segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A concentração de renda é maior do que se imaginava




Estudos supervisionados por Piketty, Saez e Medeiros colocam o Brasil no mapa da desigualdade.

Marcos de Aguiar Villas-Bôas
O best-seller de Thomas Piketty, que ganhou enorme notoriedade em 2014, não pode incluir o Brasil nas suas análises, uma vez que os dados necessários não estavam disponíveis.
Isso veio mudando de lá para cá. A Receita Federal passou a divulgar mais dados sobre as declarações de Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), o que tem permitido a realização de trabalhos muito importantes para compreender a evolução histórica da desigualdade e as suas relações com as decisões do Estado, como aquelas sobre tributação.
Dois recentes trabalhos sobre desigualdade brasileira merecem divulgação. Um deles foi realizado por Marc Morgan Milá na Paris School of Economics, sob supervisão do próprio Piketty. O outro foi realizado por Pedro Souza, pesquisador do Ipea que estudou nos Estados Unidos com Emmanuel Saez, um dos principais parceiros de Piketty e um dos maiores especialistas do mundo em desigualdade e progressividade do imposto de renda. No Brasil, Pedro contou com a orientação de Marcelo Medeiros, provavelmente o maior expoente do País nessa área.
Ambos os trabalhos demonstram que a análise da desigualdade a partir de declarações tributárias leva à conclusão de uma concentração de renda muito maior do que nos estudos a partir de pesquisas domiciliares, como a Pnad.
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Marcos de Aguiar Villas-Bôas —14.01.2016.
IN Carta Capital.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Quem vai salvar a polícia da política?


Controlar a discricionariedade da polícia no varejo de suas interações cotidianas com os cidadãos é das missões mais espinhosas no Estado de Direito. Aplicar à polícia o ideal do “Governo das leis e não dos homens”, em particular num evento tão escorregadio e imprevisível quanto protestos, é uma empreitada jurídica altamente falível. São zonas em que o direito mais rápido evapora e o arbítrio predomina se não tivermos instituições bem preparadas para monitorar comportamentos, detectar desvios, e admitir erros (que são inevitáveis).

Conrado Hübner Mendes
A democracia brasileira herdou uma polícia que não joga em seu favor. Para quem ainda não conhecia este fato, os últimos três anos ofereceram uma demonstração muito visível. Afinal, sua violência gratuita se tornou mais palpável: das periferias e favelas se expandiu para os centros urbanos a partir de manifestações políticas de massa. Esses eventos ensinaram muito sobre a polícia que não deveríamos ter, e deram mais clareza para as reformas há anos recomendadas por estudiosos. Desmilitarização e unificação seriam o norte de uma mudança para melhor. Propostas de emenda constitucional nessa direção dormitam no Congresso sob o triste silêncio de lideranças políticas.
Há muito, portanto, que se fazer. Antes que a política legislativa consiga dar esse passo mais ousado, contudo, mudanças institucionais e comportamentais de menor envergadura poderiam evitar a violência que assistimos nessa semana em São Paulo (e que se repetem em tantas capitais do Brasil). Esses ajustes estão ao alcance do Governo estadual, com o auxílio de instituições como judiciário e o Ministério Público.
Foi interessante acompanhar, nos últimos dias, a disputa pela narrativa mais verossímil dos fatos que ocorreram na av. Paulista. Dessa disputa participaram manifestantes, jornalistas, PMs e seus superiores – governador e secretário de segurança. Alguns presenciaram o evento direto da avenida, com seus cinco sentidos; outros, de seus gabinetes e estúdios. Interpretações se multiplicaram, mas há fatos incontroversos, documentados em vídeos, depoimentos e fichas hospitalares. Houve pânico, correria e cerco policial a pedestres que não participavam do protesto e não dispunham de vias de fuga. Houve bomba, gás e cassetete. Dezenas de feridos.
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Conrado Hübner Mendes – Professor de direito constitucional na Faculdade de Direito da USP – 18.01.2016.
IN El Pais Brasil.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Microcefalia após epidemia do zika vírus reabre debate sobre aborto


ONG feminista pretende cobrar no STF o direito de escolha das mulheres e a responsabilidade do governo diante de uma epidemia que não foi controlada.

