sexta-feira, 29 de junho de 2012

México, a bola da vez?


as elites dominantes se voltaram para o candidato do PRI como seu favorito para dar continuidade à mesma politica neoliberal e de subordinação externa aos EUA.

Emir Sader
A um mês das eleições presidenciais mexicanas, o resultado está em aberto, depois que a queda do até então favorito, Pena Nieto, do PRI, se acentuou, assim como a subida do candidato da esquerda, Lopez Obrador, do PRD, enquanto a candidata do PAN, Josefina Vazquez, ficou definitivamente relegada ao terceiro lugar.

Até há pouco Pena Nieto tinha grande vantagem nas pequisas, com até mais de 20 pontos, apoiado por quase toda a grande mídia monopolista mexicana. Com o fracasso do governo Calderon - a começar pela “guerra ao tráfico”, mas pelo conjunto do governo ortodoxamente neoliberal -, as elites dominantes se voltaram para o candidato do PRI como seu favorito para dar continuidade à mesma politica neoliberal e de subordinação externa aos EUA.

As manifestações de jovens de protesto contra o privilégio que a imprensa dá a Pena Nieto estão contribuindo para mudar as opções do eleitorado. A um mês das eleições começaram a aparecer pesquisas em que a diferença entre os dois diminui significativamente. A partir desse momento é uma corrida contra o tempo e contra a possibilidade de fraude.

A direita fará tudo para impedir que isso aconteça. Os EUA seriam pegos de surpresa, não apenas no país fronteiriço na América Latina, mas em um dos poucos países aliados de peso no continente. Um governo de Lopez Obrador não poderá simplesmente sair do Tratado de Livre Comércio da América do Norte mas, como faz o Peru, avançar na diversificação do comércio internacional, aproximar-se politicamente dos países da America do Sul, mudar a política econômica, bloquear a privatização da Pemex – a empresa mexicana do petróleo -, revitalizar o Estado mexicano, centrar a ação governamental em políticas sociais. Seria uma mudança interna muito importante e significativa no plano externo.

Desde que a vantagem folgada do candidato do PRI foi diminuindo e o apoio a Lopez Obrador foi aumentando, desatou-se com força a campanha contra o candidato da esquerda. Antes praticamente ignorado pela mídia privada, para não propiciar-lhe espaço, passaram a atacá-lo com falsas denúncias, buscando reativar um nível de rejeição que Lopez Obrador está conseguindo superar, enquanto as mobilizacoes estudantis fazem aumentar fortemente a rejeição a Pena Nieto.

O processo eleitoral mexicano é especialmente deformado, porque não há segundo turno e o presidente tem mandato de 6 anos, mesmo que ganhe com evidências de fraude, como foi o caso de Calderon. A disputa final deve ser acirrada. Se Lopez Obrador não conseguir abrir uma vantagem significativa, pode ser vítima, novamente, da fraude que lhe tirou a presidência há 6 anos. O grande fator de mudança a seu favor vem das belas manifestações estudantis, a que se opõem as campanhas de difamação da velha mídia mexicana.

Emir Sader – 07.06.2012



México deve mudar o governo, mas manter a política econômica

a possibilidade de mudança de governo no México (com a possível vitória de peña nieto) não alimenta preocupação ou estresse entre investidores e analistas. Isso porque a percepção geral é de que não haverá mudanças na condução da política econômica. No entanto, também não se esperam muitos avanços na economia para os próximos seis anos.
(...)
Analistas preveem que o problema da concentração da atividade em poucas empresas não acabará.

