quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Drogas: outra política, não ausência de política


Os confrontos pela disputa do hipertrofiado mercado de drogas ilícitas e o combate policial militarizado são o resultado da guerra de mais de cinco décadas.
O QUE ESTÁ EM JOGO É QUAL POLÍTICA DE DROGAS TEREMOS E NÃO A MERA SUPRESSÃO NEGATIVA DA ATUAL POLÍTICA

Maurício Fiore
O paradigma proibicionista rege as políticas de drogas pelo mundo, mas nunca esteve tão enfraquecido. Hoje, a dúvida é o que entrará no lugar desse paradigma gestado na primeira metade do século 20 e tornado hegemônico depois dos anos 1960. Consolidado por três convenções das Nações Unidas (1961, 1971 e 1988), o proibicionismo se baseia em dois pressupostos: 1. O uso de determinadas substâncias psicoativas – chamadas de drogas – pode ser tão danoso para indivíduos e sociedade que os Estados têm legitimidade para proibi-lo; 2. A forma mais adequada de eliminar o uso dessas drogas é empreender uma guerra que, se não capaz de erradicá-las, pode, ao menos, controlar sua disseminação epidêmica.
Muito já foi e tem sido escrito sobre os equívocos de ambos. O primeiro, curiosamente forjado no período no qual a noção de liberdade individual se consolidava enquanto premissa democrática, é uma intromissão autoritária na esfera de decisão privada de cidadãos adultos. O segundo pressuposto ignora que o uso de substâncias psicoativas é um fenômeno intrínseco da experiência histórica humana. Esses dois pressupostos conferem sustentação lógica, mas a instauração do proibicionismo tem motivações muito mais amplas – econômicas, geopolíticas, racistas, religiosas, sanitárias e morais –, tornando-o mais do que uma formalização jurídica, uma parâmetro de relação entre seres humanos e drogas.
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Maurício Fiori – Coordenador Científico da Plataforma Brasileira de Política de Drogas e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) – 01.02.2016
IN Nexo Jornal.