quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O Lulismo nas cordas



Depois de uma década virtuosa, marcha rooseveltiana perde o rumo e chega ao final de 2015 perto do colapso.
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Como se formou o tsunami que fez o lulismo submergir. A resposta implica considerar múltiplos fatores, alguns estruturais, outros, conjunturais. No coquetel precisam entrar a mudança de fase da economia mundial, a orientação audaz, porém pouco sustentável, adotada por Dilma na economia e na política durante o primeiro mandato, a equivocada camplanha de 2014, a atração do centro pés materialista de classez média pela direita, o sucesso da operação mãos limpas à brasileira e  a ascenção parlamentar de um peemidebista atípico.

André Singer
Nessas mesmas páginas (“O lulismo e seu futuro, piaui_49, outubro, 2010), às vésperas da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff, sugeri comparar o ciclo lulista ao do New Deal, articulado por Franklin Delano Roosevelt a partir de 1933 e vigente, de algum modo, nos Estados Unidos até por volta de 1968. N os meses que precederam a eleição de 2010, circulava um livro do Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman (A Consciência de um Liberal) com relato inspirador de aspectos da experiência norte-americana. Por cerca dde três décadas, o sucesso rooseveltiano determinou que houvesse emprego para a maioria e aumentos salariaias constantes. A promoção de igualdade levara grande parte dos habitantes “a uma vida material reconhecidamente decente e similar”. Em 1966, 80% da populaão norte-americana, por exemplo, tinha seguro-saúde, porcentagem que era de apenas 30% ao final da Segunda Guerra.
Não imaginei que o processo inaugurado por Luiz Inácio Lula da Silva fosse produzir efeitos concentrados. Quem tiver a paciência de consultar “Os sentimentos do Lulismo”, na versão original uma tese de livre-docência escrita no começo de 2011, verá que chamo de “reformismo fraco” o estilo homeopático de mudanças propiciado pelo ex-metalurgico. Aplicado a país de desigualdades abissais como o Brasil, não teria o resultado sintético visto nos Estados Unidos. Mas se prosseguisse por tempo dilatado dos realinhamentos eleitorais norte-americanos, porderia, ao final de algumas décadas, resultar na integração de parte significatava do subproletariado brasileiro ao estágio minimamente civilizado que faixas intermediárias tinhama alcançado, deixando para trás o problema fundante de inorganicidade de seter substantivo da sociedade brasileira. O subproletariado é aquela fração da classe trabalhadora – nada a ver com o lumpesinato – que está aquém das condições mínimas de renda e direitos (carteira de trabalho, por exemplo) que lhe permitiriam participar da luta de classes. Dito de maneira ampla, o subproletariado brasileiro abarca o vasto contingente que labuta na informalidade com rendimentos familiares mensais abaixo de dois salários mínimos.
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André Singer – Cientista Político e Professor da USP – dezembro de 2015.
IN Revista Piauí, n. 111.