Suzi Katzumata
Depois de um intervalo de 12 anos, o tradicional Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México de 1929 a 2000, prepara-se para voltar ao poder em julho, com Enrique Peña Nieto, que lidera as pesquisas de intenção de voto com ampla vantagem sobre os demais candidatos. Contudo, ao contrário de eleições passadas, a possibilidade de mudança de governo no México não alimenta preocupação ou estresse entre investidores e analistas. Isso porque a percepção geral é de que não haverá mudanças na condução da política econômica. No entanto, também não se esperam muitos avanços na economia para os próximos seis anos.
Na avaliação de Paulo Vieira da Cunha, chefe de pesquisa para mercados emergentes e sócio da Tandem Global Partners, uma possível vitória do candidato do PRI seria uma transição positiva para o México, uma vez que Peña Nieto é integrante da ala mais moderna do partido.
Segundo a mais recente pesquisa "El Universal"/Buendía&Laredo, de 14 de maio, realizada na sequência de um debate entre os principais candidatos, Peña Nieto segue na frente na disputa, com 49,6% das intenções de voto (os números excluem os eleitores que não declararam opção por nenhum nome), com larga vantagem sobre os rivais Andrés Manuel López Obrador (24,8%), do Partido da Revolução Democrática (PRD), de centro-esquerda, e Josefina Vázquez Mota (23,1%), do governista Partido da Ação Nacional (PAN), de centro-direita, ambos tecnicamente empatados na segunda posição.
A empresa de análise de risco Standard & Poor"s - que no fim de abril publicou uma série de relatórios abordando a eleição mexicana - avalia que o ambiente tranquilo desta eleição reflete, em parte, "uma agenda política estável e previsível e uma ausência de grandes desequilíbrios macroeconômicos". O analista da S&P Mauricio Tello observa que a economia do México está mais forte em comparação com anos eleitorais anteriores, apesar da crise econômica global. "Portanto, não esperamos que a nova administração queira colocar em risco a estabilidade desta vez através de uma mudança radical na política econômica", diz o analista.
"Durante os últimos 15 anos, vimos um compromisso às políticas econômicas prudentes do Ministério das Finanças, do Banco Central e do Congresso do México. Além disso, o crescimento da classe média do México tem reforçado essa ênfase em políticas estáveis e previsíveis com objetivo de preservar e avançar nos padrões de vida do país", diz a S&P.
Outro elemento que contribui para tranquilizar os investidores é o fato de o mandato do atual presidente do Banco Central do México(Banxico), Agustín Carstens, terminar apenas em 2016. Ele foi nomeado pelo presidente Felipe Calderón (PAN) em 2010 e ratificado pelo Senado com amplo apoio do PRI. Carstens, um ex-ministro das Finanças e ex-vice-diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), prega o equilíbrio das contas públicas como uma obrigação e considera a estabilidade de preços como a melhor contribuição que o BC pode fazer para a prosperidade do país.
Desde que assumiu a presidência do Banxico, Carsten não promoveu nenhuma alteração na taxa de juro básica, que se mantém estável em 4,5% desde julho de 2009. O Banxico tem como principal mandato preservar o poder de compra do peso mexicano e, para alcançar tal objetivo, usa a política de meta de inflação.
Se Peña Nieto confirmar o favoritismo e for eleito presidente em 1º de julho, tudo indica que Carstens não terá dificuldade em manter o atual rumo da política do BC. Em entrevista à Dow Jones Newswires no início do mês, Luis Videgaray, gerente de campanha e estreito colaborador do candidato do PRI, afirmou que seu grupo tem três metas: primeira, total respeito à autonomia do Banxico; segunda, estabilidade de preços como prioridade; e, terceira, evitar uma valorização excessiva do peso.
Videgaray, que está entre os cotados para ser o ministro das Finanças de Peña Nieto, discorda dos críticos que defendem que o Banxico deve ter um mandato duplo, para incluir o crescimento, como o Federal Reserve, dos Estados Unidos. Para ele, o BC deve se ater à estabilidade de preços como único mandato.
Analistas preveem que o problema da concentração da atividade em poucas empresas não acabará.
"Em um país em desenvolvimento, que pode ser vítima de ataques especulativos dos mercados globais de capital, a prioridade da política monetária é proteger a moeda. Parte de nossa credibilidade vem disso e quando a política monetária se torna difícil de prever, isso pode criar alguns incentivos para a especulação financeira", diz Videgaray.
Dois temas que têm dominado o debate nesta eleição são a violência provocada pela guerra declarada pelo atual presidente, Felipe Calderón, contra os cartéis de drogas e como elevar a taxa de crescimento do México.
No lado econômico, as campanhas dos principais candidatos têm como ponto comum a necessidade de modernizar a economia, melhorar a competitividade, gerar mais empregos e crescimento.
Na última década, na média, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do México tem sido inferior ao de seus pares emergentes, mas para os próximos vários anos a S&P estima que o país vai crescer a taxas superiores às de economias avançadas, entre 3% e 3,5%.
No primeiro trimestre do ano, o México surpreendeu os analistas com um crescimento anual de 4,6%, impulsionado pelo aumento da produção industrial (4,5%), da atividade no setor de serviços (5%) e da produção agrícola (6,8%). Em relação ao quarto trimestre de 2011, o PIB mexicano cresceu 1,31%, provavelmente acima do ritmo de expansão da economia brasileira nessa mesma base de comparação. O dado oficial brasileiro será divulgado no dia 1º de junho pelo IBGE. Mas o IBC-Br, calculado pelo Banco Central e considerado uma espécie de prévia do PIB brasileiro, mostrou crescimento de apenas 0,15% no primeiro trimestre do ano em relação aos três meses anteriores.
Na semana passada, o Banxico elevou sua projeção de crescimento para 2012 para uma faixa entre 3,25% e 4,25%, de um intervalo entre 3% e 4% anteriormente, citando os dados mais fortes que o esperado apresentados neste ano e melhores perspectivas para o crescimento econômico dos Estados Unidos - seu principal mercado de exportação. O BC classificou suas estimativas de crescimento para2012 e 2013 como "moderadas", em linha com as expectativas para a economia global e renovou seus apelos para que a classe política mexicana promova reformas econômicas para elevar o potencial de crescimento do país.
Contudo, no geral, os economistas não esperam após as eleições grandes mudanças ou reformas que enfrentem um dos principais defeitos da economia do México: a concentração da atividade em poucas empresas.
"A falta de uma concorrência mais vibrante na economia mexicana é o principal fator que pesa sobre o crescimento" do país, observa a S&P. Segundo a agência, os monopólios e oligopólios, nos setores público e privado, mantêm elevados os custos nas áreas de telecomunicações, energia e serviços públicos, que pesam particularmente sobre as pequenas e médias empresas. "Isso reforça o domínio de grandes companhias na economia formal", diz a S&P.
O México está atraindo investidores interessados em usar o país como plataforma de exportação para os EUA
"O problema não é de legislação, mas de "enforcement" [fiscalização e controle]", observa Paulo Vieira da Cunha, da Tandem Global Partners.
Quanto à questão da violência no México, as expectativas são de mudança na abordagem de confronto adotada pelo presidente Calderón e que resultou em mais de 50 mil mortes desde o início de sua gestão, em 2006. Para Cunha, essa política não deve ter continuidade, porque não tem o apoio da população.
"Não há a menor dúvida de que a abordagem de Calderón exacerbou a situação de conflito, principalmente no norte. Na Cidade doMéxico, no centro e no sul, a situação não é tão grave assim", disse Cunha, que acredita que o novo governo vai tentar "desmilitarizar o problema".
"Vão deixar de entrar tanto nas brigas internas dos cartéis, isso vai melhorar a sensação de segurança interna no México, mas por razões negativas", avalia.
"Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos." A frase célebre é atribuída ao ex-presidente do México José de la Cruz Porfirio Díaz Mory, que governou o país de 1876 a 1910. Porém, os tempos mudaram e essa proximidade com a maior economia do mundo hoje é favorável ao México, que está atraindo investidores, de curto e longo prazo, interessados em usar o país como plataforma de exportação para o mercado americano ou simplesmente para aproveitar as facilidades de se investir no mercado local, mais "amigável" ao investimento estrangeiro em comparação com outros emergentes latino-americanos mais valorizados, como o Brasil.
Contudo, esse interesse ainda não se traduz em um aumento significativo no fluxo de investimentos para o México. Em 2011, o país recebeu US$ 19,4 bilhões em investimento estrangeiro direto (IED), um aumento de 10% sobre o ano anterior, e ficou em segundo lugar na lista dos países que mais receberam investimentos na região, de acordo com dados divulgados no início do mês pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Mas essa soma ainda está distante dos níveis pré-crise financeira internacional de 2008, quando o México recebeu US$ 31,3 bilhões, e é bem inferior aos US$ 66,6 bilhões em IED atraídos pelo Brasil no ano passado.
Uma outra medida de fluxo de investimentos, o MSCI (Morgan Stanley Capital International), uma referência para diversos fundos de investimento, mostra que seu índice para o México exibia até o dia 10 de maio uma alta acumulada de 9,9%, enquanto o índice Brasil apresentava uma queda de 1,84%. Contudo, a escalada da crise na Europa - agravada pelos temores de uma saída da Grécia da zona do euro - reduziu esses ganhos e, até 23 de maio, o índice MSCI México apontava uma alta de 1,03%, enquanto o índice Brasil acentuava a queda para 13,9%.
"Não há uma avalanche de entusiasmo, mas há um sentimento bastante positivo, que tem a ver com a forma como a economia [mexicana] é manejada", diz Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs. "Trata-se de uma economia com uma inflação baixa [de 3,40% ao ano em abril], com um Banco Central de credibilidade muito alta, que não intervém no câmbio, que não tem uma retórica agressiva antimercado", acrescenta.
"Aqui [no Brasil] é um pouco mais incerto e essa incerteza tem um spread, tem um risco... Além disso, a retórica vinda das autoridades brasileiras é bastante agressiva em relação ao mercado, que indica que o capital não é necessariamente muito bem-vindo no Brasil", diz Ramos.
Segundo o economista, a mudança no sentimento em relação ao México começou há dois anos. Antes, há três ou quatro anos, havia uma preocupação muito grande de que o México estava ficando para trás, apesar de o país ter promovido reformas econômicas mais cedo em comparação aos seus pares emergentes.
"O México manejou o quadro macro de uma maneira muito mais responsável, mais cedo que o Brasil, e de repente o Brasil descolou, cresceu bastante, havia muito entusiasmo em relação ao futuro do Brasil e agora a coisa equilibrou um pouco mais", diz Ramos.
Ele destaca ainda os avanços obtidos pelo México na redução dos custos produtivos, especialmente frente à China. Há dez anos, o custo unitário do trabalho no México era quase duas vezes e meia maior do que o da China e hoje alguns bancos internacionais estimam que é mais barato produzir no México do que na China.
"Hoje, com um aumento de salário real muito contido nos últimos anos, cerca de 1% ou menos ao ano, com o preço de transporte alto e com os preços do derivado de petróleo bastante alto, o México fechou muito essa diferença [com a China], ao ponto que tem algumas empresas chinesas pensando em investir no México, porque veem isso como uma oportunidade para ficar perto dos EUA", diz Ramos. (Com agências internacionais)


Suzi Katzumata – 25.05.2012


terça-feira, 26 de junho de 2012

O deboche das vadias


Movimento internacional recupera irreverência que se perdeu a partir dos anos 1990, quando o feminismo se institucionalizou.

