quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Mais sobre o corte de Ministérios



O final do regime militar inaugura um processo de democratização política que vem possibilitando uma considerável pressão por direitos de cidadania. O aumento da capacidade dos segmentos marginalizados de defender seus interesses e reivindicar o atendimento de suas necessidades por bens e serviços – alimentação, transporte, moradia, saúde, educação, comunicação etc. – vem levando uma crescente demanda por políticas públicas capazes de promovê-lo. (...)

Nos 13 anos de governo do PT, a reorientação das políticas públicas no sentido daquele estilo de desenvolvimento é notória; como são também os resultados alcançados. (...)
 O Estado mínimo, tetraplégico e lobotomizado foi sendo recomposto. Diferentemente do que há muito ocorria, quando a reiterada resolução de agendas decisórias enviesadas segundo os interesses e valores da classe proprietária foi orientando o Estado numa direção conservadora, mantendo, legitimando e até a naturalizando o status quo, a nova coalizão de governo vem buscando transformá-lo. 


Greiner Costa e Renato Dagnino

Provocada pelo anúncio da reversão do “inchamento” da “máquina pública” que parece estar sendo aceita como condição de governabilidade, tem havido no âmbito da esquerda uma interessante discussão acerca de dois aspectos da questão: o do número de ministérios e o da sua baixa eficácia derivada da falta de interação entre eles.

Nesta contribuição que busca interlocução com o artigo “Sete dados para você não falar bobagens sobre a redução dos ministérios” de José Augusto Valente (28/08/15), em http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/7-dados-para-voce-nao-falar-bobagens-sobre-a-reducao-dos-ministerios/4/34358, trataremos em separado esses dois aspectos. E o faremos tendo como referência uma reflexão sobre o caráter do Estado capitalista e seu rebatimento sobre o caso brasileiro.

Uma das imagens mais elucidativas do conceito de Estado é o de uma “garrafa de água gelada” num dia quente e úmido. É nela (aparelho institucional, leis, prédios, pessoas) que se condensam os vapores dispersos na atmosfera (interesses e poderes de empresas, bancos, sindicatos, movimentos sociais, igrejas, mídia) transformando-se em líquido (materializando suas agendas e seus projetos políticos).

Essas gotas de vapor d’água condensado que se fixam na parede da garrafa (interface Estado-sociedade) são os arranjos (ministérios, agências, políticas, programas, carreiras, etc.) que os atores sociais, em função da relação de forças políticas têm que institucionalizar para exercer seu poder.

(...)









Renato Dagnino – Professor titular no Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp;
Greiner CostaDoutor em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp – 06.09.2015
IN Carta Maior.