[O sistema proporcional com lista aberta] É uma
corrida por recall. Para o bom entendedor meia palavra basta. Os políticos que
conseguirão maior recall em uma campanha eleitoral proporcional com lista
aberta são aqueles que tiverem mais dinheiro. Os que têm mais dinheiro são, de
um modo geral, aqueles mais especializados em arrecadar, lidar com caixa 2,
enfim, utilizar-se de artimanhas frequentemente ilegais da política.
Os estudos mostram que há uma correlação entre gasto de campanha, na lista aberta, e chance de ser eleito.
Quanto mais se gasta, maiores as chances de se tornar
deputado. Chegando no parlamento será preciso pagar a conta da campanha. (...)
Há algum tempo publiquei um artigo acadêmico
intitulado Amnésia eleitoral: em quem você votou para deputado em 2002? E em
1998? Nada menos do que 70% dos eleitores não consegue mencionar o nome de seu
candidato a deputado 4 anos antes. Ainda assim, 30% são capazes de mencionar o
nome de algum deputado que exerce o mandato, mas não têm certeza se votaram ou
não em tal deputado. Ora, faz sentido um sistema que leva o eleitor a esquecer
em quem votou? Leva a esquecer porque a eleição é confusa, com seus centenas e
milhares de candidatos disputando a atenção do eleitor.
Alberto Carlos Almeida
Dizem que gosto
não se discute. Tem gente que ama uma jabuticaba. Parece que ela só existe no
Brasil. O sistema eleitoral proporcional, com lista aberta, onde 70 deputados
federais são eleitos, que é o caso de São Paulo, é uma baita jabuticaba. Tem
gente que gosta disto, apesar de haver inúmeras frutas que conquistaram um
mercado muito maior, que caíram no gosto de muito mais gente: banana, abacaxi,
mamão, laranja, melão, manga, maçã, pera.
Ayres de Britto,
ex-ministro do STF, afirmou recentemente que a adoção da lista fechada
significará trocar a democracia por uma partidocracia. Eu diria que seria
trocar uma jabuticaba por uma maçã. Ayres de Britto deveria ir ao parlamento
alemão e dizer, lá, que metade de seus deputados são eleitos de maneira não
democrática, por uma partidocracia. Poderia dizer o mesmo em Portugal ou na
Espanha. O Brasil é um país muito grande, continental, isto facilita em muito,
mesmo na era digital e da internet, a defesa de ideias provincianas.
É bem
interessante ver que apareceram nas últimas semanas vários defensores da lista
aberta, do nosso sistema eleitoral, tal como funciona hoje. Seus defensores
afirmam que a lista aberta expõe o político corrupto e permite que ele seja
punido pelo eleitorado. Adicionalmente, afirmar que na lista fechada os
partidos irão proteger os corruptos colocando-os no topo da lista e, assim
permitindo que sejam eleitos. Vamos aos fatos.
(...)
Alberto Carlos Almeida – Cientista Político,
Diretor do Instituto Análise – 28.03.2017.
IN Poder 360.