Carla Rodrigues
Não importa quem você é, onde trabalha, como se identifica ou o que veste. Ninguém tem o direito de tocar seu corpo sem seu consentimento. É o que reivindica a Marcha das Vadias, movimento internacional iniciado no Canadá depois de um policial de Toronto pedir às mulheres que não se vestissem como vadias para não serem estupradas. Desde o primeiro protesto, em abril de 2011, o que se vê em Nova York, Boston, Berlim, São Paulo e Rio é a revitalização da pauta feminista, historicamente mobilizada contra a violência. É verdade que as vadias estão nas ruas para pedir mais do mesmo: fim da discriminação contra as mulheres, da violência sexual e da violência doméstica, do tratamento das vítimas como culpadas pela percepção de que os crimes são "naturais" diante do comportamento - ou da altura das saias - daquelas que supostamente provocam os estupradores.
As imagens das marchas mostram jovens com corpos pintados e cartazes que transformaram em slogans divertidos uma agenda política que tem avançado lentamente. Se a pauta é antiga, onde estaria a revitalização?
A Marcha das Vadias recupera uma irreverência que se perdeu a partir dos anos 1990, quando o feminismo se institucionalizou, e tem o mérito de atrair a juventude, que achava que feminista era sua avó. Entra em cena o direito à diversidade sexual, tema com o qual a juventude pós-gênero tem grande afinidade. Entre as "vadias", há homens, travestis, transexuais, transgênero, lésbicas e gays.
O sutiã perdeu seu destaque e agora trata-se de ir à rua sem ele, pintando no corpo o direito ao próprio corpo, outro item da agenda feminista que recuperou seu fôlego depois de amaldiçoado na luta pela descriminalização do aborto. Nas marchas do Rio e de São Paulo, cartazes protestavam contra a MP 557, que pretende criar um cadastro nacional de informações sobre grávidas para impor mecanismos de vigilância sobre as mulheres em nome do direito do nascituro.
Tomar para si o uso do termo "vadias" tem sido uma irreverente estratégia de deboche do preconceito. Parte da exigência de que os direitos das mulheres não podem ser violentados em nenhuma hipótese, seja lá quem ou como for a vítima. Pauta urgente para o Brasil, onde domésticas, moradores de rua, prostitutas e homossexuais, estes dois últimos fortemente representados na marcha do Rio, são agredidos duplamente. A primeira vez, pelo agressor. A segunda, pelas justificativas para a agressão. Passa a ser tarefa da mulher não ser estuprada, enquanto deveria ser responsabilidade do homem não cometer o crime. Segue a mesma lógica da contracepção: cabe à mulher evitar a gravidez, porque se supõe ao homem o privilégio do sexo sem limite, traço inexorável de masculinidade. Daí a relevância da presença de homens solidários à causa, com palavras de ordem como "Homem que é homem não bate".
Há em torno das manifestações controvérsia sobre a apropriação do termo vadias para se autodesignar, subvertendo o uso de "vadias" como agressivo e preconceituoso. Paródia que pretende debochar dos discursos morais que o sustentam, a marcha é rejeitada por quem não considera possível ressignificar o termo. Vadia é também vagabunda, prostituta, mulher "fácil", significações que levaram o policial canadense a afirmar que mulher não pode se vestir como prostituta se não quiser ser estuprada (nem isso se sustenta, porque prostitutas não pretendem atrair estupradores, mas clientes). Nas manifestações houve lugar para a indignação com a teoria de que prostituta pode ser estuprada, em vigor em recentes decisões judiciais.
A discussão traz de volta o debate em torno da liberdade sexual. De um lado, há quem condene a pornografia como mais uma forma de submissão e de exploração comercial do corpo das mulheres. Do outro, quem considera esse discurso tão normativo sobre a sexualidade quanto qualquer outro. Por esse argumento, com o qual concordo, não haveria diferença entre condenar a pornografia ou a homossexualidade, porque a condenação se fundamentaria num ideal normativo.
Em que pesem todos os argumentos, uma coisa é preciso reconhecer: é inteligente a estratégia de rir de si mesma e dos preconceitos ridículos dos quais as mulheres ainda são alvo. Humor e irreverência são as melhores formas de protesto e podem servir, também, para recuperar a palavra "feminista" do estigma que a condenou a ser quase um xingamento. A Marcha das Vadias indica não ser preciso se levar tão a sério para ser feminista - um dos muitos sintomas da institucionalização - e que vale se divertir um pouco com a tal da condição feminina. Ao mesmo tempo que debocha do preconceito contra as "vadias", ajuda a desconstruir também o peso do termo "feminista", com a força de um grande, alto e ensurdecedor basta à violência.


Carla Rodrigues – Jornalista, professora da UFF, da PUC-Rio – 03.06.2012

domingo, 24 de junho de 2012

Deter o golpe no Paraguai


Desde 2009 o presidente Fernando Lugo vem denunciando permanentes ações dos setores ultraconservadores para destituí-lo. Faltando nove meses para novas eleições presidenciais, a elite e os partidos de direita estão desesperados frente à iminente possibilidade de continuidade do governo.

Luciano Wexell Severo
É tensa e lamentável a situação enfrentada pelo heroico povo do Paraguai. A democracia e os avanços sociais estão sendo ameaçados pelos setores mais conservadores e retrógrados da sociedade paraguaia. Está em execução um golpe de Estado dirigido por uma minoria privilegiada, por uma elite empresarial e uma oligarquia latifundiária, que cresceu e enriqueceu durante os 35 anos da ditadura militar de Alfredo Stroessner.

Os grandes meios de comunicação do Brasil, da América Latina e do mundo estão, naturalmente, em silêncio. Entretanto, graças às redes sociais e a iniciativas como o 
canal Telesul tem sido possível acompanhar os acontecimentos ao vivo. É importante lembrar que desde 2009 o presidente Fernando Lugo vem denunciando permanentes ações dos setores ultraconservadores para destituí-lo. Faltando nove meses para novas eleições presidenciais, a elite e os partidos de direita estão desesperados frente à iminente possibilidade de continuidade do governo.

Nesta quarta-feira, dia 21 de junho, em uma sessão relâmpago, 76 dos 80 deputados paraguaios aprovaram a abertura de um processo de impeachment contra o presidente. Os “argumentos” golpistas foram apresentados hoje e se pretende que o mandatário seja julgado e condenado amanhã, sexta-feira, até o final do dia. Quando pensamos que já vimos de tudo na América Latina surge algo novo. Trata-se de uma modalidade rara de golpe de Estado, sustentada por uma manipulação grosseira do poder legislativo. Houve três abstenções e a deputada Aida Robles, do Partido Participação Cidadã, foi a única que votou contra o julgamento-farsa.

A sessão parlamentar teve refinados toques de circo. Os deputados resolveram que amanhã, entre as 12h e as 17h30, se realizaria uma nova sessão. Conforme o estabelecido, o presidente Lugo teria duas horas para apresentar a sua defesa. Depois disso, os parlamentares propuseram analisar as “evidências” e anunciar o resultado. Obviamente, caso se leve a cabo este julgamento-farsa, o mandatário será destituído. Poucas vezes um parlamento de qualquer país do mundo tomou uma decisão tão importante em tão poucas horas. Isso não tem outro nome. É um golpe de Estado.

Entre os “motivos” apresentados pelos golpistas, prevalece o assunto do enfrentamento da semana passada, em Curuguaty, que causou a morte de 11 camponeses e seis policiais, além de haver deixado 50 feridos. Na ocasião, 100 famílias tentaram ocupar terras do latifundiário Blás Riquelme, ex-senador do Partido Colorado. Houve um tiroteio e este é o pano de fundo do golpe. Um dos parlamentares chegou a culpar Fernando Lugo de “cometer os piores crimes desde a Independência". Ou o deputado foi vítima de uma impressionante falta de memória ou tem o rabo preso com a ditadura de três décadas.

O caso de Curuguaty ainda não foi totalmente esclarecido, mas dirigentes dos movimentos sociais denunciam o envolvimento de franco-atiradores, que teriam disparado contra camponeses e policiais. Seria mais uma aplicação do chamado “crime de bandeira trocada”, a mesma estratégia tantas vezes utilizada na região para justificar intervenções e golpes.

