Camila Rocha – “A direita pensa diferente, inclusive, sobre o próprio conceito
do que é democracia, porque nas discussões um pouco mais aprofundadas, em um
debate mais teórico e filosófico, existem diferenças marcantes na própria
concepção do que seria democracia, o que seria liberdade e autonomia. Nesses
aspectos existem diferenças marcantes entre esquerda e essa nova direita.
(...)
No limite, é possível dizer que na medida em que a
Esquerda valorizaria muito a democracia e os próprios
processos de democratização, enquanto a dIREITA, não. Para ela, nós chegamos
até aqui, numa situação em que todos têm direito ao voto, mas de quatro em
quatro anos a pessoa vota e volta para casa, ou seja, ela não é favorável à
extensão desse processo de democratização. Alguns segmentos são até mais
reacionários, acreditam ser necessário voltar para trás, porque tem muita
participação da sociedade, e outros são mais razoáveis, acreditam que a
participação deveria ser mais ordenada. Não é à toa que, mesmo defendendo o
Estado mínimo, a maior parte deles é favorável a que o Estado detenha o
controle das forças de repressão, como exército e polícia, justamente para
manter o controle. São raros os que vão falar em privatização das forças de
segurança”.
Patrícia Fachin
O movimento político que se convencionou chamar de a “nova direita” no Brasil vem se constituindo desde o início dos anos 2000, em fóruns de discussão
na internet, nas antigas comunidades do Orkut e, hoje, nas redes
sociais, e, “eventualmente, desses fóruns da internet é que saem novos
militantes que participarão ou fundarão novas organizações e que participarão
de partidos”, diz Camila Rocha, à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por telefone.
Camila Rocha está desenvolvendo sua pesquisa de doutorado na USP, que tem como mote analisar a direita liberal dos
anos 1980, sua militância e de que modo elas atuam na sociedade civil e na
política nos dias atuais e a partir disso faz uma comparação entre o modo de
atuação nos anos 80 e nos dias de hoje. Neste cenário, ela acaba
acompanhando a militância da nova direita que, “um pouco antes de junho de
2013”, passou a ter mais “capacidade de atração”.
“Várias das lideranças e militantes da nova direita viram junho com bons olhos”
porque essas manifestações foram “uma oportunidade para eles poderem aparecer
mais para o grande público, para atrair militâncias”, relata.
De acordo com Camila, a nova direita é constituída de grupos heterogêneos, que se esforçam para não serem
identificados com a velha direita brasileira, que tem origens na Ditadura
Militar, no PFL e no PP. “O grosso das pessoas que se identificam como nova direita, ou que pelo
menos fariam parte dessa nova direita, tem como novidade negar esse aspecto;
eles não querem se identificar, de jeito nenhum, com os governos militares e,
mais do que isso, querem se diferenciar, também, alegando que esses governos,
para eles, atuavam em moldes estatistas e desenvolvimentistas, o que eles negam
em absoluto. Boa parte dos militantes da nova direita diriam que, na verdade, o
que eles querem é um modelo de livre mercado e privatizações,
que é o oposto do que existia na ditadura militar. Esse corte é importante”,
explica.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.ihu.unisinos.br/noticias?id=560085:entrevista-especial-com-camila-rocha
Patrícia Fachin – 15.09.2016.
Camila Rocha – Doutoranda em Ciência Política na USP.
IN IHU Online.