Do primeiro ato à conclusão de Anastasia, e até o
final, o processo político de impeachment é uma grande encenação. Uma
hipocrisia política de dimensões gigantescas, que mantém o Brasil em regressão
descomunal, com perdas só recompostas, se o forem, em muito tempo – às
econômicas, porque as humanas, jamais.
Jânio de Freitas
Quem não aceita ver golpe partidário na construção do impeachment de
Dilma Rousseff pode ainda admitir, para não se oferecer a qualificações
intelectual ou politicamente pejorativas, que o afastamento da presidente se
faz em um estado de hipocrisia como jamais houve por aqui.
O golpe de 64 dizia-se “em defesa da democracia”, é verdade. Mas o
cinismo da alegação não resistia à evidência dos tanques na rua, às
perseguições e prisões nem aos crimes constitucionais (todos os militares do
golpe haviam jurado fidelidade à Constituição que acabavam de trair: sem
exceção, perjuros impunes). Todos os golpes tentados ou consumados antes,
incluída a Proclamação da República, tiveram na formação aquele mesmo roteiro,
com diferença de graus. A força das armas desmoralizava a hipocrisia das
palavras.
Os militares, hoje, não são mais que uma lembrança do que foi a maior
força política do país ao longo de todo o século 20. Ao passo que a política
afunda na degeneração progressiva, nos últimos 20 anos os militares evoluíram
para a funcionalidade o mais civilizada possível no militarismo ocidental. A
aliança dos civis e militares no golpismo foi desfeita. A hipocrisia do lado
civil não tem mais quem a encubra, ficou visível e indisfarçável.
(...)
Para
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Jânio de Freitas – 03.08.2016.
IN Folha de São Paulo.