segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

A ficção da neutralidade e o poder moderador


A propalada neutralidade do poder independente foi, contudo, fazendo água ao longo da crise. Os juízes supremos decidem constrangidos por regras jurídicas, é verdade, mas também têm feito escolhas de natureza política, o que ficou patente no impeachment de presidente eleita pelo voto popular, sem que houvesse crime palpável. Politização da Justiça reiterada na deliberação acerca do destino do presidente do Senado.
Em vez de funcionar como a baliza neutra, o Supremo tem tomado partido, desnorteando os atores políticos e mesmo a parte da sociedade que o respaldava no papel de árbitro-mor.
As instituições fazem política, todas elas, assim como os indivíduos que as ocupam. Não existe poder infenso a interesses, valores e paixões. 

Ângela Alonso
“Não há mais bela ficção no direito constitucional do que imaginou Benjamim Constant com o seu Poder Moderador. O que a América do Sul precisa é um extenso Poder Moderador, um poder que exerça a função arbitral entre partidos intransigentes.” Essa era a opinião de Joaquim Nabuco, em “Balmaceda” (1895), que tratava do Chile e, obliquamente da crise brasileira de inícios da República. O Império julgava, o imperador encarnava esse quarto poder, plainando acima das paixões partidárias e, por isso, capaz de dirigi-las para o bem do país.
A tese da necessidade de um poder moderador como estabilizador da ordem política para além da lógica partidária e da instabilidade produzida por sua ausência fez carreira no Brasil. Comparece em vários intérpretes da política desde os tempos de Nabuco.
O princípio reapareceu transfigurado no debate dos últimos anos. Com uma nuance: na ausência de quarto poder formal, recorreu-se ao terceiro. O Judiciário operaria como poder moralizador, capaz de dar linha ética aos partidos.
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Ângela Alonso – Socióloga, Professora da USP e Presidenta do Cebrap – 18.12.2016.
IN Folha de São Paulo.
  

sábado, 28 de janeiro de 2017

Precisamos falar sobre a vaidade na vida acadêmica


Combater o mito da genialidade, a perversidade dos pequenos poderes e os "donos de Foucault" é fundamental para termos uma universidade melhor.

Rosana Pinheiro-Machado
A vaidade intelectual marca a vida acadêmica. Por trás do ego inflado, há uma máquina nefasta, marcada por brigas de núcleos, seitas, grosserias, humilhações, assédios, concursos e seleções fraudulentas. Mas em que medida nós mesmos não estamos perpetuando esse modus operandi para sobreviver no sistema? Poderíamos começar esse exercício auto reflexivo nos perguntando: estamos dividindo nossos colegas entre os “fracos” (ou os medíocres) e os “fodas” (“o cara é bom”).
As fronteiras entre fracos e 'fodas' começam nas bolsas de iniciação científica da graduação. No novo status de bolsista, o aluno começa a mudar a sua linguagem. Sem discernimento, brigas de orientadores são reproduzidas. Há brigas de todos os tipos: pessoais (aquele casal que se pegava nos anos 1970 e até hoje briga nos corredores), teóricas (marxistas para cá; weberianos para lá) e disciplinares (antropólogos que acham sociólogos rasos generalistas, na mesma proporção em que sociólogos acham antropólogos bichos estranhos que falam de si mesmos).
A entrada no mestrado, no doutorado e a volta do doutorado sanduíches vão demarcando novos status, o que se alia a uma fase da vida em que mudar o mundo já não é tão importante quanto publicar um artigo em revista qualis A1 (que quase ninguém vai ler).
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Rosana Pinheiro-Machado – Cientista social e antropóloga. Professora do departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Oxford – 24.02.2016.
IN Carta Capital.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Gilmar Mendes e a Bolsa


O raciocínio [de gilmar mendes] é simples e conhecido: receber renda do governo [bolsa-família] atesta dependência e incapacidade para juízo autônomo.
Ao ouvir as advertências estridentes e insistentes do ministro-presidente não há como ignorar as justificativas que por muito tempo ampararam a negação do direito de voto aos mais pobres. A remissão é imediata, inescapável. O argumento clássico associa pobreza à propensão à corrupção. O carente não teria força ou razões para resistir às investidas dos que querem comprar seu voto e sua consciência. Quem não tem sua sobrevivência assegurada, os que não possuem propriedade, seriam presas fáceis de políticos inescrupulosos e ambiciosos. Assim, em nome da preservação da moralidade politica, deveriam ser mantidos à margem da política.
A matriz elitista do argumento é clara. Os membros da elite projetam uma imagem elevada de si mesmos.

