O drama da maioria é
parecido. Eles viram carne podre na máquina emperrada do
judiciário paulista, ineficiente, um castelo de cartas
carcomidas, formada por juízes que parecem muito eficazes em superlotar o
sistema, mas que não concedem os direitos de progressão e de cumprimento de
pena garantidos pelo processo de execução penal. “Apodreçam!” É a sentença.
Bruno Paes Manso
Dia de jogo do Brasil e Panamá. Véspera de Copa do Mundo. São
13 horas no CDP III de Pinheiros, onde quatro raios superlotados
comportam 1.850 homens. O prédio foi feito, na verdade, para 572
pessoas. É hora do banho de sol e todos estão do lado de fora. Em cada um dos
pátios, retângulos menores que uma quadra de salão, os presos jogam
futebol num ambiente de Maracanã lotado. Cinco jogadores para cada lado. Os
demais 1.810 presos apenas observam. O público é maior do que muitos jogos da
maioria dos campeonatos regionais do Brasil.
Eu e mais três colegas, André, Nikolaos e Rafael, pesquisadores do
Núcleo de Estudos da Violência da USP, entramos em duas das quadras,
acompanhando do padre Valdir João da Silveira, padre Eugênio e Marcelo
Naves, da Pastoral Carcerária, para conhecer mais de perto a realidade do
sistema penitenciário paulista. Há um misto de tensão e curiosidade na entrada.
Qual o efeito que a presença de quatro extraterrestres, chegando do nada,
apresentados como estudantes da USP, pode ter naquela massa abandonada?
Descobrimos logo ao entrar. Eu carrego um bloquinho de anotação e
uma caneta bic. É o suficiente para seja visto como uma boia jogada ao mar no
meio de um naufrágio. Eles vão nos rodeando aos poucos. Bastava demonstrar
algum interesse pelas histórias para que começassem uma fila de
lamentações. Trajetórias trágicas que quase sempre se repetem, apesar
de serem acusados por tipos de crime diferentes.
(...)
Para continuar a leitura, acesse – http://blogs.estadao.com.br/sp-no-diva/senhor-anota-meu-nome-e-minha-matricula-o-lugar-esquecido-pelos-juizes/
Bruno Paes Manso – Formado em economia (USP) e jornalismo (PUC-SP), trabalhou por dez
anos como repórter no jornal O Estado de S. Paulo. Também atuou na Revista
Veja, Folha da Tarde e Folha de S. Paulo. Atualmente faz pós-doutorado no
Núcleo de Estudos da Violência da USP. Concluiu o mestrado e doutorado no
departamento de ciências políticas da Universidade de São Paulo, onde pesquisou
o crescimento e a queda dos homicídios em São Paulo. É autor do livro O Homem X
- Uma reportagem sobre a alma do assassino em SP, que ganhou o Premio Vladimir
Herzog de melhor livro reportagem de 2006 – 04.06.2014
IN São Paulo no Divã – blog Estadão.