O Paraguai é o quinto exportador de azeite de soja do mundo. Se bem a insatisfação da oligarquia latifundiária com o governo Lugo venha de longa data, recentemente houve um fato novo. O Serviço Nacional de Qualidade e Sanidade Vegetal e de Sementes (SENAVE) não autorizou o uso comercial da semente transgênica da Monsanto no país. Neste contexto, tem ganhado destaque a figura opositora de Aldo Zuccolillo, diretor proprietário do poderoso diário ABC Color e sócio principal da Cargill do Paraguai. O empresário opera em conjunto com a União de Grêmios de Produção (UGP), insinuando-se como uma possível liderança política.

Escutar as declarações e “acusações” dos deputados golpistas paraguaios gera uma mescla de sentimentos, que vão do espanto ao nojo. Comportaram-se como legítimos papagaios de Washington, portadores de um discurso digno da Guerra Fria e porta-vozes dos interesses da classe mais poderosa. Acusam o governo de “comunista”. Não faltaram patéticas referências à “paz”, à “liberdade” e à propriedade privada. Expressam, repetidas vezes e sem qualquer pudor, um profundo ódio às ações democratizantes do atual governo em benefício das classes populares, historicamente excluídas no país mais pobre da América do Sul.

De acordo com o Partido Popular Tekojoja, a iniciativa de realizar um julgamento deixa “evidente quem esteve por trás do massacre de camponeses e de policiais. Os principais beneficiados daquela tragédia agora revelam os seus verdadeiros interesses. Estão utilizando um acontecimento lamentável para atentar contra a democracia, o presidente e o povo paraguaio”.

Neste momento, uma missão oficial da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) está em Assunção reunida com o presidente paraguaio. Viajam os ministros de Relações Exteriores de Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Além disso, dezenas de milhares de paraguaios vindos de todas as regiões se dirigem às portas do parlamento na capital. Lugo, em cadeia nacional, afirmou que “o povo paraguaio saberá responder a esta ação de um setor egoísta que sempre concentrou privilégios e que agora não quer compartilhar os benefícios”. Finalizou dizendo que não renunciará e que saberá “honrar o compromisso assumido por meio da vontade das urnas”.

Como se sabe, Fernando Lugo é um ex-bispo católico, seguidor da Teologia da Libertação. Conta com o apoio de importantes movimentos sociais, mas sua maior debilidade parece estar no fato de não contar com uma estrutura partidária consolidada e organizada. Diversas iniciativas do governo têm sido boicotadas pelo parlamento opositor. Inclusive a entrada da Venezuela no Mercosul, amplamente vantajosa para a integração regional, está sendo trancada pelos deputados paraguaios há mais de cinco anos.

Somente a mobilização popular pode frear o golpe. Apenas para fazer referência ao período mais recente, que não se repita um golpe de Estado similar ao perpetrado sobre o presidente Manuel Zelaya, de Honduras, em 2009. E que prevaleça a vontade popular, a mobilização e a resistência, como ocorreu na tentativa frustrada de derrubar o presidente Rafael Correa, do Equador, em 2010. Ao mesmo tempo, espera-se que as Forças Armadas do Paraguai sejam dignas de suas fardas, livrem-se de uma vez por todas do fantasma da ditadura de Stroessner e se mantenham ao lado do povo. Há força suficiente para impedir o julgamento-farsa e deter o golpe.

Luciano Wexell Severo – Professor Visitante da Universidade da Integração Latino-Americana (UNILA) – 22.06.2012




Leia o processo acusatório que fundamenta o impeachment de Lugo



Por considerarlo de interés para nuestros lectores, reproducimos en éste espacio en forma integral el libelo acusatorio, en base al cual la Cámara de Diputados aprobó por aplastante mayoría el juicio político al presidente Fernando. Consta de cinco puntos principales, siendo el más grave la masacre de policías y campesinos, ocurrida la semana pasada en Curuguaty. También se menciona como causas del juicio al Presidente el acto político en el Comando de Ingeniería de las FF.AA., las invasiones de tierras (Ñacunday), la inseguridad y el Protocolo de Ushuaia II, firmado por Lugo.

