terça-feira, 29 de julho de 2014

Mudanças no ensino de economia


Os alertas a respeito das debilidades intrínsecas a essa forma obtusa de encarar o fenômeno econômico não encontraram repercussão nos meios de comunicação.

Jaciara Itaim
As décadas de prevalência da hegemonia do pensamento neoliberal, em movimento que logrou se espalhar por todo o mundo, terminaram por provocar conseqüências significativas para a história da humanidade. Além de todas as mazelas relativas à desorganização das relações sociais, econômicas, ambientais e geopolíticas, esse período também foi marcado pela tentativa de uniformização e padronização das múltiplas maneiras de se compreender e analisar o fenômeno econômico. Um enorme retrocesso!
Essa generalização do modelo simplista de interpretação da forma capitalista de organizar a sociedade foi se consolidando aos poucos, a ponto de se transformar em uma espécie de “unanimidade artificialmente construída” junto aos espaços dos principais formadores de opinião em escala global. Essa verdadeira ditadura do pensamento único reinou absoluta no ambiente das grandes empresas, no interior das organizações multilaterais (Fundo Monetário Internacional - FMI, Banco Mundial - BM, entre outros), nas manifestações cotidianas dos meios de comunicações, bem como no interior dos centros de pesquisa e das universidades.

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Jaciara Itaim – Economista e militante por um mundo mais justo em termos sociais e econômicos  - 19.12.2013
IN Carta Maior.


sábado, 26 de julho de 2014

O fracasso de uma guerra sem sentido


Políticas de viés proibicionista e repressivo estão sendo colocadas em xeque em diversos países do mundo e evidenciam a necessidade de se discutir as drogas de forma racional.

Glauco Faria
Um negócio bilionário, estimado em 320 bilhões de dólares. A mais lucrativa atividade ilegal do planeta, o comércio de drogas, fatura dez vezes mais que o tráfico de pessoas, o segundo negócio ilícito mais rentável, de acordo com dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc). Em alguns locais, o tráfico molda relações sociais, trabalhistas, tem conexões com o mundo político institucional e com outros ramos do poder público, a despeito de haver uma “guerra às drogas” que se manifesta de forma distinta na maioria dos países que contam com legislações proibicionistas. Um combate insólito que já custou, somente nos Estados Unidos, 1 trilhão de dólares nos últimos 40 anos, ao se propor a idealizar um mundo no qual substâncias deixariam de ser consumidas apenas por serem ilícitas. E, na prática, resultando em um empoderamento de redes ilegais, que conseguem lucros estratosféricos em parte devido a essa proibição, configurando um cenário global no qual as drogas circulam muito mais livremente do que as próprias informações sobre elas.
A discussão sobre políticas de drogas no Brasil e em outras partes do mundo tem tido avanços consideráveis nos últimos anos, conseguindo mobilizar pessoas que veem como a repressão não funcionou para tratar a questão. Em novembro de 2012, nas últimas eleições realizadas nos Estados Unidos, parte da população deixou evidente seu descontentamento. No Colorado, foi aprovada a Emenda 64 com 55% de votos favoráveis, proporção similar à votação em que o estado de Washington aprovou a iniciativa número 202. Ambos se tornaram as primeiras unidades federativas no mundo a adotarem a regulamentação, a taxação e o controle da maconha de forma semelhante ao que acontece com as bebidas alcoólicas.
As legislações dos dois estados legalizam a posse de até uma onça (28,34 gramas) de maconha para maiores de 21 anos, sendo que a norma do Colorado permite outorgar licenças para cultivo e produção de derivados da planta. No mesmo processo eleitoral, Massachusetts se tornou o 18º estado do país, além do distrito de Columbia, a habilitar a maconha para uso medicinal. Mesmo em regiões mais conservadoras politicamente, como o Arkansas, em que emenda semelhante foi rejeitada, a margem foi estreita: 48% dos eleitores no estado se mostraram favoráveis à norma. E isso parece ser uma tendência no país, já que, de acordo com pesquisa do instituto Gallup feita em março, 49% dos norte-americanos aprovam a legalização da maconha, um número que é quase o dobro do apoio dado em 1995 (25%).


