sábado, 31 de outubro de 2015

A ciclovia e a retomada do espaço público


Eduardo Marques – “São Paulo é menos injusta hoje do que era há 20 ou 40 anos. O que não quer dizer que a desigualdade ou as injustiças tenham deixado de existir. Em relação à infraestrutura e os serviços públicos, deixa de haver uma questão de inexistência e passa a ser uma questão de qualidade. Isso não vale só para os serviços urbanos, mas também para os equipamentos e políticas públicas, como saúde e educação “.

Marcus Lopes
Ao assumir a Prefeitura de São Paulo em 1975, Olavo Setubal afirmou que administrar a cidade era como gerir uma Suíça e uma Biafra. De lá para cá a desigualdade social diminuiu e as periferias mudaram, em parte por causa da expansão do mercado imobiliário para as regiões periféricas, como mostra o livro "A Metrópole de São Paulo no Século XXI" (Editora Unesp). Em entrevista ao Valor, o cientista político e professor da USP Eduardo Marques, de 50 anos, organizador da obra, discute assuntos como mobilidade e adensamento urbanos e ciclovias, tema que voltou ao debate depois do atropelamento e morte de um pedestre na região central, na semana passada, e o fechamento de vias como a avenida Paulista para o lazer da população aos domingos.
Valor O livro trata da desigualdade social na metrópole. São Paulo ainda é uma Biafra e uma Suíça, como dizia Setubal?
Eduardo Marques –Não. Deixamos de aprender muito sobre as cidades se ficarmos com esses modelos polares. Há muitos grupos, espaços e processos intermediários que são importantes para entender a metrópole.
(...)






Marcus Lopes – 28.08.2015
Eduardo Marques – Cientista Político e Professor da USP.
IN Valor Econômico, ed. Impressa, caderno Eu & fim de semana.


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Mais sobre o corte de Ministérios



O final do regime militar inaugura um processo de democratização política que vem possibilitando uma considerável pressão por direitos de cidadania. O aumento da capacidade dos segmentos marginalizados de defender seus interesses e reivindicar o atendimento de suas necessidades por bens e serviços – alimentação, transporte, moradia, saúde, educação, comunicação etc. – vem levando uma crescente demanda por políticas públicas capazes de promovê-lo. (...)

Nos 13 anos de governo do PT, a reorientação das políticas públicas no sentido daquele estilo de desenvolvimento é notória; como são também os resultados alcançados. (...)
 O Estado mínimo, tetraplégico e lobotomizado foi sendo recomposto. Diferentemente do que há muito ocorria, quando a reiterada resolução de agendas decisórias enviesadas segundo os interesses e valores da classe proprietária foi orientando o Estado numa direção conservadora, mantendo, legitimando e até a naturalizando o status quo, a nova coalizão de governo vem buscando transformá-lo. 


Greiner Costa e Renato Dagnino

Provocada pelo anúncio da reversão do “inchamento” da “máquina pública” que parece estar sendo aceita como condição de governabilidade, tem havido no âmbito da esquerda uma interessante discussão acerca de dois aspectos da questão: o do número de ministérios e o da sua baixa eficácia derivada da falta de interação entre eles.

Nesta contribuição que busca interlocução com o artigo “Sete dados para você não falar bobagens sobre a redução dos ministérios” de José Augusto Valente (28/08/15), em http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/7-dados-para-voce-nao-falar-bobagens-sobre-a-reducao-dos-ministerios/4/34358, trataremos em separado esses dois aspectos. E o faremos tendo como referência uma reflexão sobre o caráter do Estado capitalista e seu rebatimento sobre o caso brasileiro.

Uma das imagens mais elucidativas do conceito de Estado é o de uma “garrafa de água gelada” num dia quente e úmido. É nela (aparelho institucional, leis, prédios, pessoas) que se condensam os vapores dispersos na atmosfera (interesses e poderes de empresas, bancos, sindicatos, movimentos sociais, igrejas, mídia) transformando-se em líquido (materializando suas agendas e seus projetos políticos).

Essas gotas de vapor d’água condensado que se fixam na parede da garrafa (interface Estado-sociedade) são os arranjos (ministérios, agências, políticas, programas, carreiras, etc.) que os atores sociais, em função da relação de forças políticas têm que institucionalizar para exercer seu poder.

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Renato Dagnino – Professor titular no Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp;
Greiner CostaDoutor em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp – 06.09.2015
IN Carta Maior.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O Ustra está morto. Viva a tortura!