• LIBELO ACUSATORIO
ANEXO
ARTÍCULO 1° INC. C) - RESOLUCIÓN H. CÁMARA DE DIPUTADOS N° 1431/2012

1. OBJETO.
El Líbelo Acusatorio contra el Presidente de la República Fernando Lugo Méndez, se funda en las consideraciones de hecho y de derecho que pasamos seguidamente a exponer:
Nuestra Constitución Nacional, en su Artículo 225, establece:
"El Presidente de la República, el Vicepresidente, los Ministros del Poder Ejecutivo, los Ministros de la Corte Suprema de Justicia, el Fiscal General del Estado, el Defensor del Pueblo, el Contralor General de la República, el Subcontralor y los integrantes del Tribunal Superior de Justicia Electoral, solo podrán ser sometidos a juicio político por mal desempeño de sus funciones, por delitos cometidos en el ejercicio de sus cargos o por delitos comunes.
La acusación será formulada por la Cámara de Diputados, por mayoría de dos tercios. Corresponderá a la Cámara de Senadores, por mayoría absoluta de dos tercios, juzgar en juicio público a los acusados por la Cámara de Diputados y, en su caso, declararlos culpables, al solo efecto de separarlos de sus cargos. En los casos de supuesta comisión de delitos, se pasarán los antecedentes a la justicia ordinaria".
2. LOS HECHOS QUE MOTIVAN ESTA ACUSACIÓN
2.1 ACTO POLÍTICO EN EL COMANDO DE INGENIERÍA DE LAS FUERZAS ARMADAS
En el año 2009, con autorización del Presidente Lugo, se realizó una concentración política de jóvenes en el Comando de Ingeniería de las Fuerzas Armadas, el que fue financiado por instituciones del Estado, incluyendo a la Entidad Binacional Yacyreta. Fernando Lugo, reconoció que la Entidad Binacional Yacyretá financió el encuentro de jóvenes socialistas de la región, llevado a cabo en el Comando de Ingeniería de las Fuerzas Armadas.
Esas instalaciones fueron utilizadas para la reunión de los jóvenes, quienes colgaron banderas con alusiones políticas, llegando a izarse una de ellas en sustitución del pabellón patrio.
Ese acto de naturaleza netamente política y con los exabruptos ampliamente difundidos por los medios de prensa solo pudo ser realizado con la autorización del Comandante en Jefe y prueba de que el Gobierno avaló, instigó y facilitó esos actos políticos dentro del cuartel es que varios importantes funcionarios del Gobierno participaron del evento pronunciando discursos instigando a la lucha de clases, como el pronunciado por el entonces Ministro de la Secretaría de Emergencia Nacional, Camilo Soares.
2.2 CASO ÑACUNDAY
Fue el Gobierno del Presidente Lugo el único responsable como instigador y facilitador de las recientes invasiones de tierras en la zona de Ñacunday. La falta de respuesta de las fuerzas policiales ante las invasiones de supuestos carperos y sin tierras a bienes del dominio privado, solo han sido parte de esa conducta cómplice.
El presidente Lugo ha utilizado a las fuerzas militares para generar un verdadero estado de pánico en toda esa región, violando el derecho de propiedad e ingresando a inmuebles de colonos, so pretexto de realizar el trabajo de amojonamiento de la franja de exclusión fronteriza. Sin embargo, esos trabajos eran acompañados por dirigentes de la Asociación de Carperos, quienes abiertamente dirigían la labor de los técnicos y de los integrantes de las fuerzas militares, que han dado lugar a interminables denuncias de los propietarios y también incontables publicaciones periodísticas referidas a esa situación.
Y mientras esas invasiones se producían y se daban a conocer amenazas de otras más en otros departamentos de la República, el Presidente Lugo se mostraba siempre con puertas abiertas a los líderes de esas invasiones, como es el caso de José Rodríguez, Victoriano López, Eulalio López, entre otros, dando un mensaje claro a toda la ciudadanía sobre su incondicional apoyo a esos actos de violencia y de comisión de delitos que eran propiciados y desarrollados a través de esas organizaciones.
Fernando Lugo ha sometido las fuerzas militares a los denominados carperos, quienes han realizado todo tipo de abusos, agresiones y atracos a la propiedad privada, a la vista de las fuerzas públicas, quienes no actuaron por la indisimulada complicidad del Presidente de la República con esos agresores.
Los miembros de esta Cámara recordarán lo ocurrido con la Intendente Municipal de Santa Rosa del Monday, María Victoria Salinas Sosa, quien fue víctima de un violento ataque de carperos quienes la golpearon, patearon y destrozaron el vehículo en el que se desplazaba.
2.3 CRECIENTE INSEGURIDAD
El Presidente Lugo ha sido absolutamente incapaz de desarrollar una política y programas que tiendan a disminuir la creciente inseguridad ciudadana.
En estos 4 años de Gobierno, a pesar de los importantes recursos financieros que le fueron proveídos por el Congreso Nacional para potenciar a la fuerza pública, los resultados han sido no solo insatisfactorios sino también ha quedado por demás demostrado la falta de voluntad del Gobierno para combatir al Ejercito del Pueblo Paraguayo, que se ha convertido, al amparo y con la complicidad del Gobierno, en el azote de los ciudadanos de los departamentos de Concepción y San Pedro.
Los distintos operativos emprendidos por el Gobierno, muchas veces con gran cobertura periodística, han tenido como único resultado el total fracaso. Nunca en la historia de este país, la Policía Nacional ha tenido tantas víctimas cobardemente asesinadas por los integrantes del EPP y, a pesar de ello, la conducta complaciente del Presidente siguió inalterable.
Todos los Miembros de esta Honorable Cámara de Diputados conocemos los vínculos que el Presidente Lugo siempre ha mantenido con grupos de secuestradores, que anteriormente se vinculaban al movimiento-partido Patria Libre y cuya ala militar hoy se denomina EPP.
Los costosos operativos dispuestos por el Gobierno durante los dos estados de excepción no han dado resultado alguno y, por el contrario, solo ha generado una mayor fortaleza de ese grupo terrorista armado a través del descrédito y las humillaciones a las que fueron sometidas las fuerzas militares y policiales asignadas al operativo.
El Presidente Lugo es el responsable de la creciente inseguridad y es responsable también por haber mantenido por tanto tiempo como Ministro del Interior a una persona absolutamente inepta e incapaz para ocupar ese cargo. Esa ineptitud, sumada a la indisimulada relación cómplice entre el Presidente Lugo y los líderes de la asociación de carperos y otras organizaciones que fueron protagonistas de innumerables invasiones de tierras y otros tipos de agresiones son los que han propiciado y facilitado el lamentable suceso que costara la vida a 17 compatriotas, 6 de ellos pertenecientes a la Policía Nacional y que fueron cruelmente asesinados y a sangre fría por auténticos criminales, que también han incitado y manipulado a campesinos del lugar.
Luego de esa triste jornada, de la que felizmente se tienen importantes datos y filmaciones que han sido generosamente difundidas por distintos medios de prensa, solo se ha tenido una posición absolutamente equívoca del Presidente de la República en relación a lo ocurrido.
Fernando Lugo Méndez y varios de sus ministros, y en especial Miguel López Perito y Esperanza Martínez, han pretendido tratar por igual a los policía cobardemente asesinados y a aquellos que fueron protagonistas de esos crímenes. El derecho a reclamar está consagrado por la Carta Magna pero nadie está autorizado a cometer crímenes so pretexto de reclamar derechos y, menos aún acabar con la vida de policías desarmados.
Esta misma actitud, se manifestó en la conferencia de prensa brindada por Fernando Lugo con relación a lo ocurrido en la estancia Morumbi, en donde ni siquiera tuvo la delicadeza de prometer el castigo de los asesinos de esos policías y de quienes instigaron a los campesinos a tomar las armas so pretexto de luchar por sus derechos.
El Presidente Fernando Lugo está propiciando y fomentando, a través de algunos miembros de su gabinete y de sus cómplices que fungen de dirigentes carperos y otras organizaciones campesinas, un conflicto social de dimensiones impredecibles y que por su comprobada incapacidad no podrá luego solucionar.
Personalmente, desde luego, manifiesto mi convicción de que el camino de la crisis y el conflicto social y armado no será el producto de negligencia o simple impericia del Presidente sino directamente el objetivo que el mismo ha buscado durante el tiempo que fue obispo y que hoy pretende desarrollar para proyectar y consolidar su anhelo de un régimen autoritario, sin libertades, con la aniquilación de la libertad de prensa y la imposición del partido único que profesan los enemigos de la democracia y los adherentes del socialismo del Siglo XXI.
Fernando Lugo y sus ministros deben respetar el derecho de todos los ciudadanos pero resulta inadmisible e injustificable que pretendan poner en pie de igualdad a los criminales y a sus víctimas, a los asesinos y a los policías que fueron cobardemente asesinados.
Mientras los familiares lloran por sus muertos, Fernando Lugo debe estar reuniéndose con los cabecillas e instigadores de los sucesos ocurridos el viernes pasado en Curuguaty y no se visualiza posibilidad alguna de que Fernando Lugo rectifique su conducta, que ya ha costado decenas de vidas de compatriotas que han caído víctimas de la inseguridad que él mismo se ha encargado y esforzado de generar.
2.4 PROTOCOLO DE USHUAIA II.
Este documento constituye UN ATENTADO CONTRA LA SOBERANÍA de la República del Paraguay y ha sido suscrito por el Presidente FERNANDO LUGO MENDEZ con el avieso propósito de obtener un supuesto respaldo en su descarada marcha contra la institucionalidad y el proceso democrático de la República.
Dicho documento ya ha motivado un pronunciamiento de la Comisión Permanente del Congreso Nacional, destacándose la falta de transparencia en el procedimiento que dio lugar a la firma del documento y a su contenido al punto que hasta la fecha, el Poder Ejecutivo no lo ha remitido al congreso para su conocimiento y consideración. A través de ese documento, los países vecinos podrían cortar el suministro de energía a la República del Paraguay.
El documento firmado en Montevideo, en diciembre de 2011, para remplazar al Protocolo de Ushuaia (Carta Democrática del Mercosur), tiene sus orígenes en un documento previo, presentado ante la Unasur (Unión de Naciones Suramericanas), que fue pergeñado por los presidentes de la región para protegerse unos a otros.
La principal características del Protocolo de Ushuaia II es la identificación del Estado con la figura de los presidentes para, en el nombre de la "defensa de la democracia", defenderse unos a otros.
2.5 CASO MATANZA CURUGUATY. Ha quedado demostrado con los hechos acaecidos en los Campos Morombi, Curuguaty, Departamento de Canindeyú, la patente inoperancia, negligencia, ineptitud e improvisación de este gobierno liderado por Presidente Fernando Lugo Méndez, que amerita la acusación de la Cámara de Diputados por mal desempeño de funciones ante la Cámara de Senadores.
Fernando Lugo, hoy por hoy representa lo más nefasto para el pueblo paraguayo, que se encuentra llorando la perdida de vidas inocentes debido a la criminal negligencia y desidia del actual Presidente de la Republica, quien desde que asumió la conducción del país, gobierna promoviendo el odio entre los paraguayos, la lucha violenta entre pobres y ricos, la justicia por mano propia y la violación del derecho de propiedad, atentando de ese modo permanentemente contra la Carta Magna, las instituciones republicanas y el Estado de Derecho.
No cabe duda que la responsabilidad política y penal de los trágicos eventos registrados 15 de junio del presente año, que costó la vida de 17 ciudadanos paraguayos entre policías y campesinos, recae en el Presidente de la República, Fernando Lugo, que por su inacción e incompetencia, dieron lugar a los hechos acaecidos, de conocimientos públicos, los cuales no necesitan ser probados, por ser hechos públicos y notorios.
El incidente no surgió espontáneamente, fue una emboscada a las fuerzas de seguridad; fue algo premeditado, producto de un plan debidamente concebido, planificado y llevado a la práctica, gracias a la complicidad e inacción del Gobierno de Fernando Lugo, responsable directo de la crisis que hoy atraviesa nuestra amada Patria.
Ya desde la Honorable Cámara de Diputados se levantaban voces de advertencia, ya se avizoraba lo que hoy es una realidad, la perdida de vidas humanas.
Hoy, podemos afirmar que este es el final que deseaba Fernando Lugo, este fue siempre el plan ideado por el mismo, con la única finalidad de crear las condiciones de crisis social y, conmoción interna que justifiquen un asalto del presidente Fernando Lugo y sus seguidores a las instituciones de la República, con el propósito de instalar un régimen contrario a nuestro sistema Republicano. Este deseo desmedido, hoy nos hace lamentar las perdidas de vidas humanas, en una cantidad nunca antes vista en la historia contemporánea de la República del Paraguay.
Todas las evidencias, que son públicas, nos demuestran que los acontecimientos de la semana pasada no fueron fruto de una circunstancia derivada de un descontrol ocasional, por el contrario, fue un acto premeditado, donde se embosco a las fuerzas del orden publico, gracias a la actitud cómplice del Presidente de la Republica, quien hoy no solo debe de ser removido por juicio político, sino que debe de ser sometido a la Justicia por los hechos ocurridos, a fin de que esto sirva de lección a futuros gobernantes.
Estos grupos extremistas, como el autodenominado Ejército del Pueblo Paraguayo (EPP) o los mal llamados Carperos, se fortalecieron día a día gracias a la incompetencia y complacencia de Fernando Lugo, que en lugar de combatirlos, como era su obligación, los recibía y apadrinaba. No cabe la menor duda que Fernando Lugo ha fortalecido a estos grupos criminales, quienes hoy no solo desafían y amenazan abiertamente a los ciudadanos honestos, sino que llegan a lo más bajo que puede caer un ser humano, que es atentar contra la vida de otro. Tan poco hoy importa al Presidente Lugo el Estado de Derecho y la vida humana, que en lugar de enderezar rumbos, se mantiene en su posición, manifestando que seguirá reuniéndose con estos criminales.
Fernando Lugo es el directo responsable de que hoy nuestro país este viviendo días de luto. Tanto él como su incapaz ex Ministro del Interior Carlos Filizzola, deben responder ante la ciudadanía por los trágicos acontecimientos registrados en el Departamento de Canindeyú.
No existe voluntad alguna de combatir estas formas de violencia, que tanto daño ya ha causado a nuestra sociedad, es por ello que debemos de cumplir con nuestra obligación Constitucional, e iniciar el proceso de juicio político por mal desempeño contra el Presidente de la República, quien desde que asumió el Gobierno ha instado al incumplimiento de órdenes judiciales de desalojo, así como a la promoción de mensuras judiciales sin mediar juicio entre las partes, o abasteciendo de provisiones y enseres a los ocupantes de tierras han sido los signos que marcaron las acciones y el temperamento de este Gobierno.