Nívea Ribeiro
A epidemia de zika, que colocou o país em emergência de saúde, reabriu o debate sobre as possibilidades de aborto. Essa discussão, que já ocorre no Judiciário, deve chegar ao Congresso Nacional. A deputada Maria do Rosário (PT-RS), favorável a uma legislação mais ampla sobre o aborto, se opõe à proposta de autorizar por via judicial o aborto de fetos com suspeita de microcefalia. A ideia foi levantada pela organização não governamental feminista Anis — Instituto de Bioética. A ONG, autora da ação que autorizou, via Supremo Tribunal Federal (STF), a interrupção da gestação de fetos anencéfalos, em 2012, pretende conseguir o mesmo, novamente pelo STF, para suspeitas de microcefalia.
“A microcefalia é diferente da anencefalia, pois nasce uma pessoa com deficiência. No espírito da lei atual, o caso não estaria contemplado”, explica Maria do Rosário. “Uma coisa é a descriminalização do aborto em geral. Outra, a liberação em caso de malformação. Uma pessoa com malformação é parte da sociedade. Acredito que a legislação deveria ser mais abrangente, e não focada na deficiência”.
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Nívea Ribeiro – 30.01.2016.
IN Correio Brasiliense.

'Aborto já é livre no Brasil. Proibir é punir quem não tem dinheiro', diz Drauzio Varella


Dráuzio Varella – “A mulher rica faz normalmente e nunca acontece nada. Já viu alguma ser presa por isso? Agora, a mulher pobre, a mulher da favela, essa engrossa estatísticas. Essa morre.
Proibir o aborto é punir quem não tem dinheiro".


Ricardo Senra
Médico mais popular do Brasil, conhecido por quadros na televisão, vídeos em redes sociais e best-sellers como Estação Carandiru, Drauzio Varella é categórico quando o assunto é a interrupção de gestações. "O aborto já é livre no Brasil. É só ter dinheiro para fazer em condições até razoáveis. Todo o resto é falsidade. Todo o resto é hipocrisia."
Em entrevista por telefone, Varella critica qualquer enfoque religioso sobre o tema - que voltou ao noticiário junto à epidemia de zika vírus e aos recordes em notificações de microcefalia - e afirma que o cerne da discussão não está na moralidade, mas na desigualdade brasileira.
"Ninguém pode se considerar dono da palavra de Deus, intermediário entre deuses e seres humanos, para dizer o que todos devem fazer", diz. "Muitos religiosos pregam que o aborto não é certo. Se não está de acordo, não faça, mas não imponha sua vontade aos outros."
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Ricardo Senra – 02.02.2016.
Dráuzio Varella – médico e escritor.
IN BBC Brasil.


domingo, 21 de fevereiro de 2016

Desconstrução midiática na América Latina


Atraídos pela onde de privatizações de empresas estatais que antecedeu a maioria dos governos de centro-esquerda, os bancos Santander, BBVA e Bankia, juntamente com Telefónica, Repsol, Iberdrola, Endesa e Gas Natural Fenosa, realizam simbólicamente o segundo desembarque espanhol nas Américas, não contribuindo propriamente ao desenvolvimento econômico e o bem-estar social dos seus cidadãos, mas reeditando o que alguns estudiosos consideram um deslavado saque dos mercados de serviços e de recursos naturais, com altíssimo custo para os direitos humanos e o meio ambiente. Um “segundo desembarque” exitoso, enfim, graças à impiedosa aliança com mídias e forças ultra conservadoras, empenhadas na desestabilização e derrubada de governos democráticos.