O coronel Ustra teve a finalização das funções de seu corpo físico. Contudo, a máquina de triturar corpos e produzir medo, em meio à democracia, permanece.

Edson Telles
Morreu o coronel Ustra, comandante por quatro anos do maior centro de torturas do Exército brasileiro durante a ditadura, o Doi-Codi da rua Tutoia em São Paulo.
 
No pensamento político inglês do século XVI se estabeleceu a teoria dos dois corpos do Rei. Além do corpo físico e biológico comum a qualquer outro ser humano, o rei possuía um corpo místico, que nunca morria, simbólico e jurídico, indicando as funções de poder do reinado. Se o corpo natural estava exposto à morte, às perversões e à impunidade, o outro corpo definia-se pelas estratégias políticas. Por isto vemos em alguns filmes de época a expressão “O Rei está morto. Viva o Rei!”, demonstrando que as estruturas políticas permanecem apesar da morte do corpo físico que executava aquelas atividades próprias às suas engrenagens.
 
O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, responsável por tortura, assassinatos e desaparecimentos de corpos teve, recentemente, a finalização das funções de seu corpo físico. Contudo, a máquina de triturar corpos, produzir medo, implantar o terror, agora em meio à democracia, permanece. A tortura enquanto estratégia política de controle, disciplinarização, punição e ameaça mantém suas funções.
(...)




Edson Telles – Professor de filosofia na Universidade Federal de São Paulo e ativista da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos da Ditadura - 23.10.2015
IN Carta Maior.




Ustra: um corpo sem dignidade

seu corpo, que será enterrado ou cremado inteiro, com atestado de óbito verdadeiro, com todos os cuidados médicos e na companhia de seus familiares que dele poderão se despedir é um corpo sem dignidade. É o corpo de um torturador covarde. É o corpo de um violador dos direitos humanos. É o corpo de alguém que matou, torturou, desapareceu e ainda achava que agiu corretamente. Morre reivindicando seus atos em gozo da liberdade e da impunidade que os verdugos não merecem. É o corpo impune que atesta a falta de justiça da nossa democracia.

Renan Quinalha
OBITUÁRIO COM HURRAS, de Mario Benedetti
(...)
viva
morreu o cretino
vamos festejá-lo
e não chorar como de hábito
que chorem os que são como ele
e que engulam suas lágrimas
foi-se embora o monstro magnata
acabou-se para sempre
vamos festejá-lo
sem ficar mornos
sem acreditar que este
é um morto qualquer
vamos festejá-lo
sem ficar frouxos
sem esquecer que este
é um morto de merda

***

Ustra morreu hoje. Com 83 anos, faleceu tranquilamente em um hospital, com tratamento médico adequado e na companhia de sua família. Em tudo o oposto do sofrimento atroz que impingiu às suas vítimas e seus familiares.
Coronel da ditadura, Ustra comandou o principal centro clandestino de detenção e tortura brasileiro. No DOI-CODI de São Paulo, onde era conhecido como ‘major Tibiriçá’, pelas suas mãos sujas de sangue, entre 1970 e 1974, passaram ao menos 50 pessoas que foram mortas ou estão até hoje desaparecidas, além de mais de 500 pessoas torturadas barbaramente.
Sua família terá um corpo presente para velar e consumar o luto da sua perda. Não será um corpo torturado como o dos milhares de presos políticos, que passaram pelos cárceres ilegais da ditadura brasileira. Não será um corpo enforcado como o de Vladimir Herzog. Não será um corpo desfigurado como o de Eduardo Leite (Bacuri). Não será um corpo mutilado, como o de Luiz Eduardo da Rocha Merlino. Não será um corpo desaparecido, como o deHirohaki Torigoe. Não será um corpo baleado, como o de Carlos Marighella. Não será um corpo sepultado como indigente ou com nome falso, como no caso de Luiz Eurico Tejera Lisboa. Não será um corpo jogado em uma vala comum, como o de Flávio Carvalho Molina. Não será um corpo enterrado e desenterrado diversas vezes para depois ser atirado no alto mar, como o de Rubens Paiva
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://justificando.com/2015/10/15/ustra-um-corpo-sem-dignidade/






Renan Quinalha – Advogado – 15.10.2015
IN Justificando.com.


