Dos primórdios da
psicanálise, um cenário inimaginável atualmente é a configuração da prática
clínica. Nos tempos de Freud, o analisado fazia sessões seis vezes por semana.
Nos dias atuais, ter à disposição 50 minutos durante uma vez por semana para
simplesmente falar sobre o que lhe vier à cabeça (mas sendo ouvido), longe da
agitação do lado de fora do consultório, pode chocar os “empresários de si
mesmos”. Na cultura do ato, a reflexão é uma subversão.
Bruno Yutaka Saito
Dick
Cavett, o entrevistador, pergunta para Woody Allen: “Como você
sabe se a psicanálise te ajudou? Quando você decide que terminou?” Era 1971 e o
cineasta americano ainda não tinha feito clássicos como “Noivo Neurótico, Noiva
Nervosa” nem se tornado uma espécie de garoto-propaganda informal da
teoria/prática terapêutica criada por Sigmund Freud (1856-1939). “Não sei se você
realmente termina. Sei que certas características minhas estão diferentes de
quando eu comecei. Eu tinha 22 anos e agora tenho 35. Então tenho idade – e
isso é algo”, responde Allen no talk-show, em seu habitual tom zombeteiro que
busca disfarçar, mas nem tanto, temas graves.
Neste
começo de século XXI, em que homens, profissões, produtos e formas de
pensamento enfrentam o risco constante de se tornar obsoletos, a psicanálise,
uma das grandes criações do século XX, pode parecer uma prática excêntrica ou
anacrônica, como ouvir discos de vinil e usar máquina de escrever. Freud vai se
juntando a nomes como Karl Marx (1818-1883) na galeria dos pensadores que são
demonizados em ondas revisionistas. Entre os defensores está a francesa Élisabeth Roudinesco, autora de uma nova biografia de Freud.
Enquanto
rapidez, performance e resultados mensuráveis são buscados constantemente no
cenário contemporâneo, a psicanálise caminha em um ritmo particular. Seus
detratores costumam recitar três críticas: ela não tem eficácia comprovada,
seria um método caro e tem duração longa. Nos EUA, foi moda entre os anos 40 e
60 ao ser confundida com uma terapia da felicidade e teve entusiastas como
Alfred Hitchcock (1899-1980) e Leonard Nimoy (1931-2015).
Hoje,
naquele país, pouco se questiona se a psicanálise é ciência ou filosofia,
posição intermediária que lhe confere lugar peculiar na produção de
conhecimento do Ocidente. Enquanto a psicologia vai se tornando mais
científica, a psiquiatria, mais biológica, e a neurociência faz o mapeamento do
cérebro, a psicanálise vem sendo estudada nos departamentos de letras das
faculdades americanas. Nessa interpretação, ela é um modo de entender a
construção da história pessoal do indivíduo. No Brasil, mantém proximidade com
departamentos de psicologia.
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Bruno Yutacca Saito – 28.08.2015.
IN Valor Econômico, ed. Impressa,
caderno Eu & fim de semana.
Um
Freud entre Fausto e Mefisto
Elisabeth
Roudinesco – “[o legado de freud] é uma grande revolução, ao lado ddas
realizadas por Charles Darwin 91809-1882) e Karl Marx (1818-1883). É difícil
pensar que temos um inconsciente, um psiquismo complicado. Freud contribuiu com
isso. É imprescindível e vai além do interesse terapêutico da metodologia. No
cotidiano, usamos termos como lapso, inconsciente. A ideia de que as pessoas
tÊm um inconsciente é amplamente difundida. Meu livro foi traduzido na China,
embora quase não existam psicanalistas no país. Por quê? Porque Freud é um
grande pensador“.
Daniela Fernandes
Se Setenta e seis anos
após a morte de Sigmund Freud, que serão completados em 26 de setembro, o
criador da psicanálise continua sendo tema de inúmeros estudos e publicações.
Uma nova biografia, “Sigmund Freud – En Son Temps et dans le Nôtre” (Em seu
tempo e no nosso), da historiadora francesa Élisabeth Roudinesco, chegará às
livrarias brasileiras no começo de 2016 pela editora Zahar.
Lançada no ano passado
na França, a obra de Elisabeth, de 592 pátinas é a primeira biografia sobre
Freud (1856-1939) escrita por uma grande autoridade francesa na área. O livro
já vendeu 25 mil exemplares e será lançado em uma dezena de países entre Turqua
e China. Elisabeth restitui, com estilo de romance, o ambiente da Viena onde
viveu Freud no fim do século XIX.
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Para continuar a leitura, acesse http://www.valor.com.br/cultura/4199300/um-freud-entre-fausto-e-mefisto
Elisabeth Roudinesco – historiadora francesa autora de biografia de
Sigmund Freud.
Daniela Fernandes – 28.08.2015.
IN Valor Econômico, Ed. Impressa.