Fonte: Martin Jelsma (Transnational Institute), Inovações Legislativas em Política de Drogas, 2009. Elaboração: Ilona Szabó de Carvalho

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Glauco Faria – 28.10.2013
IN Revista Forum, edição 126.



quarta-feira, 23 de julho de 2014

Anos 1980, década perdida ou ganha?


Os anos 1980 foram marcados por uma profunda crise econômica e pelo fim da ditadura (1964-85). A volta da democracia possibilitou uma reorganização do movimento social, num patamar inédito até então. Mas uma questão subsiste: aquela foi uma “década perdida” ou não? Longe de ser uma discussão acadêmica, ela é vital para que se examinem os projetos de país em disputa na atualidade.

Gilberto Maringoni
Os anos 1980, na América Latina, ficaram conhecidos como “a década perdida”, no âmbito da economia. Das taxas de crescimento do PIB à aceleração da inflação, passando pela produção industrial, poder de compra dos salários, nível de emprego, balanço de pagamentos e inúmeros outros indicadores, o resultado do período é medíocre. No Brasil, a desaceleração representou uma queda vertiginosa nas médias históricas de crescimento dos cinqüenta anos anteriores.
Mas, sob o ponto de vista político, aquela foi literalmente uma década ganha. Não apenas se formaram e se firmaram inúmeras entidades e partidos populares – fruto das maiores mobilizações sociais de toda a história brasileira -, como se abriu uma nova fase histórica para o país, através do fim da ditadura e da promulgação da Constituição de 1988.
A cientista política Maria Izabel Mallmann, no livro Os ganhos da década perdida (Edipuc - RS, 2008), busca elucidar as contradições daqueles tempos:
“Pode-se dizer que a democracia foi um dos ganhos políticos da década econômicamente perdida. (...) Outro ganho foi o surgimento e consolidação de um espaço regional de coordenação de políticas, cujos desdobramentos positivos ainda fazem-se presentes. Apesar das dificuldades, a década de 1980 foi marcada por acontecimentos relevantes no que diz respeito à aproximação dos governos latinoamericanos”.







Gilberto Maringoni – Historiador, jornalista e professor da UFABC – junho 2012

IN Revista Desafios do Desenvolvimento, ano 9, ed. 72. 


domingo, 20 de julho de 2014

O aprendizado e o desenvolvimento


temos de perceber que, embora haja um crescente consenso de que a escolaridade deve concentrar-se mais na qualidade do que quantidade, há menos consenso quanto à forma de conseguir isso. Alguns veem o problema como resultado de financiamento insuficiente, enquanto outros gostariam de ver as escolas incentivarem alunos, funcionários e professores. Os pesquisadores do Pisa veem um foco em ambos como frutíferos. Eles enfatizam que, para todos os países, focar mais recursos nos estudantes menos privilegiados é uma forma eficaz de melhorar as notas, e eles observam que os países com melhores desempenhos, especialmente na Ásia, colocam ênfase na seleção e treinamento de professores, priorizando investimentos em capital humano de professores, em detrimento de ampliar o número de alunos por sala de aula.


Morten Olsen e Ria Ivandic

De sites de notícias a conversas em torno da mesa de jantar, um tópico pareceu ser uma insaciável fonte de discussões no início de dezembro, quando a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou os resultados do Pisa 2012 (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). E ficou no ar uma pergunta: deveríamos nós - economistas e autoridades governamentais - preocupar-nos com os resultados do Pisa? E, mais importante, o que esses resultados podem nos dizer sobre o presente e também sobre o mundo que virá?