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Pochmann vê risco de retrocesso na redução da desigualdade no país


Márcio Pochmann – “Eu diria que há no Brasil, historicamente, uma tensão muito grande quanto à perspectiva do desenvolvimento econômico, entre o desenvolvimentismo e o que hoje é chamado de neoliberalismo. Há uma tensão entre os desenvolvimentistas e a escola que vê basicamente o desenvolvimento como produto do mercado, das forças do mercado. 
(...)
Infelizmente, porém, estamos vivendo um momento de cólera, de ódio, que muitas vezes aquilo que é o nosso campo, que é o debate de ideias, acaba sendo ultrapassado por visões que a gente só pode lamentar, porque na verdade não são frutíferas.
A questão mais geral da disputa gira em torno do papel do Estado. Porque temos uma crença de que o capitalismo não se desenvolve, e nem resolve suas crises, que são inerentes, de modo próprio: ele pressupõe a ação do Estado.
Então essa é a grande diferença, porque há a crença, renovada em torno do neoliberalismo, que não cabe ao Estado qualquer ação porque, quanto mais houver liberdade da competição, mais ela, por si só, gera o desenvolvimento. Como se o desenvolvimento fosse algo espontâneo, autônomo. Nós não partimos desse pressuposto – acreditamos que o capitalismo, deixado livre à sua própria dimensão, produz mais crises “.

Jornal da Unicamp
O economista, pesquisador e docente do Instituto de Economia (IE) da Unicamp Marcio Pochmann, ex-presidente do Ipea, vê em 2015 um risco de retrocesso na trajetória de redução da desigualdade que o Brasil traçou na primeira década do século 21. “Neste ano temos um fato novo, que é um ponto de inflexão na trajetória, que vem dos anos 2000, em relação à questão da desigualdade”, disse ele. “Nós possivelmente deveremos ter um retrocesso. Já estamos observando um aumento do desemprego e uma queda na massa de salários, diante inclusive dos lucros apresentados pelos bancos: deveremos ter talvez quase 10% do PIB transferido para o sistema bancário em função das altas taxas de juros. Esse quadro põe um ponto de interrogação numa trajetória de redução da desigualdade”.
Pochmann falou com o Jornal da Unicamp no lançamento de seu livro Desigualdade Econômica no Brasil, que reúne dados sobre as diferenças de renda e riqueza entre os brasileiros, as classes sociais, municípios e regiões do Brasil, incluindo-os numa perspectiva histórica. “Em primeiro lugar, é preciso entender que a desigualdade que temos hoje tem a ver com o passado. Um passado que se forjou a partir de um processo de exclusão gerado pela escravidão”, lembrou. 
“É uma desigualdade que tem passado, mas também tem presente, e que resulta, por exemplo, nas ineficiências do Estado brasileiro, da fortaleza do Estado em tributar os pobres e não tributar os ricos: essa é uma questão que resulta das opções que o Brasil tem feito”, afirmou. “Mas eu diria que, pelas experiências recentes que tivemos, que o Brasil pode acelerar o passo e avançar mais rapidamente para construir uma sociedade menos desigual do que a que temos atualmente”.
(...)




Márcio Pochmann – Ex-presidente do IPEA, Professor do Instituto de Economia da Unicamp.
Carlos Orsi – 28.08.2015.
IN Jornal da Unicamp.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Civilização em estresse permanente


Dos primórdios da psicanálise, um cenário inimaginável atualmente é a configuração da prática clínica. Nos tempos de Freud, o analisado fazia sessões seis vezes por semana. Nos dias atuais, ter à disposição 50 minutos durante uma vez por semana para simplesmente falar sobre o que lhe vier à cabeça (mas sendo ouvido), longe da agitação do lado de fora do consultório, pode chocar os “empresários de si mesmos”. Na cultura do ato, a reflexão é uma subversão.


