Márcio Pochmann – “Eu diria que há no Brasil,
historicamente, uma tensão muito grande quanto à perspectiva do desenvolvimento
econômico, entre o desenvolvimentismo e o que hoje é chamado de neoliberalismo.
Há uma tensão entre os desenvolvimentistas e a escola que vê basicamente o
desenvolvimento como produto do mercado, das forças do mercado.
(...)
Infelizmente,
porém, estamos vivendo um momento de cólera, de ódio, que muitas vezes aquilo
que é o nosso campo, que é o debate de ideias, acaba sendo ultrapassado por
visões que a gente só pode lamentar, porque na verdade não são frutíferas.
A
questão mais geral da disputa gira em torno do papel do Estado. Porque temos
uma crença de que o capitalismo não se desenvolve, e nem resolve suas crises,
que são inerentes, de modo próprio: ele pressupõe a ação do Estado.
Então essa
é a grande diferença, porque há a crença, renovada em torno do neoliberalismo,
que não cabe ao Estado qualquer ação porque, quanto mais houver liberdade da
competição, mais ela, por si só, gera o desenvolvimento. Como se o
desenvolvimento fosse algo espontâneo, autônomo. Nós não partimos desse
pressuposto – acreditamos que o capitalismo, deixado livre à sua própria
dimensão, produz mais crises “.
Jornal da Unicamp
O economista, pesquisador e docente
do Instituto de Economia (IE) da Unicamp Marcio Pochmann, ex-presidente do
Ipea, vê em 2015 um risco de retrocesso na trajetória de redução da
desigualdade que o Brasil traçou na primeira década do século 21. “Neste ano
temos um fato novo, que é um ponto de inflexão na trajetória, que vem dos anos
2000, em relação à questão da desigualdade”, disse ele. “Nós possivelmente
deveremos ter um retrocesso. Já estamos observando um aumento do desemprego e
uma queda na massa de salários, diante inclusive dos lucros apresentados pelos
bancos: deveremos ter talvez quase 10% do PIB transferido para o sistema
bancário em função das altas taxas de juros. Esse quadro põe um ponto de
interrogação numa trajetória de redução da desigualdade”.
Pochmann
falou com o Jornal
da Unicamp no lançamento de seu livro Desigualdade
Econômica no Brasil, que reúne dados sobre as diferenças de renda e
riqueza entre os brasileiros, as classes sociais, municípios e regiões do
Brasil, incluindo-os numa perspectiva histórica. “Em primeiro lugar, é preciso
entender que a desigualdade que temos hoje tem a ver com o passado. Um passado
que se forjou a partir de um processo de exclusão gerado pela escravidão”,
lembrou.
“É uma desigualdade que tem passado,
mas também tem presente, e que resulta, por exemplo, nas ineficiências do
Estado brasileiro, da fortaleza do Estado em tributar os pobres e não tributar
os ricos: essa é uma questão que resulta das opções que o Brasil tem feito”,
afirmou. “Mas eu diria que, pelas experiências recentes que tivemos, que o
Brasil pode acelerar o passo e avançar mais rapidamente para construir uma
sociedade menos desigual do que a que temos atualmente”.
(...)
Para continuar a
leitura – e ler toda a entrevista –, acesse http://www.unicamp.br/unicamp/ju/635/pochmann-ve-risco-de-retrocesso-na-reducao-da-desigualdade-no-pais
Márcio Pochmann
– Ex-presidente do IPEA, Professor do Instituto de Economia da Unicamp.
Carlos Orsi
– 28.08.2015.
IN
Jornal da Unicamp.