segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

"Problema central é encarceramento em massa, e não facções"


Paulo César Malvezzi Filho – “O que está no cerne do problema que vivenciamos hoje é o encarceramento em massa. As facções são o resultado óbvio desse processo. Você tem um sistema prisional que se expande em ritmo acelerado e em condições de absoluta degradação. O surgimento de facções, de organização dos presos, é algo absolutamente natural. A disputa dessas facções por controle também é algo natural e previsível. Para nós não é nenhuma surpresa. O problema não está nas facções. O problema está no fato de que o Estado se propôs a encarcerar um número absurdo de pessoas em condições que são piores do que animais. O que nos preocupa é a redução desse debate a uma briga de facções”. 

DW Brasil
Formalmente constituída no Brasil em 1986, a Pastoral Carcerária, braço da Igreja Católica diretamente ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é a organização que melhor conhece o sombrio mundo dos presídios brasileiros. Em entrevista à DW Brasil, o assessor jurídico da Pastoral, Paulo Cesar Malvezzi Filho, critica o que chama de debates simplistas sobre a situação nas prisões e afirma que a mídia alimenta "fantasias" sobre a rivalidade entre facções criminosas.
Segundo ele, o confronto entre esses grupos dentro do cárcere não é a explicação central para as matanças ocorridas neste mês em Manaus e Roraima. "O que está no cerne do problema que vivemos hoje é o encarceramento em massa. O problema não está nas facções. As facções são o resultado óbvio deste processo. Você tem um sistema prisional que se expande em ritmo acelerado em condições de absoluta degradação", afirmou.
Em 2013, a então presidente Dilma Rousseff recebeu da coordenação nacional da Pastoral a Agenda Nacional pelo Desencarceramento, em que são sugeridas dez ações para reduzir a população carcerária e remodelar a lógica do sistema. Um dos eixos da proposta é a descriminalização das drogas. "Mesmo a Pastoral sendo uma organização da Igreja, temos defendido abertamente a descriminalização do uso e do comércio. Simplesmente descriminalizando o uso e o consumo você tira 30% das pessoas das cadeias do país."
Segundo o assessor jurídico da Pastoral, nenhum governante recente do Brasil defendeu a tese do desencarceramento. Tanto no governo do presidente Michel Temer como nos anteriores, sustenta, o cárcere é apresentado como a resposta para conter a criminalidade e resolver conflitos sociais. "Não há nenhuma força político-partidária no Brasil que defenda hoje uma política de desencarceramento."
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DW Brasil – 12.01.2017.
Paulo César Malvezzi Filho – Assessor da Pastoral Carcerária.
DW Brasil.