Há muito tempo já foi reconhecida a importância de investir em educação para estimular o desenvolvimento de um país. Após décadas de reconhecimento sobre o papel fundamental da educação, ela tornou-se consagrada como uma prioridade mundial nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

Além de ter uma influência decisiva sobre a renda de uma pessoa, a educação desempenha um papel central na explicação das diferenças entre os países em termos agregados: a educação incrementa o capital humano inerente à força de trabalho, o que aumenta a produtividade do trabalho e resulta em um nível mais elevado do equilíbrio da produção (Mankiw, Romer e Weil, 1992). A educação também aumenta a capacidade de inovar no âmbito da economia, acelerando a adoção de novas tecnologias, promovendo, assim, o crescimento (Lucas; 1988).

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Morten Olsen – Professor de Economia na IESE Business School; Ria Ivandic – Assistente de pesquisa na IESE Business School – 03.02.2014
Tradução – Sergio Blum
IN Valor Econômico. 


sexta-feira, 18 de julho de 2014

Os BRICS se rebelam contra o FMI e criam seu próprio banco


Em vários artigos, Nicholas Stern, presidente do Grantham Research Institute da London School of Economics e da Academia Britânica, defendeu, ao lado do prêmio Nobel Joseph Stiglitz, a necessidade de um novo banco de desenvolvimento que dê respostas às necessidades urgentes dos países emergentes em termos de infraestrutura. (...) “Do contrário, será impossível conseguir uma redução da pobreza e um crescimento inclusivo no longo prazo.”

Alicia González
Em julho de 1944, representantes de 44 países se reuniram em um hotel em Bretton Woods, New Hampshire, Estados Unidos, para criar um novo modelo de relações comerciais e financeiras entre os principais países do mundo. Setenta anos depois, os países emergentes se cansaram de esperar uma mudança de regime das instituições financeiras internacionais que saíram daquela reunião e deram um passo à frente para mudar a ordem existente, e agora reivindicam seu novo papel na economia mundial.
Os presidentes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (que formam o acrônimo BRICS) assinam nesta terça-feira em Fortaleza, Brasil, a constituição de um banco de desenvolvimento, com um aporte inicial de 50 bilhões de dólares (cerca de 110 bilhões de reais) para formar o capital do banco e 100 bilhões (220 bilhões em reais) de capacidade de empréstimo, e um fundo de reservas de outros 100 bilhões para ajudar os países do grupo no caso de uma possível crise de liquidez, como as vividas em alguns países europeus durante a crise financeira. São 200 bilhões de dólares (moeda que será utilizada nas transações das duas organizações) para determinar o valor do grupo e dar uma demonstração de sua força econômica.
“A conclusão dessas duas iniciativas passará uma mensagem forte sobre a vontade dos BRICS de aprofundar e reforçar sua associação econômica e financeira”, destacou para a imprensa na semana passada o embaixador brasileiro José Alfredo Graça Lima. “As duas instituições financeiras criadas funcionarão de forma similar ao Banco Mundial (BM) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI)”, afirmou. Sem dúvida, a criação do banco é um passo decisivo para a consolidação do grupo. “É importante que as maiores economias emergentes tenham sido capazes de colocar em funcionamento um projeto assim, do contrário sua credibilidade como grupo seria questionada. É um primeiro passo evidente, mas agora precisam passar para a ação”, afirma Jim O’Neill, o inventor do termo BRIC há 13 anos, quando era economista-chefe da Goldman Sachs, e atualmente pesquisador no think tank Bruegel.
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Alicia Gonzales – 13.07.2014
IN El País Brasil.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O pesadelo da desigualdade


O coeficiente de gini vem subindo, há muitos anos, em todos os países.
Tornou-se crucial os esforços para promover um crescimento mais inclusivo, não apenas por razões morais como também para garantir a sobrevivência do sistema econômico mundial. Isso envolve mais que distribuição da riqueza. Significa incluir as pessoas.