Fernando Limongi
Gilmar Mendes, na sexta-feira, voltou a atacar o programa Bolsa Família, afirmando que o TSE não estaria "aparelhado para lidar com esta nova forma de compra de votos". A crítica não é nova. O ministro-presidente usou os mesmos termos em palestra no ano passado sem obter repercussão. Desta vez recebeu os holofotes esperados. Sua diatribe foi manchete.
Para o ministro-presidente, o Bolsa Família representaria um grande risco à democracia no Brasil, abrindo a "possibilidade de uma fidelização política" que, no limite, permitiria a "eternização no poder" de um grupo político. Para evitar estes males, recorreu ao mantra: Reforma Política Já! Não propôs medidas concretas. A reforma nos salvará, qualquer seja.
Gilmar não condenou o programa. Não contestou a possibilidade de que o governo adote políticas de transferência de renda para combater a pobreza. Tampouco falou em inclusão de beneficiados baseado em critérios políticos. Não é isto que parece preocupá-lo. O questionamento se dirige às consequências políticas do Bolsa Família para a competição partidária. O programa criaria um "eleitorado cativo". O ministro-presidente, uma vez mais, mostrou que não tem papas na língua. Evitou o jargão jurídico e optou por termos da luta política. Não falou em "captação de sufrágio" definida em lei ou se referiu à possibilidade de clientelismo. Evitou eufemismos e dúvidas. Deu como certa a emergência de uma forma "moderna", "massiva" de compra de votos.
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Fernando Limongi – Cientista Político, professor da USP e pesquisador do Cebrap – 20.10.2016.
In Valor Econômico.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

"Problema central é encarceramento em massa, e não facções"


Paulo César Malvezzi Filho – “O que está no cerne do problema que vivenciamos hoje é o encarceramento em massa. As facções são o resultado óbvio desse processo. Você tem um sistema prisional que se expande em ritmo acelerado e em condições de absoluta degradação. O surgimento de facções, de organização dos presos, é algo absolutamente natural. A disputa dessas facções por controle também é algo natural e previsível. Para nós não é nenhuma surpresa. O problema não está nas facções. O problema está no fato de que o Estado se propôs a encarcerar um número absurdo de pessoas em condições que são piores do que animais. O que nos preocupa é a redução desse debate a uma briga de facções”. 

DW Brasil
Formalmente constituída no Brasil em 1986, a Pastoral Carcerária, braço da Igreja Católica diretamente ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é a organização que melhor conhece o sombrio mundo dos presídios brasileiros. Em entrevista à DW Brasil, o assessor jurídico da Pastoral, Paulo Cesar Malvezzi Filho, critica o que chama de debates simplistas sobre a situação nas prisões e afirma que a mídia alimenta "fantasias" sobre a rivalidade entre facções criminosas.
Segundo ele, o confronto entre esses grupos dentro do cárcere não é a explicação central para as matanças ocorridas neste mês em Manaus e Roraima. "O que está no cerne do problema que vivemos hoje é o encarceramento em massa. O problema não está nas facções. As facções são o resultado óbvio deste processo. Você tem um sistema prisional que se expande em ritmo acelerado em condições de absoluta degradação", afirmou.
Em 2013, a então presidente Dilma Rousseff recebeu da coordenação nacional da Pastoral a Agenda Nacional pelo Desencarceramento, em que são sugeridas dez ações para reduzir a população carcerária e remodelar a lógica do sistema. Um dos eixos da proposta é a descriminalização das drogas. "Mesmo a Pastoral sendo uma organização da Igreja, temos defendido abertamente a descriminalização do uso e do comércio. Simplesmente descriminalizando o uso e o consumo você tira 30% das pessoas das cadeias do país."
Segundo o assessor jurídico da Pastoral, nenhum governante recente do Brasil defendeu a tese do desencarceramento. Tanto no governo do presidente Michel Temer como nos anteriores, sustenta, o cárcere é apresentado como a resposta para conter a criminalidade e resolver conflitos sociais. "Não há nenhuma força político-partidária no Brasil que defenda hoje uma política de desencarceramento."
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DW Brasil – 12.01.2017.
Paulo César Malvezzi Filho – Assessor da Pastoral Carcerária.
DW Brasil.


