Depois
de uma década virtuosa, marcha rooseveltiana perde o rumo e chega ao final de
2015 perto do colapso.
(...)
Como se
formou o tsunami que fez o lulismo submergir. A resposta implica considerar
múltiplos fatores, alguns estruturais, outros, conjunturais. No coquetel
precisam entrar a mudança de fase da economia mundial, a orientação audaz,
porém pouco sustentável, adotada por Dilma na economia e na política durante o
primeiro mandato, a equivocada camplanha de 2014, a atração do centro pés
materialista de classez média pela direita, o sucesso da operação mãos limpas à
brasileira e a ascenção parlamentar de
um peemidebista atípico.
André Singer
Nessas
mesmas páginas (“O lulismo e seu futuro, piaui_49, outubro, 2010), às vésperas
da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff, sugeri comparar o ciclo
lulista ao do New Deal, articulado por Franklin Delano Roosevelt a partir de
1933 e vigente, de algum modo, nos Estados Unidos até por volta de 1968. N os
meses que precederam a eleição de 2010, circulava um livro do Prêmio Nobel de
Economia Paul Krugman (A Consciência de um Liberal) com relato inspirador de
aspectos da experiência norte-americana. Por cerca dde três décadas, o sucesso
rooseveltiano determinou que houvesse emprego para a maioria e aumentos
salariaias constantes. A promoção de igualdade levara grande parte dos
habitantes “a uma vida material reconhecidamente decente e similar”. Em 1966,
80% da populaão norte-americana, por exemplo, tinha seguro-saúde, porcentagem
que era de apenas 30% ao final da Segunda Guerra.
Não
imaginei que o processo inaugurado por Luiz Inácio Lula da Silva fosse produzir
efeitos concentrados. Quem tiver a paciência de consultar “Os sentimentos do
Lulismo”, na versão original uma tese de livre-docência escrita no começo de
2011, verá que chamo de “reformismo fraco” o estilo homeopático de mudanças propiciado
pelo ex-metalurgico. Aplicado a país de desigualdades abissais como o Brasil,
não teria o resultado sintético visto nos Estados Unidos. Mas se prosseguisse
por tempo dilatado dos realinhamentos eleitorais norte-americanos, porderia, ao
final de algumas décadas, resultar na integração de parte significatava do
subproletariado brasileiro ao estágio minimamente civilizado que faixas
intermediárias tinhama alcançado, deixando para trás o problema fundante de
inorganicidade de seter substantivo da sociedade brasileira. O subproletariado
é aquela fração da classe trabalhadora – nada a ver com o lumpesinato – que está
aquém das condições mínimas de renda e direitos (carteira de trabalho, por
exemplo) que lhe permitiriam participar da luta de classes. Dito de maneira
ampla, o subproletariado brasileiro abarca o vasto contingente que labuta na informalidade
com rendimentos familiares mensais abaixo de dois salários mínimos.
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Para continuar a leitura, acesse http://revistapiaui.estadao.com.br/materia/o-lulismo-nas-cordas/
André Singer –
Cientista Político e Professor da USP – dezembro de 2015.
IN
Revista Piauí, n. 111.