E sabe
de quem é a responsabilidade por este sistema prisional? De todos nós. Sim,
isso mesmo, de todos nós, ou da imensa maioria, que não quer olhar para este
problema e quer que os presídios sejam o pior possível – e, ao mesmo tempo,
paradoxalmente, quer que as pessoas se recuperem.
Rodrigo Puggina
Todos
sabem que a população carcerária do nosso país vem aumentando vertiginosamente.
Para que tenhamos noção, em pouco mais de uma década e meia o número de pessoas
encarceradas mais do que triplicou, superando o número de meio milhão de
pessoas presas. Acrescentando-se aí o número de pessoas que cumprem pena ou
medida alternativa, como prestação de serviço à comunidade, por exemplo,
passamos facilmente do número de 1 milhão de pessoas.
O
resultado de uma sociedade que não consegue achar outras formas de resolver
seus conflitos não poderia ser outro. Curiosamente, quanto mais prendemos
pessoas, mais aumentamos a violência. E, por conseguinte, mais gastamos
dinheiro com um sistema que está falido há tempos – não é por menos que para o
ano que vem gastaremos incalculáveis bilhões com esta estrutura policial,
criminal e penitenciária novamente. Como dizem vulgarmente, é o mesmo que
enxugar gelo. Ou pior, já que um dia o gelo acaba, enquanto que na questão
prisional só temos feito piorar.
Ao
mesmo tempo, continuamos prendendo sempre, e cada vez mais, o mesmo público:
pessoas pobres. Inclusive, o que talvez seja pior, prendendo e mantendo presas
irregularmente milhares de pessoas pobres – como apontou recente relatório do
Conselho Nacional de Justiça. Conforme o relatório apresentado pelo Ministro
Cezar Peluso, o Mutirão Carcerário permitiu a libertação de 21 mil pessoas em
todo o país, e benefícios para mais de 41 mil pessoas.
E sabe
de quem é a responsabilidade por este sistema prisional? De todos nós. Sim,
isso mesmo, de todos nós, ou da imensa maioria, que não quer olhar para este
problema e quer que os presídios sejam o pior possível – e, ao mesmo tempo,
paradoxalmente, quer que as pessoas se recuperem.
E o
incrível é que a imensa maioria da sociedade não percebe que está envolvida
diretamente neste assunto, seja pelas pessoas que saíram ou estão neste sistema
e com as quais cruzamos diariamente, mesmo que não saibamos disso, no ônibus,
nas ruas, no táxi, no trabalho, seja pelos impostos que pagamos e que vai diretamente
financiar todo este sistema falido. Como já disse o escritor Albert Camus,
“somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos
de fazer”. Você acha, realmente, que não tem nada a ver com isso?
Rodrigo
Puggina – Presidente do Conselho Penitenciário do Rio
Grande do Sul – 13.01.2012