Donald Kaberuka
"Os pobres não conseguem dormir por que têm fome", disse em 1999 o economista nigeriano Sam Aluko, em frase que ficou famosa, "e os ricos não podem dormir porque os pobres estão acordados e famintos". Somos todos afetados por profundas disparidades de renda e riqueza, por que o sistema político e econômico do qual depende nossa prosperidade não pode continuar enriquecendo alguns, enquanto empobrece outros.
Durante tempos difíceis, os pobres perdem a fé em seus líderes e no sistema econômico, e nos bons tempos muito poucos usufruem dos benefícios. O coeficiente de Gini, uma medida de desigualdade econômica, vem subindo há muitos anos, tanto nos países em desenvolvimento como nos desenvolvidos, inclusive nos EUA. Na Europa, as desigualdades têm se intensificado, em consequência do rápido crescimento do desemprego, especialmente entre os jovens. Alguns reagiram por meio de distúrbios nas ruas, outros vêm apoiando partidos políticos de extrema direita xenófobos, muitos mais vêm a situação em silêncio, ficando cada vez mais ressentidos com os políticos e o sistema que eles representam.
O problema é mais gritante nas megacidades do mundo, que representam cerca de 80% do PIB mundial. Porém, mesmo nas cidades mais desenvolvidas, as disparidades são acentuadas. Por exemplo, se viajarmos no metrô londrino a uma distância de apenas seis milhas (ou 14 estações) para o leste, a partir do coração do governo em Westminster, rumo a Canning Town, a expectativa de vida dos habitantes em cada parada sucessiva diminui em seis meses.


Donald Kaberuka – Presidente do Banco Africano de Desenvolvimento. Copyright: Project Syndicate/World Economic Forum, 2014 – 09.01.2013
Tradução: Sergio Blum
IN Valor Econômico. 




domingo, 13 de julho de 2014

Os palestinos não são fantasmas


É NESSE CÍRCULO APARENTEMENTE INFINITO DE VINGANÇA E CONTRAVINGANÇA QUE DEVEMOS INSCREVER O ATUAL CONFRONTO. (...)NA VERDADE, OS ISRAELENSES DA DIREITA NÃO QUEREM VER UM ESTADO INDEPENDENTE PALESTINO. ELES ESTÃO CONTENTES EM MORAR ATRÁS DE MUROS DE CONTENÇÃO, ALHEIOS À SITUAÇÃO PATÉTICA DA POPULAÇÃO PALESTINA, QUE É HUMILHADA DIARIAMENTE PELA OCUPAÇÃO ISRAELENSE, QUE CONTROLA TUDO QUE ENTRA E SAI DOS TERRITÓRIOS. A CISJORDÂNIA E GAZA SÃO TRATADAS COMO COLÔNIAS QUE ISRAEL NUNCA QUIS TER. (...) ISRAEL DEVERIA SENTAR E DIALOGAR COM O HAMAS E A AUTORIDADE PALESTINA DE MAHMOUD ABBAS. EXCLUIR O HAMAS NÃO LEVA A NADA, A NÃO SER A MAIS CONFRONTO E MAIS VIOLÊNCIA. TEMOS QUE DIMINUIR A VIOLÊNCIA E A TENSÃO E PARAR DE TER NEGOCIAÇÕES INTERMINÁVEIS PARA UMA PAZ QUE NUNCA CHEGA. OS ISRAELENSES TÊM QUE SER PRESSIONADOS A DAR CONCESSÕES DE VERDADE PARA OS PALESTINOS.

Rasheed Abou-Alsamh
A ofensiva brutal de Israel contra alvos do Hamas em Gaza esta semana, depois que muitos mísseis foram lançados diariamente da faixa contra o Estado judeu, mais uma vez mostra uma batalha de David e Golias. É claro que Israel tem o direito de defender sua população de ataques, mas matar 78 palestinos e ferir 550 deles em somente três dias, com nenhum israelense morto, é nada equilibrado ou justo.
Tudo vem depois do sequestro dos três adolescentes israelenses no dia 12 de junho, que, depois de três semanas desaparecidos, foram encontrados mortos. O governo israelense imediatamente culpou o grupo palestino Hamas por isso e mandou prender mais de 400 palestinos — incluindo ex-prisioneiros do Hamas que Israel tinha libertado em 2011 em troca do soldado israelense Gilad Shalit — e derrubar a casa de uma família de palestinos na Cisjordânia, conhecidos simpatizantes do Hamas, por supostamente terem participado do sequestro. Mas, até hoje, Israel não apresentou nenhuma prova que culpe o Hamas.
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Rasheed Abou-Alsamh – jornalista – 11.07.2014
IN O Globo.



