A figura da garantia não existe nos empréstimos com cartão, o que o torna um fator extremamente atraente para os micros e pequenos empresários.
Vera Saavedra Durão
O avanço para 33% na participação das micros, pequenas e médias
empresas nos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) este ano é em grande parte mérito do Cartão BNDES, produto de
maior sucesso do banco nos últimos dois anos. De janeiro a julho de 2010 essa
modalidade respondia por 2,8% do total de desembolsos da instituição. No mesmo
período deste ano, o peso dobrou e chegou a 5,3% dos R$ 69 bilhões liberados
até julho.
Ricardo Albano Dias Rodrigues, chefe do Departamento de Operações de
Internet, que opera o dinheiro de plástico do banco, prevê fechar o ano com um
desembolso de R$ 7,5 bilhões nos empréstimos via cartão, um recorde. Se
confirmado, o valor vai representar um aumento de 80% em relação aos R$ 4,3
bilhões liberados em 2010. “Até meados de setembro já desembolsamos R$ 5,2
bilhões”, adiantou.
Criado no fim dos anos 90 por Milton Dias, funcionário do BNDES, para
facilitar a vida dos pequenos empresários, o instrumento de crédito destinado
às micros, pequenas e médias empresas para aquisição de produtos para
desenvolver suas atividades, entrou em operação em 2003, na gestão Carlos Lessa.
E se popularizou na crise financeira, em 2009. Nos últimos dois anos, a procura
não para de crescer.
O cartão é uma linha de crédito pré-aprovada, com limite de até R$ 1
milhão por banco emissor (Banco do Brasil, Caixa Economica Federal, Banrisul,
Bradesco e Itaú), com prestações fixas, prazo de pagamento de três a 48 meses e
taxa de juro baseada nas Letras do Tesouro Nacional (LTNs), divulgada
mensalmente no Portal de Operações do Cartão BNDES. A taxa de setembro é de
0,98% (12,45% para um ano). Apesar de superar a Selic, os usuários não
reclamam.
Essa taxa de juro é cheia e remunera o BNDES e o agente financeiro. O
agente ou banco emissor é quem repassa os recursos do BNDES para o usuário do
cartão, na modalidade operação indireta. O proprietário do cartão pode
solicitar crédito até o limite máximo de R$ 1 milhão para cada banco emissor.
Na prática, o valor médio do limite de crédito concedido tem sido de R$ 47 mil
e R$ 15 mil o do tíquete médio de compras.
A figura da garantia não existe nos empréstimos com cartão, o que o
torna um fator extremamente atraente para os micros e pequenos empresários. “O
risco é 100% do agente. O BNDES e o fornecedor têm risco zero. O fornecedor do
cartão recebe à vista, mesmo que o cliente não pague. Até agora não temos caso
de inadimplência”, disse Rodrigues.
Até setembro, o banco emitiu 455 mil cartões, equivalente a um crédito
concedido de R$ 20,8 bilhões. A tendência é de o número de usuários continuar
crescendo. Existem 34 mil fornecedores à disposição dos usuários nos setores de
comércio, serviço e indústria, que ofertam 170 mil produtos. Os itens mais
procurados pelos usuários – pessoas jurídicas de capital nacional – são
computadores, softwares, máquinas e equipamentos, veículos utilitários e
motocicletas para serviços de entrega, móveis comerciais e material de
construção.
O banco está entusiasmado com a aceitação que vem tendo o cartão entre
micros e pequenas empresas e estuda ampliar a gama de serviços que podem ser
financiados pelo dinheiro de plástico. Hoje, os setores de comércio e serviços
abrangem 70% dos negócios. As transações com a indústria representam entre 20%
a 25%. “Estamos estudando financiar serviço de qualificação de mão de obra para
construção civil, bem como para outros setores. Atualmente só é financiado pelo
cartão o serviço de qualificação de trabalhadores para o setor de turismo por
causa dos eventos da Copa do Mundo de futebol de 2014 e da Olimpíada de 2016.”
Há também planos para aumentar a cobertura do cartão para 100% do
território nacional. As operações feitas entre 2010 e 2011 beneficiaram
empresas de 4.495 municípios brasileiros, ou 81% do total dos 5.500. As compras
em sua maioria são regionais, feitas nos locais onde vivem os pequenos
empresários. A meta é chegar a 100% dos municípios até 2012.
Vera Saavedra Durão – 26.09.2011
IN “Valor Econômico (A4)
– http://www.valor.com.br/brasil/1016684/microempresa-descobre-o-cartao-bndes
Capital de giro mais
'barato' atrai pequenas empresas
A possibilidade de financiar capital de giro a uma
taxa de juros bem mais baixa do que a média encontrada no mercado é o principal
fator que tem levado micro e pequenos empresários a buscar o Cartão BNDES.
Carlos Giffoni
Eles já representam 98% do total de usuários dessa linha de crédito e
pagaram, em setembro deste ano, uma taxa anualizada de 12,41%. A taxa média
anual para capital de giro no sistema financeiro é de 30%, segundo dados do
Banco Central.
Além do crédito farto, que pode chegar a até R$
1 milhão por banco que fornece o cartão, e da falta de burocracia para
conseguir o financiamento, um atrativo que brilha aos olhos dos pequenos
empresários é o prazo aplicável para pagamento: 48 meses. Mesmo com essa
vantagem, empresários consultados pelo Valor preferem liberar o limite de seus
cartões e pagar parcelas maiores. Assim, em momentos de emergência, o crédito
fácil, e barato, está disponível.
