quarta-feira, 2 de julho de 2014

Amizade a conta-gotas


para sentir mais, e nos sentirmos mais donos da própria personalidade, nós nos conectamos. Mas, em nossa busca apressada pela conexão, fugimos da solidão, da nossa capacidade de nos separar da multidão e organizar o próprio indivíduo. Sem capacidade de suportar a solidão, nos voltamos para outras pessoas, sem no entanto vivenciá-las como realmente são. É como se as usássemos, como se precisássemos delas como peças capazes de sustentar nosso ser, cada vez mais frágil.

Sherry Turkle  
Vivemos num universo tecnológico no qual estamos sempre nos comunicando. Mas parece que estamos sacrificando a conversa plena em nome de uma mera conexão.
Em casa, as famílias se sentam juntas e ao mesmo tempo mandam mensagens de texto e leem e-mails. No trabalho, executivos trocam SMS no meio das reuniões. Enviamos mensagens (além de fazer compras e atualizar o Facebook) durante as aulas e até encontros românticos. Meus alunos me contaram sobre uma nova habilidade: olhar nos olhos da pessoa enquanto digitamos uma mensagem no celular para outra; é difícil, mas não impossível.
Nos últimos 15 anos, estudei tecnologias móveis e conversei com centenas de pessoas sobre suas vidas plugadas. Aprendi que os pequenos aparelhos que carregamos são tão poderosos a ponto de mudarem não apenas o que fazemos, mas quem somos.
Nós nos acostumamos a uma nova situação: estar “juntos sozinhos”. Munidos da tecnologia, podemos estar em contato com qualquer um, em qualquer lugar, conectados ao ambiente que desejarmos. Queremos personalizar nossas vidas. Queremos entrar e sair de onde quer que estejamos. E com isso, nos acostumamos a estar em uma tribo de uma pessoa só, leais ao nosso próprio partido.
Colegas de trabalho querem participar das reuniões, mas só prestam atenção no que lhes interessa. Para alguns, é uma boa ideia, mas é possível que acabemos nos escondendo, mesmo constantemente conectados.

(...)





Sherry Turkle – Psicóloga, professora do MIT e autora de Alone Together - 22.05.2012
Reproduzido do suplemento “Link” do Estado de S.Paulo, 21.05.2012; tradução de Augusto Calil.
IN “Observatório de Imprensa”, edição 695.