quinta-feira, 20 de abril de 2017

Como o Brasil facilita o recrutamento de facções criminosas

Um relatório de outubro de 2016 do Departamento Penitenciário Nacional afirmou que o fracasso do governo do estado em prover assistência jurídica, trabalho, educação e saúde adequados aos detentos fortalecia as mesmas facções criminosas que o sistema prisional deveria ajudar a destruir. As consequências para o Brasil estendem-se para muito além dos muros das prisões.
Nenhum desses problemas é exclusivo de Roraima.


César Muños Acebes

O Estado brasileiro terá de explicar amanhã em uma audiência perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos por que o país mantém algumas das prisões mais desumanas e violentas da América Latina, e por que as deixou cair nas mãos de organizações criminosas.

Depois da série de massacres que deixaram mais de cem detentos mortos há dois meses, seria de se esperar que as autoridades brasileiras fizessem da retomada do controle de suas prisões uma prioridade. Em vez disso, a sua negligência, incompetência ou a falta de vontade política continuam a permitir que facções criminosas usem celas de prisão para recrutamento de novos membros.

Em fevereiro, pedimos permissão para visitar a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, a maior prisão do estado de Roraima, onde membros de facções criminosas mataram dez detentos em outubro e outros 33 em janeiro. Autoridades do estado compartilharam informações acerca da vida dentro da prisão, mas se recusaram a nos deixar entrar, afirmando que não poderiam garantir nossa segurança. Na verdade, eles não conseguem garantir a segurança de ninguém. Apenas as facções conseguem fazê-lo.

(...)








César Muños Acebes – pesquisador sênior para o Brasil da Human Rights Watch – 21.03.2017.

IN O Globo.