"O cartão articula a administração das
finanças da empresa", diz Abilio Duarte, sócio da rede de mercados
EconoMax. Ele usa o seu limite de R$ 1 milhão para comprar equipamentos de
armazenamento, carrinhos, material elétrico e sistemas de ar condicionado.
"Com o cartão, consigo fazer investimentos mesmo sem poder quitá-los no
curto prazo. Deixo de gastar grandes quantias com bens duráveis e disponibilizo
recursos para outros investimentos."
Carlos Mills é sócio de uma gravadora de
CD"s e DVD"s. A Mills Records dobrou o faturamento desde 2008, quando
adquiriu o cartão. "O setor musical está passando por uma crise e as
vendas demoram a ser feitas, assim como os pagamentos. O cartão me liberou
capital de giro", diz.
O empresário, porém, lamenta algumas limitações
do cartão. "Não posso usá-lo para a produção musical, o que engloba
gravação, mixagem e masterização. E boa parte do material com que trabalho é
importada, mas o cartão só permite a compra de itens nacionais", diz ele.
Os R$ 30 mil de crédito que Mills tem
disponíveis são usados exclusivamente na replicação das mídias. A gravadora
envia um CD ou DVD finalizado para uma fábrica que faz milhares de cópias
daquele produto - e o serviço é pago com o cartão. "Potencialmente o meu
lucro agora é bem maior, mas nem sempre as vendas correspondem. Ter mais CDs
para vender não quer dizer que eles serão vendidos."
"A grande vantagem é que nem precisei de
avalista", diz Antonio Polidoro, produtor de café. "Pude reformar o
barracão de armazenamento, comprar torradores e outros equipamentos novos. R$
200 mil fazem diferença para um pequeno empresário, principalmente se você
puder parcelar o pagamento." O próximo passo do agricultor é comprar um
veículo para transporte do café, uma vez que suas vendas estão aumentando.
"O meu negócio cresceu 100%."
A segurança garantida quando a compra é
realizada com o Cartão BNDES é um atrativo para os fornecedores. A fabricante
de bombas e filtros para piscinas Dancor entrou na lista de empresas que
aceitam o cartão como forma de pagamento a pedido dos próprios clientes: "Vários
nos procuraram quando ficaram sabendo sobre a possibilidade de pagamento com
esse cartão", diz Sandra Dias, analista financeira da empresa.
No caso da Dancor, a carteira de clientes não
aumentou desde que eles entraram para o cadastro do BNDES, mas também não
diminuiu: "Muitos clientes migraram para o cartão e hoje, menos de dois
anos depois, as vendas através dele representam 10% do nosso faturamento",
afirma Dias. Como benefício, ela aponta o controle da inadimplência: "A
segurança total no recebimento é o diferencial dessa forma de pagamento".
A Dancor também atua do outro lado do jogo: "Usamos o cartão para comprar
motores, que são a chave do nosso produto", diz Dias.
O Grupo LC, que atua no setor de transportes e
faz serviços de armazenamento, aumentou o seu crédito até chegar ao limite
máximo, de R$ 1 milhão, para uma de suas empresas, a Translute Transportes
Rodoviários, e R$ 800 mil para a LC Logística. "Começamos com limites
menores e fomos aumentando gradualmente, já que mais fornecedores passaram a
aceitar o cartão", explica Suzeli Sampaio, supervisora financeira do
grupo, que gerencia os cartões há três anos.
O limite alto permitiu que a Translute comprasse
quatro carretas no primeiro semestre de 2011 por R$ 90 mil cada. "Se eu
tivesse feito um financiamento normal, até mesmo via BNDES, gastaria até R$ 30
mil a mais", calcula a supervisora financeira, o que representaria mais de
8% de diferença em relação ao preço final pago pelos veículos. "Compro de
tudo com o cartão: caminhões, móveis, sistemas. A tendência é usar os 100% de
limite que a empresa tem, já que a abrangência do cartão é muito boa e as taxas
de juros são baixas", diz Suzeli. Para liberar rapidamente o limite, ela
opta por parcelas maiores, o que permite uma margem de trabalho com o crédito
disponível.
Apesar de todos os benefícios apontados, ela tem
encontrado um problema quando usa o cartão. "Principalmente no setor de
veículos, os fornecedores estão repassando uma taxa sobre o preço final do
produto para o usuário do cartão. No caso da Translute, sabemos que não é fácil
conseguir um caminhão no curto prazo, então ficamos rendidos ao fornecedor que
tem o veículo disponível". "Para eles [fornecedores], o pagamento com
o cartão é um negócio mais seguro, o risco de calote é zero. Falta esse
entendimento", diz Suzeli.
O BNDES ameaça excluir do seu cadastro empresas
que têm esse tipo de comportamento, mas, como no caso do Grupo LC, às vezes é
mais confortável se submeter a esse tipo de situação do que perder o
fornecedor. "Ainda assim, as carretas saíram mais baratas. Não
conseguiríamos preço compatível no mercado", afirma a supervisora.
Carlos Giffoni – 26.09.2011
IN “Valor Econômico” – http://www.valor.com.br/brasil/1016688/capital-de-giro-mais-barato-atrai-pequenas-empresas