Frederico Füllgraf
“…Nossos adversários dizem: ‘Sim, anos atrás, nós garantimos a liberdade de opinião a vocês’.   Sim vocês a nós! Mas esta não é uma prova de que nós a devemos garantir a vocês!
Que vocês a deram a nós é apenas uma prova do burros que são!”Joseph Goebbels (discurso, 4/12/1935).
Estamos em guerra.
Em uma audiência para rádios e televisões católicas, ocorrida em março de 2014, ninguém menos que o Papa Francisco declarou: “Hoje, o clima midiático tem suas formas de envenenamento. As pessoas sabem, percebem, mas infelizmente se acostumam a respirar da rádio e da televisão um ar sujo, que não faz bem. É preciso fazer circular um ar mais limpo. Para mim, os maiores pecados são aqueles que vão na estrada da mentira, e são três: a desinformação, a calúnia e a difamação”. O uruguaio Aram Aharonian, fundador da TeleSur, alerta: “Vivemos em plena batalha cultural: a guerra pela imposição de imaginários coletivos se dá através de meios cibernéticos, audiovisuais e da imprensa… São golpes baixos permanentes, noticias… que não têm contextualização, mas que conseguem impactar o coletivo e já foram empregadas para desestabilizar os governos populares da América Latina”.
Está em curso a insurreição impulsionada por um “latifúndio midiático” contra os governos da Venezuela e Argentina, do Brasil e Equador, assinala Ignacio Ramonet, ex-diretor do Le Monde Diplomatique, e adverte: “A principal batalha a ser esgrimida pelos governos democráticos e distruibuidores de renda na América Latina, é a da Comunicação”. No Brasil, enquanto hesita em aprovar a regulação do mercado de comunicação, prometido em campanha, o governo Dilma Rousseff vai perdendo a batalha. Na Argentina e no Ecuador, com penosa tramitação judicial, foram adotadas leis de regulação de mercado e de políticas de comunicação, que não conseguiram conter as escaladas dos jornais Clarín (Buenos Aires) e El Universo (Quito).
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Frederico Füllgraf – Jornalista baseado no Chile – 05.01.2016.
IN Observatório de Imprensa, edição 884.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Renda do capital versus renda do trabalho


Entre 1995-2002, o juro real médio anual se elevou 15,1% e o rendimento médio real dos trabalhadores teve uma queda anual média de -1,05%. Já entre 2002 e junho de 2015, o juro real médio anual aos investidores foi de 6,6%, e as variações do salário real tiveram média anual de 1,1%.

Fernando Nogueira da Costa
Em 2003, segundo a PNAD, quando se considerava a escolaridade média do trabalhador em percentual do total de ocupados, se encontrava 24,8% com 11 a 14 anos de estudo e 7,7% com 15 ou mais de estudo. Com cerca de 7 milhões de estudantes universitários, dez anos depois, esse percentual somado de 32,5% passou para 49%, ou seja, quase metade da força de trabalho ocupada era composta de universitários com cursos completos (13%) ou não (36%).
Pesquisa da OCDE indica que quem completa o ensino superior, no Brasil, receberá em média 157% mais renda do que quem só terminou o ensino médio. A média dos países da OCDE é de 57%.
Pelo último Censo Demográfico, eram 8.979.706 trabalhadores formados em universidade. Além desses, existiam 451.209 com mestrado e 170.247 com doutorado. Estes 9.601.162 profissionais com ensino superior completo equivaliam a 15,3% dos trabalhadores formais.
Na classe do 1% com renda mais elevada, estavam 62,4% graduados e 14,4% pós-graduados. Somente 23,2% dessa classe de renda não tinham ensino superior.
Um quarto dos graduados trabalhava em administração, negócios e economia. Nessa atividade com 2.274.184 profissionais, encontravam-se 15,4% do 1% com renda mais elevada.
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Fernando Nogueira da Costa – Professor livre-docente do IE-Unicamp. Autor de “Brasil dos Bancos” (Edusp, 2012), ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal (2003-2007) – 30.10.2015
IN Brasil Debate.



terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O país dos elegantes


 o que está em discussão é quem são os verdadeiros donos do poder.
E os donos legítimos do poder são os elegantes. Aqueles com relação aos quais não interessa saber como amealharam riqueza porque, simplesmente, a riqueza lhes cai bem.
A casa grande tem um perfume que inebria toda a lavoura arcaica e sensibiliza até a senzala. (…)
O Brasil é o país dos elegantes. De uma elegância classista, racista e preconceituosa deitada eternamente no berço esplêndido do aristocrático século XIX.

