terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Um limite para a Lava–Jato


A lava-jato terá que parar em algum momento. O que não sabemos é se isso acontecerá antes ou depois de todos os partidos e principais líderes serem punidos, abrindo espaço para a solução italiana, de destruição de um sistema que, mal ou bem, permitiu que o Ministério Público existisse, e que tenhamos o Tribunal de Contas da União (TCU) e outras instituições que controlam o próprio sistema.

Alberto Carlos Almeida
A prova de uma delação premiada é uma nova delação. Podemos imaginar aqui um conto fantástico e surrealista, a la Jorge Luís Borges, no qual os atuais presos e incriminados na Operação Lava-Jato, ao confessarem seus crimes e na busca de reduzir suas penas, delatem cada um deles mais três pessoas. Temos a pirâmide da delação. O primeiro preso, que deu origem a tudo, decidiu delatar somente um, mas, a partir daí, delatam-se três pessoas a cada rodada. Entramos então em uma progressão geométrica: 3 presos delatam 9, estes delatam 27, que delatam 81, que vão delatar 243, que e3ntregarão 729 descumpridores da lei. Entre a 18a e 19a rodadas de delação, todos os 200 milhões de brasileiros serão presos, incluídos, ouso dizer, até mesmo aqueles que hoje tocam a Operação Lava-Jato
O último que entrar na prisão joga a chave fora e lá dentro, já encarcerados, teremos que estabelecer um governo. Isso só não ocorrerá sob duas hipóteses: se a Lava-Jato parar em algum momento ou se houver brasileiros que cumpram rigorosamente todas as leis, não deixando margem alguma para serem punidos. Creio que a primeira hipótese é a mais provável. Em suma, a Lava-Jato terá que parar em algum momento.
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Alberto Carlos Almeida – Sociólogo e professor universitário – 23.12.2015.
IN Valor Econômico, ed. Impressa (Republicado em Grupom Consultoria e Pesquisas)




Um basta à Operação Lava-Jato 2

Quanto mais sucesso a Operação Lava-Jato tiver, paradoxalmente, mais o combate sustentável à corrupção estará ameaçado. Destruir PT, PSDB ou o PMDB, os três, dois deles ou somente um, não fará bem à redução contínua da corrupção.


Alberto Carlos Almeida
Construir é sempre muito mais difícil do que destruir. Isto se aplica a praticamente todos os aspectos da vida pessoal, social e até mesmo a coisas materiais. Grandes obras, como barragens, pontes ou prédios, levam anos para serem feitas. A acumulação de conhecimento de física, química e engenharia, necessária para que essas construções fossem viabilizadas levou décadas, ou séculos. Uma vez concluídas, porém, podem ser destruídas da noite para o dia. É o que se vê nas implosões de edifícios ou viadutos. Em segundos, vão ao chão.
Relacionamentos pessoais - entre mulher e marido, entre amigos, entre sócios - tomam muito esforço e um longo tempo para serem construídos. O principal ativo de tais relacionamento é a confiança. Tal como um ativo positivo de reputação, a confiança fica mais forte na medida em que é utilizada. O paralelo entre sociedade e casamento já se tornou lugar comum: primeiro há o namoro, em seguida o noivado e, por fim, o casamento - comemorado em passagens especiais, como 25 e 50 anos no caso dos cônjuges. Cada etapa tem uma denominação diferente e são, entre outras coisas, estágios ou degraus do fortalecimento da relação de confiança.
O que leva muito tempo para ser feito pode ser destruído com facilidade. Inúmeros casamentos chegam ao fim com a descoberta de uma eventual infidelidade ou sociedades terminam quando um sócio rouba o outro. Também aqui, construir é algo penoso e lento, ao passo que a destruição pode ocorrer com facilidade e rapidez.
O que vale para uma ponte, um prédio e um relacionamento entre duas pessoas é ainda mais válido para as instituições sociais e políticas. É fácil argumentar que uma instituição como o presidencialismo, no Brasil, levou mais de um século para ser institucionalizada, consolidada. Outras coisas, como o sistema partidário, levam menos tempo. Nada, porém, que seja mais curto do que uma ou duas décadas. Basta que o leitor reflita acerca de quanto tempo foi necessário para que o PT, o PSDB e o PMDB se consolidassem como partidos políticos. Note-se que não estamos falando de um sistema partidário oco, vazio, sem significado.
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Alberto Carlos Almeida – Sociólogo e Professor universitário – 08.01.2016.
IN Valor Econômico, ed. Impressa.