Eduardo Galeano: “Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?”


Galeano – O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de “danos colaterais”, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez “danos colaterais”, três são crianças. (...)E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense.

Eduardo Galeano
Para justificar-se, o terrorismo de estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, acabará por multiplicá-los.
Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma armadilha sem saída, desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições em 2006. Algo parecido havia ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.
São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que foram palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há muitos anos, o direito à existência da Palestina.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/11/eduardo-galeano-israel-gaza-direito-de-negar-todos-os-direitos.html





Eduardo Galeano – Escritor e ensaísta uruguaio – 22.11.2012
IN Pragmatismo Político.





Uma centena de mortos em quatro dias de ataques contra o Hamas em Gaza



O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) divulgou um relatório em que indica que 342 casas foram destruídas, provocando o deslocamento de mais de 2.000 cidadãos. Além disso, de acordo com a organização, cinco centros médicos sofreram danos por causa de bombardeios próximos.
Em Israel, são dois os feridos graves pelo lançamento de cerca de 600 foguetes contra seu território.



Carmen Rengel
As autoridades de saúde pública da Faixa de Gaza confirmaram nesta sexta-feira que já chega a cem o número de mortos nos mais de 1.110 ataques realizados pelo Exército de Israel contra o território palestino como parte da operação Margem Protetora. As últimas 11 vítimas fatais foram registradas depois da meia-noite passada. Entre elas estão quatro membros da família Ghannam, de Rafah (cidade na fronteira entre Gaza e o Egito) – incluindo uma menina de sete anos -, além de um médico. Uma mulher de 25 anos também morreu enquanto tentava defender seus quatro filhos, segundo a agência de notícias palestina Maan. Os feridos, que passam dos 600, estão saindo a conta-gotas pela passagem com o Egito, ao sul da Faixa, aberta parcialmente para prestar assistência às vítimas que já não encontram vagas nos centros médicos de Gaza ou para quem não há recursos suficientes (a carência de medicamentos chega a 30% e a de equipamentos de saúde, a 50%, afirma o Centro Palestino pelos Direitos Humanos).
Ainda nesta sexta-feira, as Brigadas de Exedin al-Qassam, braço armado do Hamas, ameaçaram incluir entre os alvos de seus foguetes o Aeroporto Internacional Ben Gurion, situado na periferia de Tel Aviv, a capital comercial de Israel.
O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) divulgou um relatório em que indica que 342 casas foram destruídas, provocando o deslocamento de mais de 2.000 cidadãos. Além disso, de acordo com a organização, cinco centros médicos sofreram danos por causa de bombardeios próximos.
Em Israel, são dois os feridos graves pelo lançamento de cerca de 600 foguetes contra seu território.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://brasil.elpais.com/brasil/2014/07/11/internacional/1405062449_461406.html




Carmen Rengel – 11.07.2014
IN El País Brasil.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Novo decreto: Não há representação sem participação


Ao contrário de enfraquecer o Congresso Nacional, o decreto não fortalece o Executivo em detrimento do Legislativo e ajuda a fomentar os mecanismos nacionais de participação.