Bruno Yutaka Saito
Dick Cavett, o entrevistador, pergunta para Woody Allen: “Como você sabe se a psicanálise te ajudou? Quando você decide que terminou?” Era 1971 e o cineasta americano ainda não tinha feito clássicos como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” nem se tornado uma espécie de garoto-propaganda informal da teoria/prática terapêutica criada por Sigmund Freud (1856-1939). “Não sei se você realmente termina. Sei que certas características minhas estão diferentes de quando eu comecei. Eu tinha 22 anos e agora tenho 35. Então tenho idade – e isso é algo”, responde Allen no talk-show, em seu habitual tom zombeteiro que busca disfarçar, mas nem tanto, temas graves.
Neste começo de século XXI, em que homens, profissões, produtos e formas de pensamento enfrentam o risco constante de se tornar obsoletos, a psicanálise, uma das grandes criações do século XX, pode parecer uma prática excêntrica ou anacrônica, como ouvir discos de vinil e usar máquina de escrever. Freud vai se juntando a nomes como Karl Marx (1818-1883) na galeria dos pensadores que são demonizados em ondas revisionistas. Entre os defensores está a francesa Élisabeth Roudinesco, autora de uma nova biografia de Freud.
Enquanto rapidez, performance e resultados mensuráveis são buscados constantemente no cenário contemporâneo, a psicanálise caminha em um ritmo particular. Seus detratores costumam recitar três críticas: ela não tem eficácia comprovada, seria um método caro e tem duração longa. Nos EUA, foi moda entre os anos 40 e 60 ao ser confundida com uma terapia da felicidade e teve entusiastas como Alfred Hitchcock (1899-1980) e Leonard Nimoy (1931-2015).
Hoje, naquele país, pouco se questiona se a psicanálise é ciência ou filosofia, posição intermediária que lhe confere lugar peculiar na produção de conhecimento do Ocidente. Enquanto a psicologia vai se tornando mais científica, a psiquiatria, mais biológica, e a neurociência faz o mapeamento do cérebro, a psicanálise vem sendo estudada nos departamentos de letras das faculdades americanas. Nessa interpretação, ela é um modo de entender a construção da história pessoal do indivíduo. No Brasil, mantém proximidade com departamentos de psicologia.
(...)






Bruno Yutacca Saito – 28.08.2015.

IN Valor Econômico, ed. Impressa, caderno Eu & fim de semana.




Um Freud entre Fausto e Mefisto

Elisabeth Roudinesco – “[o legado de freud] é uma grande revolução, ao lado ddas realizadas por Charles Darwin 91809-1882) e Karl Marx (1818-1883). É difícil pensar que temos um inconsciente, um psiquismo complicado. Freud contribuiu com isso. É imprescindível e vai além do interesse terapêutico da metodologia. No cotidiano, usamos termos como lapso, inconsciente. A ideia de que as pessoas tÊm um inconsciente é amplamente difundida. Meu livro foi traduzido na China, embora quase não existam psicanalistas no país. Por quê? Porque Freud é um grande pensador“.

Daniela Fernandes
Se Setenta e seis anos após a morte de Sigmund Freud, que serão completados em 26 de setembro, o criador da psicanálise continua sendo tema de inúmeros estudos e publicações. Uma nova biografia, “Sigmund Freud – En Son Temps et dans le Nôtre” (Em seu tempo e no nosso), da historiadora francesa Élisabeth Roudinesco, chegará às livrarias brasileiras no começo de 2016 pela editora Zahar.
Lançada no ano passado na França, a obra de Elisabeth, de 592 pátinas é a primeira biografia sobre Freud (1856-1939) escrita por uma grande autoridade francesa na área. O livro já vendeu 25 mil exemplares e será lançado em uma dezena de países entre Turqua e China. Elisabeth restitui, com estilo de romance, o ambiente da Viena onde viveu Freud no fim do século XIX. 

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Elisabeth Roudinesco – historiadora francesa autora de biografia de Sigmund Freud.
Daniela Fernandes – 28.08.2015.
IN Valor Econômico, Ed. Impressa.

sábado, 17 de outubro de 2015

'A América Latina começou uma nova história, que eu considero irreversível'


Enrique Dussel – “Começou a tomar consciência de que pode deixar de ser colônia. E esta primavera política, a dos governos populares, é a segunda emancipação. As revoluções de 1800 foram o primeiro movimento: uma quase independência política, militar, mas não mental,  histórica e nem cultural. E entramos em um neocolonialismo do qual não saímos. Pela primeira vez na América Latina, de (Hugo) Chávez em diante, começa a ser levado a sério o tema de que seremos iguais aos Estados Unidos e Europa em um ou dois séculos de história. Não será em cinco dias, será um processo. Agora, também estamos caminhando com força porque já temos uma consciência nova, que não se cria por gênios teóricos, mas, ao contrário, é fruto de um processo e de uma história. Que eu possa dizer isto é resultado de que a América Latina está em outro nível de consciência. É a primeira vez que a ‘esquerda’, com muitas aspas, ou os progressistas começam a tentar fazer algo diferente “.


