quarta-feira, 4 de julho de 2012

Por que o futuro da Europa é importante?



Num cenário conturbado, Grécia e França empurram continente à esquerda, pressionando Alemanha. Se esta ceder, toda conjuntura global mudará.

Immanuel Wallerstein
As eleições nos sistemas parlamentares ocidentais sempre têm a ver com o centro. A situação mais comum é aquela em que existem dois partidos dominantes – um mais à direita e outro mais à esquerda do centro. Existem diferenças entre as políticas que esses partidos colocam em prática quando estão no poder, mas também enormes semelhanças. A eleição nunca expressa uma divisão política profunda. Seu papel é, em vez disso, o de de redefinir e relocalizar o centro – o ponto de alavanca, na gangorra entre os partidos.
Uma situação muito mais rara é o repúdio ao centro e, portanto, aos dois partidos – anteriormente principais – que se posicionam próximos ao ponto central. Esse resultado joga as políticas nacionais em um grande turbilhão, o que por vezes tem impactos consideráveis fora do país.
As últimas eleições na França e na Grécia ilustram bem essas duas situações. Na França, os socialistas derrotaram o partido conservador UMP, e deslocaram o centro. Num cenário caótico do sistema-mundo, e particularmente na União Europeia, o deslocamento o centro na França terá grande impacto. Mas não espere que as políticas reais de François Hollande sejam radicalmente diferentes daquelas de Nicolas Sarkozy.
Na Grécia, aconteceu o contrário. O centro foi dramaticamente repudiado. Os dois maiores partidos – o conservador Nova Democracia e o socialista Pasok – perderam mais de metade dos votos que normalmente obtinham. Somados, caíram de aproximadamente 2/3 para 1/3 do eleitorado. O Pasok despencou para o terceiro lugar, ultrapassado por uma coalizão de partidos mais à esquerda, a Syriza, considerada a grande vencedora da eleição. O tema central das eleições foi o programa de austeridade imposto à Grécia pelas forças estrangeiras, e mais fortemente pela Alemanha. Todos os partidos, exceto os dois tradicionalmente maiores, anunciavam repúdio às medidas de austeridade. O líder da Syriza, Alexis Tsirpas, afirmou que os resultados da eleição anulam o comprometimento do governo anterior com o programa de austeridade.
O que acontecerá nos próximos meses? Na Grécia, como os três partidos com mais votos – Nova Democracia, Syriza e Pasok – não conseguiram formar um governo, haverá novas eleições [em 17/6]. A Syriza pode até ser o primeiro colocado, no próximo pleito. Como o governo grego não receberá mais apoio internacional, não conseguirá pagar os empréstimos. O ministro de relações exteriores da Alemanha já ameaçou uma expulsão da zona do euro. Porém, não existe forma legal de fazer isso. E como a população grega parece pensar que sair da zona do euro não resolveria nada e provavelmente pioraria a situação, haverá um impasse. Os gregos irão sofrer muito. Mas muitos bancos europeus também. Assim como a população alemã, mesmo que esta ainda não esteja consciente disso.
Enquanto isso, haverá novas eleições na França, agora para o Legislativo [em 10 e 17/6]. Analistas preveem uma ampla vitória socialista, porém com significativo contingente de votos para o equivalente francês da Syriza, a Frente de Esquerda. A clara posição de Hollande é que o crescimento europeu deve ter prioridade em relação à austeridade – um desafio direto à posição alemã. Por isso, o centro será ainda mais deslocado para a esquerda.
Os alemães estão agora sob enorme pressão. Existe um descontentamento interno, que leva a perdas eleitorais do partido da chanceler Angela Merkel, o CDU, e sua coalizão neoliberal parceira, a FDP. Os outros partidos social-democratas na Europa foram encorajados pela vitória de Hollande a se moverem de algum modo para a esquerda. Os dois partidos conservadores na coalizão do governo da Itália sofreram perdas graves nas eleições municipais de maio. Também existe pressão dos Estados Unidos sobre a Alemanha, para se mover na direção que Hollande apoia – o que é estranho, porém importante.
Os alemães podem resistir a tudo isso – até 31 de maio, a data do plebiscito irlandês. O governo irlandês é o único membro da zona do euro que depende de um plebiscito para aprovar o novo tratado de austeridade em que Merkel tanto insistiu, com apoio de Sarkozy. As pesquisas sugerem uma disputa acirrada. O governo irlandês está confiante de que poderia ganhar votos em favor do “sim”, mas a vitória de Hollande pode influenciar os eleitores para que o “não” prevaleça, o que anularia o tratado de austeridade. Isso iria enfraquecer a posição alemã ainda mais que o repúdio grego ao centro.
O que acontecerá, então? A chave é o cenário alemão. Angela Merkel, como qualquer líder político, tenta ver para que lado os ventos sopram. Por isso, sua linguagem já começa a evoluir. Pode ser até que, secretamente, ela comemore as pressões externas para fazer o que, do ponto de vista da Alemanha, é a coisa sensata: fortalecer o poder de compra (para produtos alemães, entre outras coisas) no resto da União Europeia.
Se a Alemanha se mover nessa direção, o euro e a União Europeia irão sobreviver, e continuar a ser um grande ator (ainda que chamuscado…) na cena geopolítica. No plano mundial, o deslocamento do centro na Europa como um todo não irá congelar o status quo, mas acelerar os realinhamentos geopolíticos que são inevitáveis. Além disso, o deslocamento do centro na Alemanha pode ajudar a Europa a resistir melhor ao tsunami – de colapso de fundos soberanos e do dólar como moeda de reserva – que se aproxima.
O mundo inteiro está nadando em águas muito agitadas. A Alemanha pode logo se juntar à lista de estados que começam a entender como navegar em meio ao caos. Governos inflexíveis são seus próprios piores inimigos.