Flávio de Castro
Eu confesso que não sei a verdade: não sei se Lula é ou não dono de um triplex no Guarujá como não sei se FHC é ou não dono de um apartamento na Avenue Foch, em Paris.
Sei apenas que a presunção de ser dono de um triplex no Guarujá é inequivocamente associada à corrupção e a presunção de ser dono de um apartamento em Paris não tem nada a ver, obviamente, com corrupção.
Especialmente se o apê do Guarujá for um tanto novo-rico e o apê de Paris, um tanto elegante.
A questão é estética.
Lula carregando uma caixa de isopor e sendo dono de um barco de lata é uma cômica farofa. Se FHC carregasse uma caixa de isopor e fosse dono de um barco de lata seria uma concessão à humildade.
A questão é classista.
Um Odebrecht sentado à mesa com FHC é um empresário rico. O mesmo Odebrecht sentado à mesa com Lula é um pagador de propina.
Nada disso tem a ver com corrupção. Nada disso revela qualquer preocupação com o país.
A cada dia que passa, é mais evidente que o que está em discussão é quem são os verdadeiros donos do poder.
E os donos legítimos do poder são os elegantes. Aqueles com relação aos quais não interessa saber como amealharam riqueza porque, simplesmente, a riqueza lhes cai bem.
A casa grande tem um perfume que inebria toda a lavoura arcaica e sensibiliza até a senzala. É o que estamos assistindo.
Tudo o mais, tudo o que não é casa grande é Lula e os amigos de Lula!
A questão é preconceito.
Vejam como um fraque cai naturalmente bem em FHC. Um fraque assim em Lula, certamente, deveria ter sido roubado.
O Brasil é o país dos elegantes. De uma elegância classista, racista e preconceituosa deitada eternamente no berço esplêndido do aristocrático século XIX.


Flávio de Castro – Professor de arquitetura da UNIFEMM – 31.01.2016.
Post no perfil do autor no Facebook (In https://web.facebook.com/flaviojrdecastro?fref=ts ).

sábado, 13 de fevereiro de 2016

A quem serve a classe média indignada?


Cientista político e presidente do Ipea rejeita, em novo livro, interpretações do Brasil como a de Sérgio Buarque de Holanda. Negando a ideia de que jeitinho e corrupção sejam exclusividades nacionais herdadas da colonização, aponta o “racismo de classe” e o abandono dos excluídos como raízes dos problemas do país.

Marcelo Coelho
Confusão entre o público e o privado, compadrio, herança católica portuguesa, predomínio das relações pessoais e familiares sobre o sistema de mérito, corrupção. Ao contrário do que em geral se pensa, nada disso é característica exclusiva do Brasil.
Para Jessé Souza, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, e doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha), criou-se no Brasil, à esquerda e à direita, um legado de equívocos a partir do pensamento de Sérgio Buarque de Holanda (1902-82), que merece ser classificado como um verdadeiro “complexo de vira-lata”.
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Marcelo Coelho – 10.01.2016
Jessé Souza – Sociólogo, Professor Universitário e presidente do IPEA.

IN Folha de São Paulo (Republicado em Substantivo Plural). 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O Lulismo nas cordas



Depois de uma década virtuosa, marcha rooseveltiana perde o rumo e chega ao final de 2015 perto do colapso.
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Como se formou o tsunami que fez o lulismo submergir. A resposta implica considerar múltiplos fatores, alguns estruturais, outros, conjunturais. No coquetel precisam entrar a mudança de fase da economia mundial, a orientação audaz, porém pouco sustentável, adotada por Dilma na economia e na política durante o primeiro mandato, a equivocada camplanha de 2014, a atração do centro pés materialista de classez média pela direita, o sucesso da operação mãos limpas à brasileira e  a ascenção parlamentar de um peemidebista atípico.