sábado, 21 de janeiro de 2017

‘Tenentes de toga comandam essa balbúrdia jurídica’, afirma cientista político

Segundo Luiz Werneck Vianna, pesquisador da PUC-Rio, MP e Judiciário alimentam crise política para reforçar seus interesses corporativos:
“O fato é que se criou, nesses últimos anos, uma cultura corporativa muito poderosa [no Judiciário e no Ministério Público]. Se você fizer um recenseamento dessas corporações, dos seus encontros anuais, são milhares de profissionais que anualmente se reúnem em algum canto, em geral paradisíaco, para definir a sua agenda, do ponto de vista corporativo. E os partidos não têm penetração, não têm inclusão. São figuras mantidas à margem. 
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Elas só existem desse jeito destravado, sem freios, porque as instituições republicanas recuaram. E o presidencialismo de coalizão teve responsabilidade nisso. Porque rebaixou os partidos, fez dos partidos centros de negócio”.

Wilson Tosta
RIO - O cientista político Luiz Werneck Vianna, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, vê “uma inteligência” – a das corporações jurídicas, como o Ministério Público e o Judiciário – no comando da crise política que assola o País. “Essa balbúrdia é provocada e manipulada com perícia”, diz, ao se referir à divulgação de casos de corrupção envolvendo políticos. 
Para ele, procuradores e juízes são “tenentes de toga” – uma comparação com os jovens militares dos anos 1920 –, mas, diferentemente dos revolucionários fardados do passado, não têm programa além de uma “reforma moral” do País. 
Os vazamentos de delações de executivos da Odebrecht caíram como uma bomba na classe política. O que podemos esperar da crise, que parece não ter fim?
Essas coisas não estão acontecendo naturalmente. Não são processos espontâneos. A esta altura, a meu ver, não há dúvida de que há uma inteligência organizando essa balbúrdia. Essa balbúrdia é provocada e manipulada com perícia. 
Mas quem faz isso? O Ministério Público? O Judiciário? 
Essas corporações tomaram conta do País. 
Estão se sobrepondo ao sistema político?
Sim, claramente. E também ganhando mais poder. Na defesa dos interesses públicos, reforçam suas conquistas corporativas. Então não se pode mexer na questão do teto salarial.
Os partidos acabaram?
Não acabaram. Estão aí. Estão muito enfraquecidos e sendo objeto deste achincalhe. 
Mas as posições defendidas por esses setores têm sustentação na sociedade, não?
Esse andamento não foi previsto. Foi sendo percebido ao longo do processo. Uma coisa sabiam: que a conquista da mídia era estratégica. Se você pegar os textos que embasam as ações da Lava Jato, lá nos escritos do juiz Sérgio Moro, vai ver a percepção que eles tinham a respeito da mídia como dimensão estratégica. As ruas foram o inesperado, mas que aos poucos foi-se descobrindo como outra dimensão a ser trabalhada. Então, montou-se uma rede, que hoje já não atua mais espontaneamente. Esse processo é, a essa altura, governado. Imprime-se a ele uma certa direção. Agora, para quê, para onde, acredito que eles não sabem. 
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Wilson Tosta – 20.12.2016.
Luiz Werneck Vianna – Professor e pesquisador da PUC-Rio.
IN O Estado de São Paulo.


quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Golpe no Paraguai: 4 anos de devastação social e econômica neoliberal



A primeira ação dos golpistas paraguaios foi atacar os movimentos sociais. Estava anunciado o tom do próximo governo.

Mariana Serafini
O presidente Horacio Cartes foi eleito pouco mais de um ano depois do golpe. Com margem estreita frente aos golpistas do Partido Liberal Radical Autêntico, o Partido Colorado voltou ao poder, depois dos quatro anos de Lugo. Era o fim do curto ciclo progressista e uma volta triunfal do neoliberalismo, com toda a legitimidade que um Estado democrático garante. 
O economista paraguaio Gustavo Codas, que ocupou a diretoria geral da usina hidrelétrica Itaipu Binacional no período de 2010 a 2011, conversou com o Vermelho sobre como está seu país quatro anos após o golpe de Estado. “O golpe foi dado, supostamente, com o argumento de que o governo Lugo estava ‘pisoteando’ as instituições da República. Mas hoje, quatro anos depois, o país está entregue em um quadro muito preocupante. O contrabando, o narcotráfico e o crime organizado não somente têm penetrado nas instituições, como parecem completamente fora de controle. Obviamente isso não é de hoje, mas o descontrole completo é uma novidade”. 
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Mariana Serafini – 23.06.2016.
IN Carta Maior.


terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Desigualdade de gênero na América Latina e no Caribe desacelera crescimento regional, diz ONU


O relatório indica que, na América Latina e no Caribe, as mulheres ganham, em média, 19% a menos que os homens para desempenhar o mesmo trabalho. Segundo a ONU, mais da metade das empresas na região não possuem nenhuma mulher em posição de liderança. Menos de 20% das posições de liderança de empresas na América Latina são ocupadas por mulheres. 

Redação do Opera Mundi
A ONU afirmou nesta segunda-feira (14/12) que a desigualdade de gênero no mercado de trabalho latino-americano desacelera o crescimento da região. A Organização das Nações Unidas divulgou hoje seu relatório anual sobre desenvolvimento humnao, que aponta os índices de desenvolvimento humano (IDH) dos países, e se dirigiram à América Latina especialmente quanto à disparidade econômica e social entre homens e mulheres.
“O relatório confirma que as mulheres na América Latina e no Caribe se deparam com o desafio triplo de trabalhar fora de casa, cuidar dos filhos e, cada vez mais, dos mais idosos, o que aumenta o nível de trabalho não remunerado”, afirmou Jessica Faieta, diretora regional do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) na América Latina.
Segundo Faieta, é necessário que a região discuta a questão de que as mulheres são responsáveis pelos cuidados familiares, o que considera “um importante passo para que ninguém fique para trás”.
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Para acessar o relatório, acesse http://report.hdr.undp.org/




Redação – 14.12.2015.
IN Opera Mundi.

domingo, 15 de janeiro de 2017

A nova direita brasileira surge na onda anti-PT e quer se descolar da velha direita desenvolvimentista


Camila Rocha – “A direita pensa diferente, inclusive, sobre o próprio conceito do que é democracia, porque nas discussões um pouco mais aprofundadas, em um debate mais teórico e filosófico, existem diferenças marcantes na própria concepção do que seria democracia, o que seria liberdade e autonomia. Nesses aspectos existem diferenças marcantes entre esquerda e essa nova direita.
(...)
 No limite, é possível dizer que na medida em que a Esquerda valorizaria muito a democracia e os próprios processos de democratização, enquanto a dIREITA, não. Para ela, nós chegamos até aqui, numa situação em que todos têm direito ao voto, mas de quatro em quatro anos a pessoa vota e volta para casa, ou seja, ela não é favorável à extensão desse processo de democratização. Alguns segmentos são até mais reacionários, acreditam ser necessário voltar para trás, porque tem muita participação da sociedade, e outros são mais razoáveis, acreditam que a participação deveria ser mais ordenada. Não é à toa que, mesmo defendendo o Estado mínimo, a maior parte deles é favorável a que o Estado detenha o controle das forças de repressão, como exército e polícia, justamente para manter o controle. São raros os que vão falar em privatização das forças de segurança”.


Patrícia Fachin
O movimento político que se convencionou chamar de a “nova direita” no Brasil vem se constituindo desde o início dos anos 2000, em fóruns de discussão na internet, nas antigas comunidades do Orkut e, hoje, nas redes sociais, e, “eventualmente, desses fóruns da internet é que saem novos militantes que participarão ou fundarão novas organizações e que participarão de partidos”, diz Camila Rocha, à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por telefone.
Camila Rocha está desenvolvendo sua pesquisa de doutorado na USP, que tem como mote analisar a direita liberal dos anos 1980, sua militância e de que modo elas atuam na sociedade civil e na política nos dias atuais e a partir disso faz uma comparação entre o modo de atuação nos anos 80 e nos dias de hoje. Neste cenário, ela acaba acompanhando a militância da nova direita que, “um pouco antes de junho de 2013”, passou a ter mais “capacidade de atração”. “Várias das lideranças e militantes da nova direita viram junho com bons olhos” porque essas manifestações foram “uma oportunidade para eles poderem aparecer mais para o grande público, para atrair militâncias”, relata.
De acordo com Camila, a nova direita é constituída de grupos heterogêneos, que se esforçam para não serem identificados com a velha direita brasileira, que tem origens na Ditadura Militar, no PFL e no PP. “O grosso das pessoas que se identificam como nova direita, ou que pelo menos fariam parte dessa nova direita, tem como novidade negar esse aspecto; eles não querem se identificar, de jeito nenhum, com os governos militares e, mais do que isso, querem se diferenciar, também, alegando que esses governos, para eles, atuavam em moldes estatistas e desenvolvimentistas, o que eles negam em absoluto. Boa parte dos militantes da nova direita diriam que, na verdade, o que eles querem é um modelo de livre mercado e privatizações, que é o oposto do que existia na ditadura militar. Esse corte é importante”, explica.
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Patrícia Fachin – 15.09.2016.
Camila Rocha – Doutoranda em Ciência Política na USP.
IN IHU Online.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O que é importante na escolinha do seu filho - e o que pode ser prejudicial?