Immanuel Wallerstein - 28.05.2012

Publicado por Outras Palavras. Tradução: Daniela Frabasile.












Irlanda votó a los austeros

En un voto del miedo, los irlandeses respaldaron el tratado que rebaja los déficit en la Unión al 0,5 por ciento e impone sanciones al que no cumpla. Merkel expresó su satisfacción, Hollande fue muy reticente.

Pagina 12
Presionados por la posibilidad de no recibir ayuda financiera si no respaldaban los programas fondomonetaristas de Bruselas, los irlandeses apoyaron el pacto de austeridad de la Unión Europea (UE). El plan de control fiscal supranacional, impulsado fuertemente por Alemania, requería la aprobación de 12 de los 17 países de la Eurozona. De acuerdo con los resultados oficiales divulgados ayer sobre el referéndum realizado el jueves, el 60,4 por ciento de los votos apoyó la medida, mientras que los opositores sumaron el 39,6 por ciento de los sufragios, sobre un total de 995 mil votantes, aproximadamente el 50 por ciento del padrón electoral. El tratado aprobado por los irlandeses obliga a los países firmantes a reformar sus constituciones para implantar un límite al déficit al 0,5 por ciento del PBI y a aceptar sanciones cuando superen el tres por ciento del PBI. Con esta adhesión, el país –que fue rescatada en 2010 con una inyección de 85 mil millones de euros y la totalidad de su sistema bancario fue nacionalizado– se compromete, además, a limitar su déficit, lo que demandará, según los detractores del tratado, más sacrificios de las clases sociales pobres.
Tras conocerse los resultados, el primer ministro de Irlanda, Enda Kenny, declaró que el voto por el “sí” envió “una poderosa señal al mundo diciéndole que el país tenía una actitud seria sobre la superación de sus desafíos económicos”. En cuanto a cuál será el próximo paso, Kenny aseguró que la situación del sistema bancario europeo vuelve necesaria una solución de vasto alcance y la deuda bancaria irlandesa debe formar parte de esa solución. Por su parte, Gerry Adams, líder de Sinn Fein, el ex brazo político de la organización separatista IRA y opositor al tratado, aceptó sin cuestionamientos el resultado de la consulta, pero acusó al Ejecutivo de jugar con el temor de la gente.
“En el curso de la campaña, el gobierno hizo una serie de compromisos firmes en cuanto a la eliminación de la carga del rescate bancario de la gente y también sobre el crecimiento e incentivos al empleo. Vamos a reclamar el cumplimiento de esos compromisos”, anticipó resaltando que los problemas que la gente tiene hoy en día seguirán existiendo también mañana.
Los sondeos indicaron que el temor a perder acceso a los fondos de rescate de la UE y del Fondo Monetario Internacional (FMI) para países endeudados fue más fuerte que el enojo de los irlandeses por las medidas neoliberales que les redujeron los salarios y que eliminaron beneficios sociales e incrementaron el desempleo. Del resultado se desprendió que el “sí” obtuvo el apoyo en las áreas rurales y entre la clase media de los centros urbanos, mientras que el “no” tuvo fuerza y se impuso sobre todo en los condados del Norte y en zonas de clase trabajadora. Como también se conoció que de los 63 distritos electorales del país, sólo cinco rechazaron el tratado de la UE.
El desenlace del plebiscito tuvo repercusión internacional. Mientras que el presidente francés, François Hollande, se limitó ayer a “tomar nota de la decisión soberana y democrática del pueblo irlandés” en favor del pacto fiscal, sin hacer valoración alguna del resultado, la canciller alemana, Angela Merkel, mostró su satisfacción ante la noticia. Según fuentes gubernamentales la canciller destacó que el pueblo irlandés merece un reconocimiento especial por su decisión mayoritaria a favor de un pacto que lleva implícitos duros ajustes para la población del país. Asimismo, las instituciones de la UE celebraron ayer el resultado. “Con este voto, los irlandeses han dado su respaldo a su compromiso con la integración europea. El resultado es un paso importante hacia la recuperación y la estabilidad”, señaló el presidente del Consejo Europeo, Herman Van Rompuy, en un comunicado. En sintonía, el presidente de la Comisión Europea, José Manuel Durao Barroso, señaló que el resultado representa un paso significativo hacia su lugar en el corazón de la UE y destacó que el tratado es un elemento clave como la respuesta a la crisis. “Este es un día importante para Irlanda y para la Unión Europea”, aseveró el presidente de la Eurocámara, Martin Schulz.


Editorial Pagina 12 – 02.06.2012