3. PRUEBAS QUE SUSTENTAN LA ACUSACIÓN
Todas las causales mencionadas más arriba, son de pública notoriedad, motivo por el cual no necesitan ser probadas, conforme a nuestro ordenamiento jurídico vigente.

4. CONCLUSIÓN.
El Presidente de la Republica Fernando Lugo Méndez ha incurrido en mal desempeño de sus funciones en razón de haber ejercido el cargo que ostenta de una manera impropia, negligente e irresponsable, trayendo el caos y la inestabilidad política en toda la Republica, generando así la constante confrontación y lucha de clases sociales, que como resultado final trajo la masacre entre compatriotas, hecho inédito en los anales de la historia desde de nuestra independencia nacional hasta la fecha, en tiempo de paz.
La causal de mal desempeño en sus funciones aparece en su actitud de desprecio ante el derecho y las instituciones republicanas, socavando los cimientos del Estado Social del Derecho proclamado en nuestra Carta Magna. Su complaciente actuar lo hace cómplice por acción y omisión en todos los casos antes citados, que legitiman la presente acusación.

5.- DERECHO
Se funda la presente acusación por mal desempeño de funciones de conformidad a lo establecido en el Articulo 225 de la Constitución Nacional.

6. PETITORIO.
6.1.- Definitivamente, la gestión del presidente Fernando Armindo Lugo Méndez ha perjudicado enormemente los intereses supremos de la Nación, que de continuar, apeligra gravemente la convivencia pacífica del pueblo paraguayo y la vigencia de los derechos y garantías constitucionales, por lo que se halla sobradamente justificada hacer lugar a la presente acusación contra el presidente Fernando Armindo Lugo Méndez por la Honorable Cámara de Senadores, por mal desempeño de funciones.
6.2.- En mérito a los argumentos precedentemente señalados dicten resolución, declarando culpable al presidente Fernando Armindo Lugo Méndez, y en consecuencia, separarlo del cargo que ostenta, de conformidad a lo establecido en el Artículo 225 de la Constitución Nacional
6.3.- En consecuencia remitir los antecedentes a la Justicia Ordinaria.


IN “La Vanguardia” – http://www.brasildefato.com.br/node/9893

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Na toca da raposa

Como Roger Ailes criou a máquina de medo da Fox News.
Para entender a rede que simboliza o ultraconservadorismo nos EUA é preciso entender Ailes.
Ajudou a criar o Tea Party levando um movimento que era motivo de chacota na televisão a uma insurgência nacional capaz de eleger senadores.
Espelho da figura paranóica de seu criador, a Fox News pauta não só o debate político, mas o próprio Partido Republicano.

Tim Dickinson
Concebida por Roger Ailes, ex-assessor de Nixon e Reagan, a Fox News lidera a audiência entre as redes jornalísticas a cabo nos EUA, com público masculino, branco, interiorano e de baixa escolaridade. Espelho da figura paranoica de seu criador, a Fox News pauta não só o debate político, mas o próprio Partido Republicano.

Introdução
Na festa de fim de ano da Fox News, no ano em que a rede ultrapassou sua arquirrival CNN em audiência na TV a cabo nos EUA, funcionários se reuniram em torno de um aparelho de TV, no subsolo de um bar em Nova York, e uma imagem se acendeu na tela: o logotipo da MSNBC.
Os fiéis seguidores da Fox desfiaram um coro de vaias. Seguiu-se o logotipo da CNN; as vaias se multiplicaram. Então veio um terceiro slide. Em vez do logo da Fox News, surgiu o rosto do fundador da rede, conhecido entre seus seguidores mais leais e aguerridos apenas como "o presidente": Roger Ailes.
"Era como se estivéssemos olhando para Mao", lembra Charlie Reina, ex-produtor da Fox News. Os "foxistas" foram à loucura. Até os que não gostavam do estilo de Ailes dirigir a rede se juntaram à manifestação de lealdade.
"É feito a União Soviética ou a China", diz um ex-executivo da empresa-mãe da rede, a News Corp. "Uns deduram os outros."