 

A creche e a escolinha são muito mais do que apenas os locais onde as crianças passam seu tempo enquanto os pais estão trabalhando.

Paula Adamo Idoeta
A creche e a escolinha são muito mais do que apenas os locais onde as crianças passam seu tempo enquanto os pais estão trabalhando.
O período da educação infantil tem forte impacto no desenvolvimento da criança de zero a seis anos e é capaz, inclusive, de ampliar ou reduzir as desigualdades educacionais e sociais do país: quem frequenta creches de baixa qualidade, públicas ou privadas, acaba partindo de um patamar inferior a quem recebeu estímulos enriquecedores, experiências produtivas e afeto nesse período, dizem especialistas.
"Pesquisas de neurociência comprovam que é nos três primeiros anos de vida que o ser humano alcança o ápice do aprendizado de capacidades como linguagem, memória e atenção, importantes para a vida toda", diz à BBC Brasil Beatriz Ferraz, gerente de educação infantil da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.
"Ela faz conexões cerebrais em alta velocidade. A falta de estímulos nessa fase é um grande desperdício. É muito mais custoso (aprender) mais para frente."
O pesquisador da Faculdade de Economia e Administração da USP de Ribeirão Preto Daniel Santos compilou diversos dados e estudos sobre educação infantil e concluiu que a má qualidade de grande parte da rede brasileira pode prejudicar essas crianças mais adiante, tanto em seu desempenho escolar quanto no desenvolvimento emocional.
Os impactos podem se estender à renda futura dessas crianças e até seu envolvimento com a criminalidade, agrega Alejandra Meraz Velasco, do movimento Todos Pela Educação.
(...)

Para continuar a leitura, acesse http://www.bbc.com/portuguese/geral-36385643










Paula Adamo Idoeta – 02.07.2016.
Da BBC Brasil em São Paulo.
  

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

How Stable Are Democracies? ‘Warning Signs Are Flashing Red’


Their conclusion, to be published in the January issue of the Journal of Democracy, is that democracies are not as secure as people may think. Right now, Mr. Mounk said in an interview, “the warning signs are flashing red.”

Amanda Taub
WASHINGTON — Yascha Mounk is used to being the most pessimistic person in the room. Mr. Mounk, a lecturer in government at Harvard, has spent the past few years challenging one of the bedrock assumptions of Western politics: that once a country becomes a liberal democracy, it will stay that way.
His research suggests something quite different: that liberal democracies around the world may be at serious risk of decline.
Mr. Mounk’s interest in the topic began rather unusually. In 2014, he published a book, “Stranger in My Own Country.” It started as a memoir of his experiences growing up as a Jew in Germany, but became a broader investigation of how contemporary European nations were struggling to construct new, multicultural national identities.
He concluded that the effort was not going very well. A populist backlash was rising. But was that just a new kind of politics, or a symptom of something deeper?
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.nytimes.com/2016/11/29/world/americas/western-liberal-democracy.html?_r=2




Amanda Taub – 29.11.2016.
In The Interpreter (republished in The New York Times).


domingo, 8 de janeiro de 2017

A era da pós-verdade


Expostos a uma mídia que cultiva o pensamento único, os brasileiros não têm essa opção [de escolher a sua opinião]. Não encontram uma segunda opinião para acreditar, visto que a prática basilar do jornalismo, de sempre ouvir o “outro lado” nos assuntos apurados, faz tempo que entrou em desuso por aqui. Não é pelo excesso de versões, portanto, senão pelo seu exato oposto, que a opinião pública nacional desacredita dos fatos e se nutre de factoides imaginários, cevados na ignorância e no preconceito.
(...)
À era da “pós-verdade”, portanto, corresponde um “pós-jornalismo”. Não é mais aquele que duvida, pergunta, reflete, busca interpretar a complexidade do mundo, mas que afirma peremptoriamente, sentencia, reitera, constrói a realidade conforme os lobbies que faz ou defende.