Astrid Pikielny
“Minha terra natal é a Argentina, a outra é o Brasil, mas a pátria grande é a América Latina. Sou um latino-americanista”, disse Enrique Dussel (foto), pausadamente, em seu tom híbrido, no qual ainda restam traços do mendocino (Mendoza, Argentina) que alguma já teve. 
Filósofo argentino radicado, há quarenta anos, no México, Dussel deixou seu país natal duas vezes. A primeira foi após passar pela Universidade de Cuyo. Ficou 10 anos na Europa e seu pensamento crítico do eurocentrismo, afirmou, fez com que se sentisse um estrangeiro em todas as partes: “A maioria dos professores ainda são absolutamente eurocêntricos e em filosofia são helenocêntricos. Acreditam que a filosofia nasceu em Atenas e os próprios Heródoto, Platão e Aristóteles dizem que nossa filosofia surgiu no Egito”. 
Voltou à Argentina em 1968 e viajou por toda a América Latina. Nos anos 1970, junto com outros intelectuais argentinos, fundou a Filosofia da Libertação. Esse movimento comprometido com a emancipação dos oprimidos e relacionado com a Teologia da Libertação, que começou uma reforma universitária em Mendoza, com programas de estudo de filosofia mundial não eurocêntrica, fez com que ele se tornasse alvo de ameaças e perseguições. “No dia 3 de outubro de 1973, colocaram uma bomba em minha casa e começou a perseguição contra nós. Depois, quando veio a intervenção de Oscar Ivanissevich, em março de 1975, retiraram-me da universidade e fiquei desprotegido”.
(...) 









Astrid Pikielny – 23.08.2015.
Enrique Dussel – Filósofo argentino.
IN Carta Maior (publicado originalmente no La Nación, trad. CEPAT).


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Ajuste em meio à recessão é contraproducente



Pedro Paulo Zahluth Bastos “Não é verdade que o ajuste não foi contracionista, o impacto é imediato. Imagina você tirar 1% do PIB esperado, que foi o que eles fizeram até maio, concentrado em quatro meses. Não tem nenhum economista que tenha a cara dura de dizer que isso não tem impacto contracionista. E a partir desse 1% cortado, o que o consumidor, investidor pretendiam gastar é reduzido. Então tem um efeito multiplicador e é por isso que a economia vai contrair mais de 2%.
(...) 
Continuam incorrendo no mesmo erro. Graças à recessão, haverá um corte de arrecadação duas vezes maior do que o que eles haviam esperado economizar”.

Ligia Guimarães
Em novembro,de 2014, o professor associado do Instituto de Economia da Unicamp Pedro Paulo Zahluth Bastos, liderou um manifesto de economistas heterodoxos em apoio à presidente eelita. Dilma Roussef. Na petição, assinada por nomes como o do seu orientador de doutorado, Luiz Gonzaga Belluzzo, e pela economista Maria da Conceição Tavares, o grupo se opunha às propostas de austeridade fiscal defendidas, até então, por economistas e interlocutores do governo e da oposição. O argumento era que o corte de gastos seria um 'tiro no pé' porque desencadearia cenário que tampouco agradaria às agências de risco: levaria o país a uma profunda recessão, reduziria ainda mais a arrecadação de impostos e acabaria de derrubar o ânimo dos investidores.
Em fevereiro, decepcionado com as medidas que vieram com a nova equipe econômica, o economista veio a público em uma "revolta heterodoxa" para criticar a reviravolta de Dilma rumo à ortodoxia, comandada pelo ministro Joaquim Levy. À época, Bastos defendia que o governo comunicasse, com transparência, o abandono da meta de superávit primário de 1,2%, que teria sido baseada em projeções exageradamente otimistas de crescimento e arrecadação.
Em julho, a equipe econômica anunciou a redução da meta fiscal para esforço de 0,15%, seguida de corte adicional de R$ 8,6 bilhões no Orçamento. Para Bastos, a mudança na meta reflete a reação do governo à "resistência política" com que o ajuste foi recebido, mas ainda não é suficiente. "Os cortes que eles fizeram e continuam fazendo já são maiores do que era previsto e não houve reversão. Ajuste fiscal em meio à desaceleração é contraproducente". A seguir, os principais trechos da entrevista: 
(...)
Para continuar a leitura – e ler toda a entrevista -, acesse http://www.valor.com.br/brasil/4166958/ajuste-em-meio-recessao-e-contraproducente






Pedro Paulo Zahluth Bastos – Economista e Professor da Unicamp.
Ligia Guimarães – 06.08.2015.
IN Valor Econômico, ed. impressa.

domingo, 11 de outubro de 2015

Crise humanitária na Europa: entre contradição e hipocrisia


é urgente a concretização de uma política efetiva de Burden-Sharing, em que os países compartilhem o ônus da ajuda humanitária aos imigrantes. Até agora, o que se tem visto é a profunda contradição entre os valores basilares da constituição do bloco europeu e uma realidade de violência e omissão.

