terça-feira, 25 de abril de 2017

Maior recuo da desigualdade foi pré-ditadura


Estudo com ‘método Piketti’ mostra que reversão do ganho de 1942 a 1963 foi rápida após golpe.

Ligia Guimarães
Após cair ampla e ininterruptamente entre 1942 e 1963, a desigualdade social no Brasil deu um salto e voltou a crescer rapidamente já nos primeiros anos da ditadura militar, a partir do golpe de 64. Tal movimento, desconhecido na história econômica do país, é uma das conclusões de um estudo que, a partir de dados tributários, remonta a história de nove décadas de desigualdade social no Brasil.
A pesquisa, de autoria de Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza, sob orientação de Marcelo Medeiros, ambos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Universidade Federal de Brasília (UnB), joga luz sobre a distribuição de renda no Brasil a partir de 1928, período a respeito do qual, até então, muito pouco se sabia sobre o tema.
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Lígia Guimarães – 23.12.2015
IN Valor Econômico, ed. Impressa.



Questão foi alvo de intenso debate acadêmico nos anos 1970

A grande controvérsia sobre a distribuição de renda teve início em 1972 quando, à luz dos dados recém-divulgados do Censo de 1970, dois artigos apontaram que a desigualdades social no Brasil havia crescido – e muito – na década de 1960. Foram rec3ebidos como um balde de água fria em meio à euforia dos tempos de forte crescimento econômico registrado no regime militar. Um deles foi escrito pelo professor Rodolfo Hoffman, da USP. O outro, por Albert Fishlow, pesquisador americano ligado ao Ipea. Ambos transformaram-se em elementos importantes de crítica à política econômica e social dos governos militares.

Lígia Guimarães
O trabalho do pesquisador Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza reacende um debate que, nos anos 70, mobilizou grandes nomes da economia nacional em torno da seguinte questão: afinal, a repressão política da ditadura militar elevou a desigualdade social no Brasil?
O Pedro tem 33 anos, mas está discutindo com todos os outros economistas brasileiros, com o Piketty e o Saez”, afirma o pesquisador Marcelo Medeiros, colega de Souza desde 2012 e orientador “coruja” na elaboração do estudo, que cria a maior série histórica anual já elaboradano Brasil a respeito da participação da fatia 1% mais rica da população sobre a renda nacional. Mais de 40 anos depois, o trabalho de Souza indica que sim:  o ciclo político tem influência direta na trajetória da desigualdade social.
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Lígia Guimarães – 23.12.2015
IN Valor Econômico, ed. Impressa.