Gabriel Priolli
Uma nova palavra entrou para o léxico mundial em 2016, que fecha o ano em alta, frequentando as mais diversas bocas e páginas do mundo político e jornalístico. É a “pós-verdade”, um elegante étimo composto que pode parecer fruto da mais refinada filosofia contemporânea, mas não vai muito além de “tucanar” a mentira, naquele antigo e consagrado sentido de falar difícil, com sotaque tecnocrático, o que pode ser dito de forma simples e direta.
A “pós-verdade” despontou para a fama graças ao Dicionário Oxford, editado pela universidade britânica, que anualmente elege uma palavra de maior destaque na língua inglesa. Oxford definiu a acepção e mostrou a evolução do termo, observando que ele não foi cunhado neste “annus horribilis” da história humana, mas seu uso cresceu 2.000% nele. O Google registra mais de 20,2 milhões de citações em inglês, 11 milhões em espanhol e 9 milhões em português, uma ideia de seu sucesso.
Na definição britânica, “pós-verdade” é um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. Não seria então, exatamente, o culto à mentira, mas a indiferença com a verdade dos fatos. Eles podem ou não existir, e ocorrer ou não da forma divulgada, que tanto faz para os indivíduos. Não afetam os seus julgamentos e preferências consolidados.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.cartacapital.com.br/











Gabriel Priolli – Jornalista, professor, apresentador e diretor de tevê – 28 de dezembro de 2016.
IN Carta Capital, 933.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Perguntar não ofende



enquanto na esquerda tem gente preocupada em "não aprofundar a crise institucional", na direita a preocupação é outra: com crise, sem crise ou através da crise, o que importa é garantir o principal.

E o "principal" é aprovar a PEC 55, a reforma previdência, a entrega do pré-sal etc e tal.

Enquanto na esquerda tem gente preocupada em não aprofundar a crise institucional, a direita toma medidas que aprofundam a crise social.


Valter Pomar

"Se o que ocorreu ontem [07.12.2016, a recusa de cumprimento de decisão do STF por parte do Presidente do Senado Renan Calheiros] tivesse ocorrido durante o impeachment, o senador [Jorge] Viana:

a) diria não ter condições de assumir a presidência do Senado?

b) renunciaria da primeira vice, para que Jucá assumisse?

c) assumiria e "tocaria a pauta" do impeachment?

d) apoiaria o "Volta Renan"?

e) pediria ao STF que revogasse a liminar, mesmo criando mais um casuísmo jurídico?

f) todas as anteriores?

g) nenhuma das anteriores?

h) aproveitaria a crise para fazer o que fosse possível para defender a democracia e os interesses populares?

Não saberemos nunca o que poderia ter ocorrido naquela ocasião.

Sei o que ocorreu nos últimos dias.
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Valter Pomar – Historiador, membro da Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores e professor da UFABC – 08.12.2016.
IN Blog do Pomar.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

How society pays when woman’s work is unpaid?


Worldwide, women spend an average of 4.5 hours a day on unpaid work, including grocery shopping, child care and laundry. That is more than double the amount of time men spend, according to O.E.C.D. data. Men spend significantly more time on paid work and also on leisure activities, which include playing sports, watching TV and hanging out with friends.

Claire Cain Miller 
In countries around the world, the ways in which men and women spend their time are unbalanced. Men spend more time working for money. Women do the bulk of the unpaid work — cooking, cleaning and child care.
This unpaid work is essential for households and societies to function. But it is also valued less than paid work, and when it is women’s responsibility, it prevents them from doing other things.
“This is one of those root inequalities that exist all over in society and we just don’t talk about it very much,” Melinda Gates, co-founder of the Gates Foundation, said in an interview. She said she was inspired by her own observations when traveling to other countries as well as by time-use datafrom the Organization for Economic Cooperation and Development. “If we don’t bring it forward, we basically won’t unlock the potential of women.”
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Claire Cain Miller – Writer for The Upshot, the Times site about politics, economics and everyday life. She covers gender, work and family as well as technology and the way it changes our lives.  23.02.2016.
IN New York Times.