passe Livre. Essa violência que o jovem da periferia vive no
seu cotidiano é também a gasolina dos protestos. Não é só os vinte centavos.
Muito mais gente vai para a rua da próxima vez. E
Alckmin está dando risada. Porque isso vai fazer bem para a sua popularidade.
Afinal, em São Paulo há um eleitorado que quer o xerife na rua. Quer ver
sangue. E quer ver quem luta, quem protesta, quem para avenidas, na cadeia. Que
sonha em ver a extinção “dessa raça”.
A questão é que se os movimentos sociais que não
estão diretamente envolvidos nos protestos atuais aceitarem essa criminalização
absurda do Movimento Passe Livre, estarão assinando o seu atestado de óbito.
Quando quiserem lutar serão tratados da mesma forma.
A não ser que já tenham abdicado da luta como um
instrumento de construção de uma sociedade mais justa. E aí também já terão
assinado seu atestado de óbito. Movimento que não luta numa sociedade tão
desigual como a nossa não é movimento.
Para o movimento social agora não é hora de se
discutir os exageros. É hora de defender os direitos. O que está em curso é
muito mais perigoso do que pode parecer à primeira vista. A continuar assim, em
breve, líderes sociais estarão sendo presos acusados de terrorismo.
Renato Rovai – 14.06.2013
IN Blog do Rovai – http://revistaforum.com.br/blogdorovai/2013/06/14/prender-manifestantes-por-formacao-de-quadrilha-e-ai-5-contra-a-luta-social/
Uma virada na cobertura
A imprensa, que
finalmente despertou para o fato de que há vândalos em ambos os lados do
conflito, pode ajudar a identificar os comandantes dessas ações ilegais, assim
como tem sabido apontar os autores de depredações durante os protestos.
Luciano Martins Costa
De repente, não mais que de repente, o noticiário
sobre as manifestações que paralisam grandes cidades brasileiras há uma semana
sofre uma reviravolta: agora os jornais começam a enxergar os excessos da
polícia e mostrar que no meio da tropa há agentes provocadores e grupos
predispostos à violência.
Um dos relatos mais esclarecedores sobre o momento
em que a passeata realizada na capital paulista na quinta-feira (13/06) deixou
de ser pacífica é feito pelo colunista Elio Gaspari, na Folha de S.Paulo e no Globo(ver
"A PM começou a
batalha na Maria Antônia"). Ele descreve como uma equipe da
tropa de choque se posicionou e agiu deliberadamente para provocar o tumulto.
Há também, na rede social digital, um vídeo mostrando
um PM, aparentemente por orientação de um oficial, quebrando o vidro da
viatura. A imagem, cuja autenticidade só pode ser confirmada pela própria
Polícia Militar, está diponível no Youtube.
No Facebook, registro para a legenda colocada sob
cenas dos conflitos, no noticiário da GloboNews durantea noite: “Polícia fecha
a Avenida Paulista para evitar que manifestantes fechem a Avenida Paulista”.
Nessa linha de raciocínio, pode-se imaginar também a seguinte manchete:
“Polícia usa violência para evitar violência de manifestantes”.
Truculência
e irresponsabilidade
Foi preciso mais do que evidências para a imprensa
cair na real: os repórteres testemunharam dezenas de ações abusivas de
policiais, como a retirada e o espancamento de um casal que tomava cerveja num
bar, alheio à passeata, ou o lançamento de granadas de gás em meio aos carros
travados nos congestionamentos.
Claramente, não se trata de bolsões descontrolados,
mas de uma ação organizada dentro da corporação policial, o que mostra o
esgarçamento da disciplina e do controle na Polícia Militar. A única
possibilidade de desmentir tal observação é a ação imediata do comando,
identificando e afastando das ruas os oficiais responsáveis por esses grupos.
A violência gratuita e excessiva ficou registrada
nas páginas dos jornais, entre outras razões, porque desta vez houve mais
jornalistas entre as vítimas de agressões. Sete deles são repórteres da Folha de S. Paulo. Isso
talvez explique a mudança de tom nas reportagens, mas o relato da violência não
esgota o assunto, apenas instala algum equilíbrio na visão dos fatos por parte
da imprensa.
Para ampliar sua compreensão do que realmente se
passa nas ruas da cidade por estes dias, o leitor tem que se valer de outras
fontes além dos jornais e do noticiário da TV. Por exemplo, o vereador Ricardo
Young, que acompanhou o indiciamento de alguns manifestantes detidos, registrou
no Facebook um fato preocupante: policiais fizeram a revista de mochilas e
bolsas longe de testemunhas, trocando conteúdos e inserindo em algumas delas
materiais estranhos, como pedras e pacotes com maconha. Assessores do vereador
denunciam que houve tentativa de “plantar” provas contra alguns dos
manifestantes detidos.
É notória a má vontade da polícia, como
instituição, contra jovens em geral, talvez ainda um resquício da ideologia de
segurança pública que se consolidou durante a ditadura militar e que ainda
orienta a formação nas academias. Os indicadores de agressões cometidas por
agentes públicos contra homens jovens são um dos aspectos mais evidentes nos
estudos sobre a violência nas grandes cidades brasileiras. O encontro dessa
mentalidade com a irresponsabilidade de grupos de manifestantes que se julgam
autores de uma revolução política pode resultar em tragédia.
Ações
ilegais
Se algum fato mais grave vier a ocorrer em futuras
manifestações, pode-se contar como grande a probabilidade de haver alguns
desses policiais envolvidos. Portanto, a responsabilidade pelo que virá a
partir de segunda-feira (17/6), quando nova manifestação está marcada para o
Largo da Batata, na zona oeste de São Paulo, tem um peso maior na Secretaria de
Segurança Pública.
Isso não quer dizer que a prefeitura e os líderes
do Movimento Passe Livre, bem como os dirigentes dos partidos cujas bandeiras
são agitadas por alguns ativistas, estejam isentos de arcar com sua parte na
tarefa de prevenir o desastre.
A imprensa, que finalmente despertou para o fato de
que há vândalos em ambos os lados do conflito, pode ajudar a identificar os
comandantes dessas ações ilegais, assim como tem sabido apontar os autores de
depredações durante os protestos.
Foi preciso que alguns jornalistas sofressem a
violência no próprio corpo para que os jornais se dessem conta de que nem tudo
é o que parece.
Luciano Martins Costa – 14.06.2013
Comentário para o programa radiofônico do Observatório.
IN Observatório de Imprensa, ed. 750 – http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/uma_virada_na_cobertura