Em relação ao empoderamento, a desvantagem continua
absurda. Em todo o mundo, apenas 20% da representação parlamentar é feminina.
Mesmo no Brasil que elegeu sua primeira presidenta, o percentual de mulheres
com cargo eletivo é irrisório. A bancada feminina na Câmara ocupa apenas 45 das
513 vagas. No Senado, são 12 mulheres dentre as 81 cadeiras. No ranking geral,
o Brasil é o 116º país em representação feminina.
Najla Passos
Investir em políticas de redução das desigualdades
de gênero favorece o crescimento dos países, com efeitos diretos na aceleração
da economia. Esta é uma das conclusões do relatório sobre o desenvolvimento
mundial de 2012, lançado nesta terça (6), pelo Banco Mundial, durante as comemorações
dos 80 anos do voto feminino no Brasil.
“Além de moralmente condenável, manter a
desigualdade de gênero é uma estupidez econômica”, afirmou o vice-presidente do
Departamento de Redução da Pobreza e Gestão Econômica do Banco Mundial,
Otaviano Canuto.
O relatório aponta, por exemplo, quando as mulheres
que operam na agricultura têm acesso a insumos e fertilizantes como os homens,
o produto agrícola do país aumenta até 4%. Mostra, também, que a eliminação da
segregação no emprego aumenta a produtividade em até 25%.
Demonstra, ainda, que a participação das mulheres
na vida política do país melhora a qualidade das políticas públicas. “Nos
Estados Unidos, o direito ao voto das mulheres reduziu a mortalidade infantil
de 8% a 15%”, exemplificou o vice-presidente.
Segundo ele, desde que o banco passou a editar o
relatório, há 30 anos, esta é a primeira vez que a publicação é dedicada ao
tema da desigualdade de gêneros. E os resultados são reveladores. “Há um
paradoxo em relação ao combate às desigualdades de gênero no mundo. Em algumas
áreas, há progressos relativamente rápidos. Em outras, esse progresso é lento
ou mesmo inexistente”, disse.
Entre as áreas em que foi verificado um avanço
significativo, o destaque fica com a educação. O estudo aponta que, em 20 anos,
a taxa de mulheres matriculadas nas universidades aumentou sete vezes, contra
apenas quatro vezes dos homens.
Mesmo assim, 35 milhões de mulheres que deveriam
estar nos bancos escolares ainda estão alijadas do ensino superior. Essas mulheres
estão concentradas, principalmente, na África e no sul da Ásia. E dois terços
delas pertencem a minorias étnicas.
Em relação à expectativa de vida, também houve
avanço. De 1960 para cá, as mulheres estão vivendo, em média, 20 anos a mais.
Entretanto, 4 milhões ainda morrem precocemente, principalmente em países
pobres, onde o acesso à alimentação é priorizado para os homens e os índices de
mortalidade materna continuam alarmantes.
A inclusão das mulheres no mercado de trabalho
apresentou melhoras significativas. Em 30 anos, 552 milhões de trabalhadoras
conquistaram um posto de trabalho. Só na América Latina e Caribe, foram 70
milhões. O Brasil contribuiu muito acima da média para estes números, com
incremento de 22% no percentual, contra apenas 2% da média mundial.
Os salários, porém, continuam inferiores aos dos
homens que ocupam os mesmos postos de trabalho. “Uma mulher ganha, em média,
US$ 0,80, enquanto um homem, na mesma função, recebe US$ 1”, afirma Canuto. No
Brasil, a diferença é ainda maior: os salários pagos às mulheres correspondem a
73% dos pagos aos homens.
Em relação ao empoderamento, a desvantagem continua
absurda. Em todo o mundo, apenas 20% da representação parlamentar é feminina.
Mesmo no Brasil que elegeu sua primeira presidenta, o percentual de mulheres
com cargo eletivo é irrisório. A bancada feminina na Câmara ocupa apenas 45 das
513 vagas. No Senado, são 12 mulheres dentre as 81 cadeiras. No ranking geral,
o Brasil é o 116º país em representação feminina.
A questão da violência de gênero, porém, é a que
mais preocupa. O relatório estima que 510 milhões de mulheres sofrem abuso
sexual, de seus parceiros ou não, pelo menos uma vez na vida.
Soluções apontadas
Para o Banco Mundial, combater a desigualdade de
gênero significa, basicamente, facilitar o acesso das mulheres à educação,
crédito, capital e terra, proporcionar que elas exerçam atividades de alta
produtividade e garantir sua maior representação e voz nas esferas políticas.
“O crescimento econômico de um país pode ser maior se for acompanhado de
políticas de eliminação das desigualdades de gênero, reitera Canuto.
Segundo ele, o relatório do Banco Mundial é peça
importante no diálogo com as equipes econômicas dos países e, por isso, pode
impactar favoravelmente na luta por mais verbas para as políticas para as
mulheres. Entretanto, destaca que, para operar as mudanças necessárias, o
preponderante é garantir a vontade política em nível nacional.
Najla Passos – 01.03.2012