Thamy Pogrebinschi
Ao contrário de ameaçar a democracia representativa e enfraquecer o Congresso Nacional, como se tem alardeado, o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS) tende apenas a revigorar a primeira e a fortalecer o segundo. Essas são duas das principais conclusões de diversas pesquisas que realizei nos últimos anos a respeito do impacto dos mecanismos nacionais de participação no Congresso Nacional. Os dados revelam que representação e participação não competem entre si, porém reforçam-se mutuamente. O Congresso Nacional está mais em sintonia com os mecanismos participativos do que parecem supor os próprios parlamentares que agora buscam sustar a aplicação do Decreto Presidencial 8243/14.
Detenhamo-nos no impacto do maior e mais antigo dos mecanismos de participação social abarcados pelo SNPS, as conferências nacionais. Assim como a maior parte dos mecanismos de participação mencionados no decreto, as conferências nacionais não foram criadas agora. Ao contrário, foram instituídas em 1941, no âmbito da reforma do então Ministério da Educação e Saúde Pública, conduzida pelo então ministro Gustavo Capanema. Com seus objetivos definidos pela Lei 370/37, a conferências nacionais destinam-se, desde então, a “dar a conhecer ao governo federal as necessidades e demandas locais” e “orientar o governo federal na execução de políticas locais”. Como necessidades e demandas locais não são privilégios de técnicos e administradores, as conferências nacionais permitem, já há algumas décadas, que os próprios cidadãos tenham voz no processo de formulação e execução de planos nacionais de políticas.
Quarenta e duas conferências nacionais foram realizadas no Brasil entre 1941 e 2002, antes da chegada do Partido dos Trabalhadores ao governo federal. Cerca de metade dessas, 20 conferências, foram realizadas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Vê-se que o PSDB agora busca invalidar o decreto presidencial que busca regulamentar um mecanismo participativo que ele próprio resgatou da Era Vargas e ajudou a impulsionar. O PT simplesmente deu continuidade e preocupou-se em regulamentar e institucionalizar um mecanismo que, aliás, também fora usado pelos governos Collor e Itamar.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.cartacapital.com.br/politica/novo-decreto-nao-ha-representacao-sem-participacao-9169.html




Thamy Pogrebinschi – Pesquisadora sênior do WZB Berlin Social Science Center e professora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ (IESP-UERJ), onde coordena o Laboratório de Estudos sobre a Democracia (LED – 19.06.2014
IN Carta Capital.


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Pensando América Latina com Raúl Prebisch


O protagonismo do Estado até a década de 1970, com raízes no pensamento keynesiano e de Prebisch, tinha guiado o desenvolvimento na América Latina através do impulso à diversificação produtiva, a industrialização e, em alguns casos, a construção de um mercado de trabalho organizado e de emprego com direitos.

Alicia Bárcena y Antonio Prado 
Raúl Prebisch (1901-1986) Economista argentino, dirigiu a Cepal desde sua fundação em 1948. Com Celso Furtado promoveu teoria do planejamento estratégico para o desenvolvimento com base nos abundantes recursos nacionais.
“Antes de pensar, observe”, recomendava o senhor Raúl Prebisch em uma de suas frases mais emblemáticas. Esta ideia, que representa um desafio para os que interpretam a América Latina de seu tempo, mantém grande vigência hoje na hora de enfrentar os problemas atuais de nossa região.
Até a crise dos anos 1930, o paradigma do pensamento liberal tinha dominado os corações e as mentes dos formuladores e gestores das políticas econômicas da América Latina. O protagonismo do Estado até a década de 1970, com raízes no pensamento keynesiano e de Prebisch, tinha guiado o desenvolvimento na América Latina através do impulso à diversificação produtiva, a industrialização e, em alguns casos, a construção de um mercado de trabalho organizado e de emprego com direitos.


Alicia Bárcena y Antonio Prado – Secretaria executiva e secretario executivo adjunto da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) – 07.09.2013
IN Revista Diálogos do Sul.


sexta-feira, 4 de julho de 2014

Os muitos perdedores da América


Packer nos mostra que os Estados Unidos ainda são uma superpotência, porém seus problemas já deixaram de ser um traço isolado no gráfico. Segundo ele, quem nasceu por volta de 1960 "viu estruturas que estavam no seu lugar desde antes do seu nascimento entrarem em colapso como colunas de sal através da vasta paisagem".