André Singer
Nessas mesmas páginas (“O lulismo e seu futuro, piaui_49, outubro, 2010), às vésperas da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff, sugeri comparar o ciclo lulista ao do New Deal, articulado por Franklin Delano Roosevelt a partir de 1933 e vigente, de algum modo, nos Estados Unidos até por volta de 1968. N os meses que precederam a eleição de 2010, circulava um livro do Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman (A Consciência de um Liberal) com relato inspirador de aspectos da experiência norte-americana. Por cerca dde três décadas, o sucesso rooseveltiano determinou que houvesse emprego para a maioria e aumentos salariaias constantes. A promoção de igualdade levara grande parte dos habitantes “a uma vida material reconhecidamente decente e similar”. Em 1966, 80% da populaão norte-americana, por exemplo, tinha seguro-saúde, porcentagem que era de apenas 30% ao final da Segunda Guerra.
Não imaginei que o processo inaugurado por Luiz Inácio Lula da Silva fosse produzir efeitos concentrados. Quem tiver a paciência de consultar “Os sentimentos do Lulismo”, na versão original uma tese de livre-docência escrita no começo de 2011, verá que chamo de “reformismo fraco” o estilo homeopático de mudanças propiciado pelo ex-metalurgico. Aplicado a país de desigualdades abissais como o Brasil, não teria o resultado sintético visto nos Estados Unidos. Mas se prosseguisse por tempo dilatado dos realinhamentos eleitorais norte-americanos, porderia, ao final de algumas décadas, resultar na integração de parte significatava do subproletariado brasileiro ao estágio minimamente civilizado que faixas intermediárias tinhama alcançado, deixando para trás o problema fundante de inorganicidade de seter substantivo da sociedade brasileira. O subproletariado é aquela fração da classe trabalhadora – nada a ver com o lumpesinato – que está aquém das condições mínimas de renda e direitos (carteira de trabalho, por exemplo) que lhe permitiriam participar da luta de classes. Dito de maneira ampla, o subproletariado brasileiro abarca o vasto contingente que labuta na informalidade com rendimentos familiares mensais abaixo de dois salários mínimos.
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André Singer – Cientista Político e Professor da USP – dezembro de 2015.
IN Revista Piauí, n. 111.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Marco Legal de Ciência e Tecnologia: O que muda na vida dos pesquisadores?



Ao todo, nove leis são modificadas pelo Marco Legal, que foi discutido ao longo de cinco anos com a comunidade científica e empresarial.

Herton Escobar
Universidades públicas e empresas privadas poderão trabalhar de forma muito mais próxima a partir de agora, segundo uma nova lei sancionada nesta semana pela presidente Dilma Rousseff. Chamada de Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, ela permite, entre outras novidades, que professores em regime de dedicação integral desenvolvam pesquisas dentro de empresas e que laboratórios universitários sejam usados pela indústria para o desenvolvimento de novas tecnologias — em ambos os casos, com remuneração.
“É o início de uma nova fase para a pesquisa e inovação tecnológica no Brasil”, disse a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, após a cerimônia de assinatura do projeto, em Brasília.
Outro aspecto importante, elogiado por empresários e pesquisadores, é a desburocratização dos sistemas de licitação, compra e importação de produtos destinados à pesquisa científica e tecnológica. O novo marco altera a famigerada Lei de Licitações 8.666, dispensando a obrigatoriedade de licitação para “aquisição ou contratação de produto para pesquisa e desenvolvimento”.
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Herton Escobar – 13.01.2016.
IN O Estado de São Paulo.



sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Governo anuncia medidas de crédito para injetar R$ 83 bilhões na economia

 

Segundo o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, as medidas não resultarão em custo para o governo porque os financiamentos terão taxas de mercado e o governo está apenas simplificando procedimentos e reduzindo riscos, o que ajuda o próprio mercado a reduzir as taxas de juros.

Wellton Máximo
Para impulsionar a produção e recuperar o crescimento, o governo anunciou hoje (28) medidas de estímulo ao crédito que injetarão R$ 83 bilhões na economia. Algumas ações de estímulo foram anunciadas mais cedo pela presidenta Dilma Rousseff, no encerramento da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão.
A medida que, segundo o governo, terá mais impacto sobre a economia é a agilização da aplicação dos recursos do Fundo de Infraestrutura do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS) em empreendimentos da área e a simplificação da emissão de debêntures de infraestrutura, que liberará até R$ 22 bilhões. Essa medida, no entanto, necessita de aprovação do Congresso Nacional.
Em segundo lugar, está a autorização para que parte da multa rescisória do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), paga em demissões sem justa causa, possa ser usada como garantia para o crédito consignado – com desconto das parcelas diretamente no salário – por trabalhadores do setor privado. A expectativa do governo é que a medida resulte na injeção de R$ 17 bilhões em crédito. Em seguida, vem a abertura da linha de crédito para refinanciar as prestações do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e do Programa de Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Finame), que deverá resultar em empréstimos de R$ 15 bilhões.
O governo também anunciou o reforço da concessão de crédito por bancos públicos com taxas menores que as de mercado.
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Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil – 28.01.2016.
Colaboraram Paulo Victor Chagas e Sabrina Craide.
IN Agência Brasil.



