texto publicado por Antonio Candido em
1972, apoia-se em Kafka, Dostoievski e no cinema para dizer: instituição
policial “já não tem necessidade de motivos, mas apenas de estímulos”.
Antonio Candido
Balzac, que percebeu tanta coisa, percebeu também qual era o papel que a
polícia estava começando a desempenhar no mundo contemporâneo. Fouché a tinha
transformado num instrumento preciso e onipotente, necessário para manter a
ditadura de Napoleão. Mas criando dentro da ditadura um mundo paralelo, que se
torna fator determinante e não apenas elemento determinado.
O romancista tinha mais ou menos dezesseis anos quando Napoleão caiu, e
assim pôde ver como a polícia organizada por Fouché adquirira por acréscimo
(numa espécie de desenvolvimento natural das funções) o seu grande papel no
mundo burguês e constitucional que então se abria: disfarçar o arbítrio da vontade
dos dirigentes por meio da simulação de legalidade.
A polícia de um soberano absoluto é ostensiva e brutal, porque o soberano
absoluto não se preocupa em justificar demais os seus atos. Mas a de um Estado
constitucional tem de ser mais hermética e requintada. Por isso, vai-se
misturando organicamente com o resto da sociedade, pondo em prática um modelo
que se poderia chamar de “veneziano” — ou seja, o que estabelece uma rede sutil
de espionagem e de delação irresponsável (cobertas pelo anonimato) como
alicerce do Estado.
(...)
Para
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Antônio Cândido – janeiro de 1972.
Texto publicado originalmente no jornal “Opinião”.