Robson Viturino
 Ao longo de três décadas, Dean Price viu caírem, uma a uma, suas esperanças no sonho americano. Inflamado por discursos de Ronald Reagan e livros de autoajuda, ele perseguiu durante boa parte da vida a ideia de que no seu país as oportunidades existiam - e eram fartas - para todos. O mundo mudou rápido, mas a ficha de Price caiu cruel e lentamente. Depois da passagem frustrante por uma grande corporação, ele decidiu se tornar empreendedor. Seria o início de uma bela história, não tivesse o seu país mudado tanto.
Como muitos americanos retratados no ambicioso "Unwinding: An Inner History of a New America" (Farrar, Straus and Giroux, 448 págs., US$ 16,20), do jornalista George Packer, Price é um homem que caiu do cavalo. Ele é um dos milhões de cidadãos comuns para quem o sonho fica a cada dia mais vaporoso. Ao seu lado, estão fazendeiros quebrados, órfãos de fábricas fechadas, comerciantes esmagados pelo Walmart, "associados" que ganham uma miséria por hora e não têm benefícios trabalhistas, além de pobres desdentados e obesos lotados em comunidades tomadas por viciados em crack.
É, sim, um novo país, Packer insiste em nos dizer com suas histórias tristes e comoventes. Aclamado pela crítica nos Estados Unidos, "Unwinding" recebeu em novembro o National Book Award na categoria não ficção (a Companhia das Letras prepara sua tradução e deve lançá-lo no Brasil no próximo semestre). Que ele tenha levado um dos prêmios literários mais concorridos do país não chegou a ser uma novidade. Packer é um jornalista experiente que escreve sobre política externa para a revista "New Yorker" e também autor de um importante livro sobre a guerra no Iraque.



Robson Viturino – Repórter, de Chicago – 20,21 e 22 de dezembro de 2013
IN Valor Econômico. 



quarta-feira, 2 de julho de 2014

Amizade a conta-gotas


para sentir mais, e nos sentirmos mais donos da própria personalidade, nós nos conectamos. Mas, em nossa busca apressada pela conexão, fugimos da solidão, da nossa capacidade de nos separar da multidão e organizar o próprio indivíduo. Sem capacidade de suportar a solidão, nos voltamos para outras pessoas, sem no entanto vivenciá-las como realmente são. É como se as usássemos, como se precisássemos delas como peças capazes de sustentar nosso ser, cada vez mais frágil.

Sherry Turkle  
Vivemos num universo tecnológico no qual estamos sempre nos comunicando. Mas parece que estamos sacrificando a conversa plena em nome de uma mera conexão.
Em casa, as famílias se sentam juntas e ao mesmo tempo mandam mensagens de texto e leem e-mails. No trabalho, executivos trocam SMS no meio das reuniões. Enviamos mensagens (além de fazer compras e atualizar o Facebook) durante as aulas e até encontros românticos. Meus alunos me contaram sobre uma nova habilidade: olhar nos olhos da pessoa enquanto digitamos uma mensagem no celular para outra; é difícil, mas não impossível.
Nos últimos 15 anos, estudei tecnologias móveis e conversei com centenas de pessoas sobre suas vidas plugadas. Aprendi que os pequenos aparelhos que carregamos são tão poderosos a ponto de mudarem não apenas o que fazemos, mas quem somos.
Nós nos acostumamos a uma nova situação: estar “juntos sozinhos”. Munidos da tecnologia, podemos estar em contato com qualquer um, em qualquer lugar, conectados ao ambiente que desejarmos. Queremos personalizar nossas vidas. Queremos entrar e sair de onde quer que estejamos. E com isso, nos acostumamos a estar em uma tribo de uma pessoa só, leais ao nosso próprio partido.
Colegas de trabalho querem participar das reuniões, mas só prestam atenção no que lhes interessa. Para alguns, é uma boa ideia, mas é possível que acabemos nos escondendo, mesmo constantemente conectados.

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Sherry Turkle – Psicóloga, professora do MIT e autora de Alone Together - 22.05.2012
Reproduzido do suplemento “Link” do Estado de S.Paulo, 21.05.2012; tradução de Augusto Calil.
IN “Observatório de Imprensa”, edição 695.