Expostos a uma mídia que cultiva o pensamento único, os brasileiros
não têm essa opção [de escolher a sua opinião]. Não encontram uma segunda
opinião para acreditar, visto que a prática basilar do jornalismo, de sempre
ouvir o “outro lado” nos assuntos apurados, faz tempo que entrou em desuso por
aqui. Não é pelo excesso de versões, portanto, senão pelo seu exato oposto, que
a opinião pública nacional desacredita dos fatos e se nutre de factoides imaginários,
cevados na ignorância e no preconceito.
(...)
À era da “pós-verdade”, portanto, corresponde um “pós-jornalismo”.
Não é mais aquele que duvida, pergunta, reflete, busca interpretar a
complexidade do mundo, mas que afirma peremptoriamente, sentencia, reitera, constrói
a realidade conforme os lobbies que faz ou defende.
Gabriel Priolli
Uma nova palavra entrou para o léxico mundial em 2016, que fecha o ano em
alta, frequentando as mais diversas bocas e páginas do mundo político e jornalístico.
É a “pós-verdade”, um elegante étimo composto que pode parecer fruto da mais
refinada filosofia contemporânea, mas não vai muito além de “tucanar” a
mentira, naquele antigo e consagrado sentido de falar difícil, com sotaque
tecnocrático, o que pode ser dito de forma simples e direta.
A “pós-verdade” despontou para a fama graças ao Dicionário Oxford,
editado pela universidade britânica, que anualmente elege uma palavra de maior
destaque na língua inglesa. Oxford definiu a acepção e mostrou a evolução do
termo, observando que ele não foi cunhado neste “annus horribilis” da história
humana, mas seu uso cresceu 2.000% nele. O Google registra mais de 20,2 milhões
de citações em inglês, 11 milhões em espanhol e 9 milhões em português, uma
ideia de seu sucesso.
Na definição britânica, “pós-verdade” é um adjetivo “que se relaciona ou
denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar
a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. Não seria
então, exatamente, o culto à mentira, mas a indiferença com a verdade dos
fatos. Eles podem ou não existir, e ocorrer ou não da forma divulgada, que
tanto faz para os indivíduos. Não afetam os seus julgamentos e preferências consolidados.
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Gabriel Priolli – Jornalista, professor, apresentador e diretor de tevê – 28 de dezembro
de 2016.
IN Carta Capital, 933.