A virada de Dilma

[Do Ponto de Vista Social] não apenas o maior número de manifestantes pró-legalidade – cujos atos ocorreram no dia 16/12 –, mas sua representatividade e diversidade, demonstraram a força da sociedade brasileira cuja democracia política e social são valores essenciais. Não bastasse isso, as manifestações dos grupos de classe média tradicional – a chamada “classe média burguesa” – vêm diminuindo de maneira vigorosa, no limiar da desidratação, como pode ser observado no ato do dia 13/12, data funesta à democracia brasileira por coincidir com o famigerado AI-5. A simbologia desta data não poderia ser mais significativa, mas fundamentalmente demonstra o “tiro curto” de lideranças de movimentos como MBL, Vem Pra Rua e outros, cada vez mais reduzidos à insignificância política da qual são portadores, pois, além do mais, tinham em Cunha (!) seu esteio anticorrupção! A ascensão de movimentos partidários, sociais e populares, legalistas e de esquerda, que passaram a superar suas divergências em nome da manutenção do mandato legal de Dilma, e compreenderam que muito além do impeachment da presidente o que está em jogo é a democracia política – o que inclui direitos civis –, social e trabalhista, e a própria agenda de esquerda no país: tal ascensão torna-se sustentáculo da democracia e, nesse momento, do mandato de Dilma.

Francisco Fonseca
Embora a conjuntura política brasileira permaneça extremamente fluida desde o início do ano, com lances e contralances diversos em distintas direções, os acontecimentos da última semana aparentemente são promissores ao Governo Dilma, uma vez que ganhou musculatura para virar a página das crises intermináveis que estamos vivenciando dramaticamente.
Mesmo correndo-se o risco de a análise abaixo ser abalroada pela multiplicidade de atores, pontos de veto e novos lances, o fato é que está se delineando um novo quadro político no país, uma espécie de “luz ao final do túnel” como há muito não se via.
O conjunto de fatos – conjugados – a seguir apontam nessa direção, embora não sem contradições:
  1.       Do ponto de vista institucional: a decisão do STF de revogar essencialmente as deliberações dos golpistas no Congresso, lideradas por Eduardo Cunha, com toda sorte de manobras, atentados ao regimento e sobretudo à Constituição traz, sem dúvida, alento para se barrar o “golpe parlamentar” em andamento desde a divulgação do resultado eleitoral que proclamou Dilma presidente da República. Embora algumas decisões do STF, caso do modus operandi de todo e qualquer processo de impeachment, sejam questionáveis, notadamente quanto ao quórum da Câmara e do Senado à admissibilidade e julgamento do chefe do Executivo, assim como o fato de manter na presidência da Câmara um parlamentar (Cunha) cujas provas materiais – apontadas o procurador-geral Rodrigo Janot – são inquestionáveis a ponto de intitulá-lo como “chefe de quadrilha”: apesar dessas, e outras contradições, o fato é que a manobra golpista de Cunha, Temer e parte do PMDB, do PSDB/DEM e outros, foi derrotada nesse momento. Não bastasse isso, espera-se que as Operações Lava Jato e Zelotes, entre outras, em algum momento cheguem ao PSDB/DEM/Mídia, uma vez que profundamente enlameados, em distintas situações, com mecanismos ilegais, conforme diversas evidências vêm apontando, embora sem ações institucionais efetivas até o momento.

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Francisco Fonseca – Prof. da FGV/Eaesp e PUC/SP – 20.12.2016.
IN Carta Maior.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Um limite para a Lava–Jato


A lava-jato terá que parar em algum momento. O que não sabemos é se isso acontecerá antes ou depois de todos os partidos e principais líderes serem punidos, abrindo espaço para a solução italiana, de destruição de um sistema que, mal ou bem, permitiu que o Ministério Público existisse, e que tenhamos o Tribunal de Contas da União (TCU) e outras instituições que controlam o próprio sistema.

