Economia da região continua crescendo
como no início do ano, ao contrário do Sudeste
Folha de São Paulo
A economia da região Nordeste continua crescendo num passo acelerado,
descolada do resto do país e sem sentir os efeitos das medidas adotadas pelo
governo para esfriar a atividade econômica e combater a inflação.
Enquanto os Estados nordestinos foram impulsionados por investimentos do
governo federal e de empresas privadas, o enfraquecimento da indústria e o
aumento das taxas de juros fizeram o Sul e o Sudeste trocar de marcha.
De acordo com projeções do Banco Central, a economia brasileira cresceu
1,1% no primeiro trimestre do ano e 0,7% no segundo trimestre, sempre em
relação ao período imediatamente anterior.
O Sudeste cresceu 1,4% no primeiro trimestre e 0,6% no segundo, segundo
o BC. No Nordeste, a economia manteve no segundo trimestre o mesmo ritmo do
começo do ano, crescendo 1,6%.
O Nordeste é a região em que a presidente Dilma Rousseff alcançou sua
melhor votação na eleição do ano passado. Lá, seu governo obtém índices de aprovação
maiores do que os de outras regiões, segundo o Datafolha.
O aumento dos juros e outras medidas do governo atingiram com mais força
o Sul e o Sudeste porque a oferta de crédito é maior nessas regiões e sua
economia depende mais da indústria, abalada pela competição com produtos
importados e pela turbulência global.
Enquanto isso, o Nordeste virou destino de vultosos investimentos como
os do porto de Suape, na região metropolitana de Recife, onde estão previstos
aportes de R$ 24 bilhões até 2014, a maior parte de empresas privadas.
Isso ajuda a explicar por que a taxa de desemprego na capital alcançou
6,3% no mês passado, bem abaixo da sua média histórica, superior a 10%, nota a
economista Tânia Bacelar, da Universidade Federal de Pernambuco.
"Pernambuco está recebendo um volume de investimentos equivalente a
toda riqueza que produz em um ano", diz ela. "Isso gera um impacto
muito forte na economia local, que é relativamente pequena perto de Estados
como São Paulo."
Renda extra
As obras da ferrovia Transnordestina empregam 11,5 mil pessoas em
Pernambuco, no Ceará e no Piauí. No Maranhão, a mineradora Vale investe na
ampliação do porto de Ponta da Madeira e da Estrada de Ferro Carajás.
A renda extra assegurada pelos programas sociais do governo federal
também faz diferença na economia local. Metade das 13 milhões de famílias
atendidas pelo Bolsa Família vive no Nordeste.
Em abril, o governo reajustou os benefícios do programa em 19,4%, ao
mesmo tempo em que iniciou um esforço para conter os gastos federais em outras
áreas, sobretudo os investimentos.
O economista Carlos Azzoni, da Universidade de São Paulo, explica que os
investimentos e os programas sociais ajudam o Nordeste a amortecer o impacto da
desaceleração da economia. "Além disso, este ano não teve seca, fenômeno
que teria impacto negativo", diz.
Mas o Nordeste não está completamente imune ao esfriamento da economia
nas regiões mais desenvolvidas do país. A economia local deve perder o ritmo
até o fim do ano, ainda que em menor intensidade, afirma Azzoni.
"A região sempre acompanha o que acontece no Brasil", diz
Bacelar, da UFPE. "Se o país entrar numa desaceleração maior, não será
diferente com o Nordeste."
Folha de São Paulo – 28.08.2011
IN “Folha de S. Paulo” – (Portal “Cidade
Verde”) http://www.cidadeverde.com/nordeste-mantem-ritmo-de-crescimento-e-descola-do-pais-83162