Reflexo
Em 2012, a Fox News completa dez anos na liderança absoluta entre as redes jornalísticas na TV a cabo americana. Dois dos quatro pré-candidatos republicanos à Presidência dos Estados Unidos -Newt Gingrich e Rick Santorum- são ex-comentaristas da rede, que pertence à News Corp., conglomerado de mídia do australiano Rupert Murdoch.
Para entender a rede que simboliza o ultraconservadorismo nos EUA e qual seu verdadeiro objetivo, é preciso entender Roger Ailes. "Ele é a Fox News", diz Jane Hall, comentarista da Fox durante uma década. "A Fox News é a visão dele. É um reflexo dele."
Ailes comanda a cabeça mais lucrativa da hidra da News Corp. Em 2010 a Fox News teve lucro estimado em US$ 816 milhões -quase um quinto do lucro global de Murdoch. A receita da rede rivaliza com a da divisão de filmes da News Corp., que inclui a 20th Century Fox.
Com sua enxuta central de jornalismo -a Fox News tem um terço da equipe e 30 sucursais a menos que a CNN-, Ailes gera margens de lucros mais de 50% superiores às da concorrente. Quase metade vem da publicidade; o resto vem de direitos pagos por operadoras de TV a cabo. Hoje a Fox News chega a 100 milhões de lares nos EUA. O objetivo de Ailes é que a rede "faça US$ 1 bilhão em lucros".
O sucesso garante a Ailes liberdade para moldar a rede à sua própria imagem. "Murdoch quase não tem envolvimento com a emissora", conta Michael Wolff, que passou nove meses na News Corp., pesquisando uma biografia do gigante australiano da mídia. "As pessoas têm medo de Roger. O próprio Murdoch tem medo dele. Roger acumulou um poder imenso na empresa -e no país- graças ao sucesso da Fox News."
Na realidade, é exatamente medo o que Ailes vende: sua implacável rede exagera a importância de ameaças-fantasma como a "mesquita do terror", planejada para ser construída perto do marco zero, inspirando o pastor Terry Jones, na Flórida, a queimar um exemplar do Alcorão.
Reservadamente, Murdoch se mostra impressionado pelo tino comercial de Ailes, mas rejeita sua visão política extremista. "Você sabe que o Roger é maluco", disse a um colega, fazendo um gesto de descrença com a cabeça. "Ele realmente acredita em tudo aquilo."

Desprezo
Ailes nasceu em 1940 em Warren, Ohio, subúrbio operário de Youngstown. Seu pai trabalhava na fábrica da Packard, produzindo a parte elétrica de carros da GM, e Roger cresceu cheio de ressentimento pelo desprezo com que o pai era tratado pelos "rapazes de faculdade" que comandavam a linha de produção.
Doente na infância -a hemofilia o obrigava a ficar sentado no recreio na escola-, Ailes teve de reaprender a andar após ser atropelado aos oito anos. Foi criado pela avó e pela TV, pois a mãe trabalhava fora. "A TV e eu crescemos juntos", escreveria mais tarde.
Bebedor inveterado na adolescência ("Eu vivia de porre"), Ailes diz que estudou na escola pública "porque me disseram que lá eu poderia beber".
Mas havia outra razão: seu pai o expulsou de casa quando ele concluiu o ensino médio. Durante sua passagem pela Universidade de Ohio, onde estudou rádio e TV, seus pais se divorciaram e deixaram a casa onde ele tinha passado boa parte da infância recuperando-se de doenças e machucados.
"Quando voltei, a casa tinha sido vendida e todas as minhas coisas tinham sumido", recordou. "Nunca encontrei minhas coisas!" O choque parece tê-lo imbuído de uma nostalgia quase patológica por todos os aspectos físicos da vida no interior dos Estados Unidos.
Na faculdade, Ailes tentou entrar no ROTC da Força Aérea (o programa de treinamento de oficiais da reserva), mas foi rejeitado em razão de seus problemas de saúde. Voltou-se então para o teatro, atuando em uma série de produções universitárias.
O interesse por teatro e afins não desapareceu: ao concluir a faculdade, seu primeiro emprego foi como faz-tudo no "The Mike Douglas Show", programa de variedades que, num mundo que enlouquecia com Elvis e os Beatles, dava destaque a astros envelhecidos como Jack Benny e Pearl Bailey.
Sob muitos aspectos, Roger nunca deixou de ser fruto dessa era anterior. Seus modos dos anos 1950, seus revides sarcásticos e seu machismo desavergonhado dão a impressão, diz uma pessoa íntima dele, "de que você está falando com alguém que passou algumas décadas isolado do mundo".

Discurso Raivoso
Assistir a um só dia que seja da Fox News -o discurso raivoso, o tom paranoico, os apelos ao ressentimento dos brancos, o trabalho de reportagem que se confunde com propaganda eleitoral- é enxergar o reflexo de seu fundador, um dos mais habilidosos e temíveis agentes na história do Partido Republicano.
Como consultor político, Roger Ailes reembalou Richard Nixon para a TV, em 1968; disfarçou o fato de Ronald Reagan estar começando a sofrer do mal de Alzheimer, em 1984; reforçou temores raciais para eleger George Bush pai em 1988; e travou uma campanha secreta em prol da indústria de cigarros, em 1993, para tirar dos trilhos uma reforma do sistema de saúde. "Ele era o número um no nosso negócio", diz Ed Rollins, ex-chefe de campanha de Reagan. "Era o nosso Michelangelo."
De acordo com a fábula que Ailes conta, ele rompeu com seu passado político sujo muito antes de 1996, quando se uniu a Rupert Murdoch para lançar a Fox News. "Abandonei a política porque a odiava", declarou certa vez.
Ailes vem utilizando a Fox News para travar uma nova forma de campanha política, que permite ao Partido Republicano passar ao largo de jornalistas céticos e lançar ataques 24 horas por dia. A Fox News é um gigantesco palco criado para imitar o visual e o ambiente jornalístico, no qual a propaganda política é camuflada sob a aparência de jornalismo independente.
O resultado é uma poderosa máquina política, que exerce um papel de liderança na definição da pauta republicana e na promoção da agenda da extrema direita. A Fox News desequilibrou a balança eleitoral em favor de George W. Bush em 2000, declarando-o presidente prematuramente, iniciativa que levou todas as outras emissoras a seguirem seu exemplo.
Ajudou a criar o Tea Party, levando um movimento que era motivo de chacota na TV a insurgência nacional capaz de eleger senadores. Ao incubar uma multidão de potenciais candidatos republicanos na folha salarial da Fox News -incluindo Sarah Palin, Mike Huckabee, Newt Gingrich e Rick Santorum-, Ailes parece determinado a acrescentar um quinto crédito presidencial a seu currículo neste ano.
Ailes tem a aparência clássica de um vilão do cinema: careca e obeso, mãos delicadas, bochechas gordas como as de Hitchcock e andar desajeitado. Seus amigos o descrevem como alguém leal, generoso e engraçadíssimo. Mas Ailes também é um tirano ocasional, tendo dito certa vez: "Para mim, é amizade ou terra arrasada".
"O que diverte o Roger é a destruição", falou Dan Cooper, peça-chave da equipe que fundou a Fox News. Além disso, Ailes é profundamente paranoico. Convencido de que está na mira da Al Qaeda para ser assassinado, ele se cerca de uma equipe de segurança agressiva e anda armado.

Vocação
Ailes encontrou sua vocação na TV. Mostrou ser um gênio natural do veículo, tendo feito uma ascensão meteórica de faz-tudo a produtor-executivo aos 25 anos. Tinha um dom surpreendente para ganhar vida na TV ao vivo.
Mas foi nos bastidores do "Mike Douglas Show", em 1967, que conheceria o homem que o faria iniciar sua jornada como maior operador político de sua geração: Richard Milhous Nixon.
O ex-vice-presidente (1953-61)-cuja performance desajeitada, empapado em suor, num debate televisivo com John F. Kennedy, ajudara fracassar sua tentativa de conquistar a Presidência em 1960- fazia uma turnê de mídia para reabilitar sua imagem. Enquanto aguardavam o início do programa em seu escritório, Ailes provocou seu poderoso convidado.
"A câmera não gosta de você", falou. Nixon não gostou. "É lamentável que um homem precise recorrer a artifícios como a TV para se eleger", reclamou. "A TV não é um artifício", disse Ailes. "E, se você acha que é, vai perder de novo."
Nixon se convenceu de que tinha encontrado um jovem gênio que seria capaz de vender sua imagem ao público. Para Roger Ailes, foi a primeira vez em que um candidato o conquistou de verdade.
Ele logo abandonou o emprego de produtor do maior sucesso da Westinghouse para ser contratado como "produtor executivo de TV" de Richard Nixon.

