Países como
Espanha, Itália e Grécia apostam na "flexibilização" de direitos, o
que tem gerado grandes protestos.
Um dos pontos
centrais é facilitar demissões; analistas questionam se menos proteção favorece
crescimento.
Rodrigo Russo
Vários países da Europa apostam na reforma trabalhista para superar a
crise econômica, mas não há nenhuma garantia de que atingirão seu objetivo,
segundo analistas ouvidos pela Folha.
A única coisa que conseguiram até o momento foi despertar a ira dos
sindicatos e da sociedade, como a greve que parou a Espanha na última
quinta-feira deixou claro. Grécia, Portugal e Itália também vêm enfrentando
protestos frequentes.
Virginia Doellgast, do Departamento de Administração da London School of
Economics, explica que não há exemplos concretos de que menos proteção aos
trabalhadores gere crescimento econômico. "Os EUA, uma das economias mais
flexíveis, certamente não têm se saído muito bem na resposta à crise, por
exemplo", compara.
Um dos focos das reformas propostas é a facilitação dos processos de
demissão.
Atualmente, na Itália, demissões em empresas com mais de 15 funcionários
estão sujeitas a um demorado processo judicial que pode obrigar a
reincorporação do trabalhador demitido e o pagamento de indenização.
Pela proposta do governo, não haverá mais possibilidade de reintegração
se a demissão ocorrer por motivos econômicos.
Doellgast comenta que a União Europeia busca um novo conceito para as
relações trabalhistas: a "flexigurança". "Esse é um modelo de
proteção trabalhista e gastos sociais que começou em países escandinavos, onde
há poucas regras contra demissões, mas há muito investimento em treinamento e
um bom seguro-desemprego, o que dá tranquilidade aos empregados", explica.
Ela elogia o sistema de proteção ao empregado na Alemanha. Um dos
princípios da lei alemã é que a demissão deve ser a última medida a ser
adotada, depois de esgotadas todas as possibilidades.
Mas essa receita não é o que os credores públicos do continente reunidos
na chamada "troica"-Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo
Monetário Internacional- oferecem aos países atingidos pela crise.
Grécia e Portugal, países que receberam grandes empréstimos para evitar
a quebra de suas economias, são obrigados a flexibilizar a legislação
trabalhista. A Grécia inclusive se comprometeu a reduzir o salário mínimo (hoje
de 751) em 22% e cortar 150 mil empregos públicos.
Poul Thomsen, diretor do programa da "troica" para o país,
disse na semana passada em Londres que a Grécia ainda precisa reduzir em 15% os
seus custos trabalhistas para ter chance de recuperação. Na Espanha, a greve
foi em protesto às reformas que o governo de Mariano Rajoy implementará, também
afinadas com a "flexigurança".
Marcus Orione, professor do Departamento de Direito do Trabalho e da
Seguridade Social da USP, critica a adoção dessas medidas.
"O Estado de bem-estar social europeu é o máximo que uma sociedade
capitalista já produziu de desenvolvimento social. Diminuir direitos para que e
para quem, já que aquilo que qualquer Estado possa pretender é exatamente a
segurança social ainda existente na Europa, embora já reduzida?", indaga.
Rodrigo
Russo – 01.04.2012
IN “Folha de São Paulo” – http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/34638-europa-mexe-na-lei-trabalhista-contra-crise.shtml
Uma reforma da legislação não é a
resposta no atual momento
A crise da Espanha foi causada por uma bolha
imobiliária, não por gastos públicos excessivos (o caso da Grécia). (...) Assim
chegamos à pergunta que vem ao caso: o que uma reforma trabalhista tem a ver
com isso?
“The Guardian”
Por sua vez,
a bolha imobiliária ameaça o sistema dos bancos, enquanto o desemprego reduz o
consumo. A combinação disso faz com que seja difícil para a Espanha conseguir
empréstimos internacionais.
Análise do
“The Guardian”– 01.04.2012
As leis trabalhistas na Europa
Reino Unido
Salário mínimo - € 1202
Aposentadoria – 60 anos para mulhere nascidas antes de abril de 1950 e
65 para homens. Chegará a 65 anos para todos em 2020 e subirá aos poucos até 68
em 2046. Pensão mínima é de 90,70 libras por semana.
França
Salário mínimo - € 1398
Aposentadoria – 62 anos, direito a pensão integral aos 67 , mínimo de €
7013,87 por ano.
Alemanha
Salário mínimo - Não há, depende de acordos coletivos das categorias.
Aposentadoria – Aos 65 anos, com cinco ano sde contribuição. Limite será
aumentado para 67 anos.
Espanha
Salário mínimo - € 641
Aposentadoria – Aumentará de 65 para 67 anos, com 37 anos de
contribuição para pensão integral. Só com 38,5 anos contribunido será possível
se aposentar aos 65. Pensão mínima é de €530.
Portugal
Salário mínimo - € 485
Aposentadoria – Aos 65 anos, com 15 anos de contribuição. São 14
pagamentos (bônus em julho e dezembro), com pensão mínima de €181,91.
Itália
Salário mínimo – Não há piso nacional, acordos coletivos definem.
Aposentadoria – 65 anos para homens, 60 para mulheres.
FONTE: OCDE,
EUROSTAT, UNIÃO EUROPÉIA