domingo, 15 de janeiro de 2017

A nova direita brasileira surge na onda anti-PT e quer se descolar da velha direita desenvolvimentista


Camila Rocha – “A direita pensa diferente, inclusive, sobre o próprio conceito do que é democracia, porque nas discussões um pouco mais aprofundadas, em um debate mais teórico e filosófico, existem diferenças marcantes na própria concepção do que seria democracia, o que seria liberdade e autonomia. Nesses aspectos existem diferenças marcantes entre esquerda e essa nova direita.
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 No limite, é possível dizer que na medida em que a Esquerda valorizaria muito a democracia e os próprios processos de democratização, enquanto a dIREITA, não. Para ela, nós chegamos até aqui, numa situação em que todos têm direito ao voto, mas de quatro em quatro anos a pessoa vota e volta para casa, ou seja, ela não é favorável à extensão desse processo de democratização. Alguns segmentos são até mais reacionários, acreditam ser necessário voltar para trás, porque tem muita participação da sociedade, e outros são mais razoáveis, acreditam que a participação deveria ser mais ordenada. Não é à toa que, mesmo defendendo o Estado mínimo, a maior parte deles é favorável a que o Estado detenha o controle das forças de repressão, como exército e polícia, justamente para manter o controle. São raros os que vão falar em privatização das forças de segurança”.


Patrícia Fachin
O movimento político que se convencionou chamar de a “nova direita” no Brasil vem se constituindo desde o início dos anos 2000, em fóruns de discussão na internet, nas antigas comunidades do Orkut e, hoje, nas redes sociais, e, “eventualmente, desses fóruns da internet é que saem novos militantes que participarão ou fundarão novas organizações e que participarão de partidos”, diz Camila Rocha, à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por telefone.
Camila Rocha está desenvolvendo sua pesquisa de doutorado na USP, que tem como mote analisar a direita liberal dos anos 1980, sua militância e de que modo elas atuam na sociedade civil e na política nos dias atuais e a partir disso faz uma comparação entre o modo de atuação nos anos 80 e nos dias de hoje. Neste cenário, ela acaba acompanhando a militância da nova direita que, “um pouco antes de junho de 2013”, passou a ter mais “capacidade de atração”. “Várias das lideranças e militantes da nova direita viram junho com bons olhos” porque essas manifestações foram “uma oportunidade para eles poderem aparecer mais para o grande público, para atrair militâncias”, relata.
De acordo com Camila, a nova direita é constituída de grupos heterogêneos, que se esforçam para não serem identificados com a velha direita brasileira, que tem origens na Ditadura Militar, no PFL e no PP. “O grosso das pessoas que se identificam como nova direita, ou que pelo menos fariam parte dessa nova direita, tem como novidade negar esse aspecto; eles não querem se identificar, de jeito nenhum, com os governos militares e, mais do que isso, querem se diferenciar, também, alegando que esses governos, para eles, atuavam em moldes estatistas e desenvolvimentistas, o que eles negam em absoluto. Boa parte dos militantes da nova direita diriam que, na verdade, o que eles querem é um modelo de livre mercado e privatizações, que é o oposto do que existia na ditadura militar. Esse corte é importante”, explica.
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Patrícia Fachin – 15.09.2016.
Camila Rocha – Doutoranda em Ciência Política na USP.
IN IHU Online.