Laís Azeredo
A Europa há décadas tornou-se um destino visado por imigrantes, tanto para os que procuram trabalho e melhores condições, quanto para os que não têm outra opção para salvar suas vidas.
Os países do continente lidam com os fluxos migratórios de acordo com suas demandas e seus interesses. Quando convém, abrem as fronteiras e incentivam a entrada da mão de obra necessária. Quando não lhes é mais pertinente, dificultam o ingresso e a permanência regular, criminalizam as entradas irregulares e investem milhões de euros em controle fronteiriço.
Em períodos de recessão econômica, justificativa utilizada por muitos países por sua omissão na acolhida de imigrantes, o orçamento da agência de controle fronteiriço (Frontex) e do Sistema de Vigilância de Fronteiras (Eurosur) recebe significativo aumento. Em 2015, o Frontex recebeu 17,5%, passando de 97 milhões de euros para 114 milhões de euros. A maior parte desse dinheiro vai para operações conjuntas nas fronteiras marítimas. Já a EUROSUR recebeu um aumento de 5 milhões e 300 mil euros (veja aqui). A Agência para Direitos Fundamentais, por sua vez, teve seu orçamento decrescido em 1% com relação a 2014, de acordo com o documento Statement of revenue and expenditure de 2015 (veja aqui). Neste âmbito, a Operação Mare Nostrum, estruturada para ações de resgate no mar, foi substituída em novembro de 2014 pela Operação Triton, cujo objetivo primordial é o controle das fronteiras.
(...)






Laís Azeredo – Internacionalista pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), mestre e Doutoranda pelo PPGRI San Tiago Dantas. Atua na Caritas Arquidiocesana de São Paulo e desenvolve pesquisas sobre a securitização da imigração –
IN Núcleo de Estudos e Análises Internacionais (NEAI-IPPRI-UNESP)






La falseada cuestión de los “migrantes” y refugiados que llegan a la UE


A nadie le gusta emigrar si vive en una sociedad pacífica, organizada, con una cultura incluyente y una economía al servicio de los intereses generales de la población. Esa verdad la escuchamos de las bocas de nuestros abuelos que venían de Italia, de España, de Alemania, Polonia y demás países europeos, y que llegaban a Nuestra América expulsados por la pobreza, las crisis económicas, las guerras y persecuciones religiosas, étnicas y nacionales que han jalonado la historia europea.

Alberto Rabilotta
Las reacciones que las olas migratorias de refugiados provenientes del Oriente Medio, de Siria y otros países, están causando en los países de la Unión Europea (UE) confirma que las elites europeas nada aprendieron de su propia historia pasada y reciente, y que por esa razón son incapaces de pensar y proponer soluciones a problemas cruciales que afligen y afligirán a esa región. 
Nada aprendieron estas elites de las consecuencias de las políticas coloniales e imperiales en los pueblos de los otros continentes, ni en sus propios pueblos. 
La rigidez del “patrón oro” y el liberalismo a ultranza que lanzó una rebatiña imperial y condujo a la Gran Depresión, al fascismo y a la segunda Guerra Mundial es reproducida en el euro, que está provocando depresiones económicas y disolución social en Grecia y otros países de la UE con deudas impagables. 
Tampoco aprendieron las lecciones del pasado de que no hay que coquetear con el fascismo, como muestra el apoyo (sin problema de consciencia) al régimen oligárquico-fascista en Ucrania que está llevando a cabo la política anti-rusa de Washington. 
Porque nada aprenden, para seguir la misma política, es que no quieren ver que los flujos de refugiados que llegan a las costas de Grecia o Italia, después de haber dejado una espantosa estela de náufragos y muertos en el Mediterráneo, son el producto directo de las políticas de países de la UE y de Estados Unidos (EEUU), de la creación de extremistas y fanáticos religiosos para luchar contra la Unión Soviética en Afganistán y luego en Chechenia, y muy particularmente de las agresiones militares que destruyeron a los regímenes seculares en Irak y Libia, y que están desestabilizando y destruyendo la economía y la sociedad secular en Siria. 
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.rebelion.org/noticia.php?id=203058






Alberto Rabilotta – Periodista argentino-canadense – 09.09.2015
IN Rebelión.org.