Murdoch
Assim como Nixon, Rupert Murdoch achou Ailes cativante, poderoso, cheio de bons contatos políticos e divertidíssimo. Ambos tinham sido casados duas vezes. Compartilhavam um desprezo declarado pelas regras tradicionais do jornalismo. Murdoch tinha interesse próprio em atacar progressistas com intenções regulatórias, cujas políticas ameaçavam seus planos de expansão.
Antes de assinar contrato para comandar a nova rede, exigiu que Murdoch conseguisse sua distribuição a cabo em todo o país. Normalmente, operadoras de cabo como a Time Warner pagam provedoras de conteúdo, como a CNN ou a MTV, pelos direitos de transmissão. Murdoch virou esse modelo de ponta-cabeça.
Ele não só entregou a Fox News de graça como pagava às operadoras até US$ 20 por assinante para levar a Fox News a 25 milhões de residências. "A oferta de Murdoch chocou o setor", escreve seu biógrafo Neil Chenoweth. "Ele estava disposto a entregar meio bilhão de dólares só para comprar uma voz nos noticiários."
Antes de ir ao ar, a Fox News já tinha garantido um público de massa, comprado e pago. Ailes elogiou a "ousadia" de Murdoch, acrescentando: "Isto é capitalismo, e é uma das coisas que fez este país ser tão grande".

Ética
Ailes também estava determinado a não deixar que a ética jornalística atrapalhasse sua agenda política. Para garantir uma equipe de jornalistas maleáveis, comandou o que descreveu como uma "fuga da prisão" da NBC, trazendo dezenas de profissionais com ele para a Fox News.
Em seguida, começou um expurgo na Fox News. "Havia um teste que era aplicado", recorda Joe Peyronnin, cujo lugar Ailes tomou na direção da rede. "Ele tentaria decifrar quais eram os progressistas e quais eram os conservadores, livrando-se dos progressistas."
Quando desconfiava de que um jornalista não era suficientemente de direita, lançava uma acusação: "Por que você é progressista?". Se já tivessem trabalhado em uma grande rede de jornalismo, Ailes obrigava os jornalistas a se defenderem por terem trabalhado, por exemplo, na CBS, que apelidava de "Communist Broadcast System".
Ailes converteu sua Redação em um bunker. Os jornalistas e produtores da Fox News trabalham num local enorme e sem janelas situado abaixo do nível da rua. No mesmo subterrâneo, Ailes criou uma unidade de pesquisas -conhecida na Fox News como a "brain room", ou sala dos cérebros. Segundo Cooper, que ajudou a projetar as especificações da sala, a "brain room" "é onde mora o mal".

Bush
Mas foi a eleição de George W. Bush em 2000 que revelou o verdadeiro poder da Fox News como máquina política. Segundo um estudo da Universidade da Califórnia, a Fox News transferiu cerca de 200 mil votos para Bush em áreas onde os eleitores tinham acesso à rede. Mas Ailes, o eterno operador político, não deixaria o resultado a cargo de algo tão imprevisível quanto o voto popular.
O homem que chamou para chefiar a "editoria da decisão" na noite da eleição -ou seja, o consultor responsável por declarar a vitória de Gore ou Bush em cada Estado- era ninguém menos que John Prescott Ellis, primo-irmão de Bush.
Tal conflito de interesses desqualificaria Ellis em qualquer Redação digna do nome. Mas, para Ailes, a lealdade a Bush representava um ponto a favor. "Nós, na Fox News", ele diria mais tarde em audiência na Câmara, "não discriminamos pessoas em razão de seus vínculos familiares."
No dia da eleição, Ellis ficou em contato constante com o próprio Bush. Depois da meia-noite, quando cifras tardias indicavam que Bush tinha uma vantagem estreita, Ellis se adiantou, declarando-o vencedor -embora, na Flórida, o consórcio de contagem de votos utilizado por todas as redes de TV ainda considerasse que a diferença era pequena demais para que se pudesse declarar o vencedor.
Hume anunciou a vitória de Bush na Fox às 2h16, iniciativa que levou todas as outras emissoras a seguirem seu exemplo, provocando manchetes sobre "vitória de Bush" nos jornais matinais.
"Nunca saberemos se Bush venceu ou não a eleição na Flórida", diz Dan Rather, âncora da cobertura eleitoral da CBS naquela noite. "Mas, em situações desse tipo, a capacidade de controlar a narrativa passa a ser crucial. Liderada pela Fox, a narrativa passou a ser que Bush tinha vencido a eleição."

Medos
Ailes sabe exatamente quem está assistindo à Fox News e é hábil em intensificar os piores medos do público na era de Barack Obama. O público da emissora é idoso, com idade média de 65 anos; logo, os anúncios são voltados a pessoas com imobilidade, doentes e incontinentes.
O público também é quase exclusivamente branco -só 1,38% dos espectadores da Fox News são afro-americanos. "Roger entende o público", disse Rollins, ex-consultor de Reagan. "Sabe como direcionar as notícias para o público-alvo, que é o que a Fox News faz."
O espectador típico do programa de Hannity, para pegar um exemplo extremo, é pró-empresas (86%), conservador cristão (78%), partidário do Tea Party (75%), sem diploma universitário (66%), tem mais de 50 anos (65%), é a favor da NRA, o lobby americano das armas (73%), não apoia os direitos dos gays (78%) e acha que o governo "interfere demais" (84%).
De acordo com pesquisas recentes, os espectadores da Fox News são os mais desinformados entre todos os consumidores de notícias. Eles têm 12% mais chances de acreditar que o pacote de estímulo à economia provocou perdas de empregos, 17% mais probabilidade de acreditar que os muçulmanos querem estabelecer a sharia (lei muçulmana) nos EUA, 30% mais chances de dizer que cientistas contestam o aquecimento global e 31% mais chances de colocar em dúvida a cidadania americana do presidente Obama.
Segundo um estudo da Universidade de Maryland, a ignorância dos espectadores da Fox aumenta proporcionalmente ao tempo que eles passam assistindo à rede. Isso acontece porque Roger Ailes não está interessado em fornecer informações às pessoas, nem mesmo uma gama equilibrada de pontos de vista. Como seu mentor político, Richard Nixon, Ailes vende as emoções da vitimização.
"Ele pega o sentimento de vergonha de pessoas que se sentem desprezadas e o mobiliza com finalidade política", diz Perlstein, autor de "Nixonland". "Roger Ailes é um vínculo direto entre a política nixoniana do ressentimento e a política do ressentimento de Sarah Palin. Ele é o fio conector."
Resta saber se Ailes conseguirá seus dois objetivos: atingir a meta de US$ 1 bilhão em lucros anuais e destronar Obama com um de seus candidatos-empregados. De todo modo, ele pôs o Partido Republicano em sua folha de pagamento e o obrigou a recriar-se em torno da imagem de Roger Ailes.
Ailes é o presidente, e hoje o movimento conservador se reporta a ele. "Originalmente, nós, republicanos, pensávamos que a Fox trabalhava para nós", disse David Frum, ex-redator de discursos de Bush. "Agora estamos descobrindo que nós é que trabalhamos para a Fox."



Tim Dickinson – 26.02.2012
Texto originalmente publicado na revista “Rolling Stone”.
Tradução Clara Allain.