Racismo
e sexismo, pois, não são, dentro da experiência colonial, que é a que foi e
continua sendo vivenciada neste nosso espaço cultural, social, geográfico,
adendos que merecem ser colocados dentro de uma lógica que muitas vezes se
reputa “interseccional” (algo que precisa ser acrescentado): é necessário
incorporar as ferramentas analíticas, a riqueza conceitual acumulada ao longo
das histórias de opressão marcadas pela experiência colonial racista e sexista.
Não questões peculiares ou temas que tem que ser “guetizados” (na crítica que
Rita Segato tem feito ao pensamento feminismo eurocentrado e mainstream), mas
sim elementos estruturais e estruturantes para os campos de debates em que
estamos envolvidos, sejam o direito penal, o direito constitucional e também os
direitos humanos.
César Augusto Baldi
Num debate realizado em 1993 sobre a “reinvenção da esquerda”, Tariq
Modood destacava que a diferença étnica e a igualdade racial eram novos
desafios para a esquerda e, pois, para a teoria crítica no geral. Ele, sendo
paquistanês e muçulmano, procurava mostrar que sem a participação plena dos
indivíduos em todos os aspectos sociais, sem a necessidade de trabalhar
processos de antidiscriminação, sem reconhecer que o racismo é mais “amplo que
o racismo de cor”, sem permitir que as comunidades usem suas tradições e
valores para enfrentar seus problemas e desvantagens, não havia como pensar em
um multiculturalismo efetivo, que tivesse como parâmetro “de remodelamento dos
conceitos de igualdade”.[1]
Sua intervenção foi seguida de comentários de Bhikhu Parekh, que, no
final, salienta o crescimento da islamofobia ( um tema então ainda emergente e
hoje, cada dia mais real), destacando que a militância do Islã no norte da
África, a revolução iraniana e as exigências de islâmicas no continente
europeu, teria atemorizado a Esquerda, “que se alarmou diante da ascensão de
forças que ela credulamente imaginava em declínio, bem como os secularistas e
liberais que tinham esperança de que a privatização da religião do
pós-iluminismo fosse uma característica estabelecida da vida europeia”.
Para ele, então, os muçulmanos “devem reinterpretar sua tradição
religiosa, especialmente como ela se aplica ao dar-ul-hurb ( mundo não
muçulmano) e criar um espaço autônomo para os valores do Estado e seculares”,
ao mesmo tempo que os secularistas e a Esquerda “devem considerar que os
valores e sensibilidades religiosos podem dar uma mais que necessária
profundidade espiritual à nossa vida social e prática cada vez mais
instrumentalista, reafirmar a dimensão do sagrado e fazer uma valiosa
contribuição para a condução dos negócios públicos.” Em suma, para ele, a
Esquerda deveria estar mais “preparada do que nunca para abandonar sua
hostilidade à religião, inclusive o Islã”.[2]
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César Augusto Baldi – Doutor em Direietos
Humanos pela Universidad Pablo Olavide (Espanha) – 27.02.2017.
IN Empório do Direito.