Alberto Carlos Almeida
A prova de uma delação premiada é uma nova delação. Podemos imaginar aqui um conto fantástico e surrealista, a la Jorge Luís Borges, no qual os atuais presos e incriminados na Operação Lava-Jato, ao confessarem seus crimes e na busca de reduzir suas penas, delatem cada um deles mais três pessoas. Temos a pirâmide da delação. O primeiro preso, que deu origem a tudo, decidiu delatar somente um, mas, a partir daí, delatam-se três pessoas a cada rodada. Entramos então em uma progressão geométrica: 3 presos delatam 9, estes delatam 27, que delatam 81, que vão delatar 243, que e3ntregarão 729 descumpridores da lei. Entre a 18a e 19a rodadas de delação, todos os 200 milhões de brasileiros serão presos, incluídos, ouso dizer, até mesmo aqueles que hoje tocam a Operação Lava-Jato
O último que entrar na prisão joga a chave fora e lá dentro, já encarcerados, teremos que estabelecer um governo. Isso só não ocorrerá sob duas hipóteses: se a Lava-Jato parar em algum momento ou se houver brasileiros que cumpram rigorosamente todas as leis, não deixando margem alguma para serem punidos. Creio que a primeira hipótese é a mais provável. Em suma, a Lava-Jato terá que parar em algum momento.
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Alberto Carlos Almeida – Sociólogo e professor universitário – 23.12.2015.
IN Valor Econômico, ed. Impressa (Republicado em Grupom Consultoria e Pesquisas)




Um basta à Operação Lava-Jato 2

Quanto mais sucesso a Operação Lava-Jato tiver, paradoxalmente, mais o combate sustentável à corrupção estará ameaçado. Destruir PT, PSDB ou o PMDB, os três, dois deles ou somente um, não fará bem à redução contínua da corrupção.


Alberto Carlos Almeida
Construir é sempre muito mais difícil do que destruir. Isto se aplica a praticamente todos os aspectos da vida pessoal, social e até mesmo a coisas materiais. Grandes obras, como barragens, pontes ou prédios, levam anos para serem feitas. A acumulação de conhecimento de física, química e engenharia, necessária para que essas construções fossem viabilizadas levou décadas, ou séculos. Uma vez concluídas, porém, podem ser destruídas da noite para o dia. É o que se vê nas implosões de edifícios ou viadutos. Em segundos, vão ao chão.
Relacionamentos pessoais - entre mulher e marido, entre amigos, entre sócios - tomam muito esforço e um longo tempo para serem construídos. O principal ativo de tais relacionamento é a confiança. Tal como um ativo positivo de reputação, a confiança fica mais forte na medida em que é utilizada. O paralelo entre sociedade e casamento já se tornou lugar comum: primeiro há o namoro, em seguida o noivado e, por fim, o casamento - comemorado em passagens especiais, como 25 e 50 anos no caso dos cônjuges. Cada etapa tem uma denominação diferente e são, entre outras coisas, estágios ou degraus do fortalecimento da relação de confiança.
O que leva muito tempo para ser feito pode ser destruído com facilidade. Inúmeros casamentos chegam ao fim com a descoberta de uma eventual infidelidade ou sociedades terminam quando um sócio rouba o outro. Também aqui, construir é algo penoso e lento, ao passo que a destruição pode ocorrer com facilidade e rapidez.
O que vale para uma ponte, um prédio e um relacionamento entre duas pessoas é ainda mais válido para as instituições sociais e políticas. É fácil argumentar que uma instituição como o presidencialismo, no Brasil, levou mais de um século para ser institucionalizada, consolidada. Outras coisas, como o sistema partidário, levam menos tempo. Nada, porém, que seja mais curto do que uma ou duas décadas. Basta que o leitor reflita acerca de quanto tempo foi necessário para que o PT, o PSDB e o PMDB se consolidassem como partidos políticos. Note-se que não estamos falando de um sistema partidário oco, vazio, sem significado.
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Alberto Carlos Almeida – Sociólogo e Professor universitário – 08.01.2016.
IN Valor Econômico, ed. Impressa.