A meritocracia escamoteia
as reais operações de poder. (...) Assim, os critérios de avaliação que
ranqueiam os cursos de pós-graduação no país são pautados pelas correntes mais
poderosas do meio acadêmico e científico; bons desempenhos no mercado literário
são produzidos não só por uma boa literatura, mas por grandes investimentos em
marketing; grandes sucessos no meio musical são conseguidos, dentre outras
formas, “promovendo” as músicas nas rádios e em programas de televisão, e assim
por diante. Os poderes econômico e político, não raras vezes, estão por trás
dos critérios avaliativos e dos “bons” desempenhos.
Renato Santos de Souza
A primeira vez que ouvi a Marilena Chauí bradar contra a classe média,
chamá-la de fascista, violenta e ignorante, tive a reação que provavelmente a
maioria teve: fiquei perplexo e tendi a rejeitar a tese quase impulsivamente.
Afinal, além de pertencer a ela, aprendi a saudar a classe média. Não dá para
pensar em um país menos desigual sem uma classe média forte: igualdade na
miséria seria retrocesso, na riqueza seria impossível. Então, o engrossamento
da classe média tem sido visto como sinal de desenvolvimento do país, de
redução das desigualdades, de equilíbrio da pirâmide social, ou mais, de uma
positiva mobilidade social, em que muitos têm ascendido na vida a partir da
base. A classe média seria como que um ponto de convergência conveniente para
uma sociedade mais igualitária. Para a esquerda, sobretudo, ela indicaria uma
espécie de relação capital-trabalho com menos exploração.
Então, eu, que bebi da racionalidade desde as primeiras gotas de leite
materno, como afirmou certa vez um filósofo, não comprei a tese assim,
facilmente. Não sem uma razão. E a Marilena não me ofereceu esta razão. Ela
identificou algo, um fenômeno, o reacionarismo da classe média brasileira, mas
não desvendou o sentido do fenômeno. Descreveu “O QUE” estava acontecendo, mas
não nos ofereceu o “PORQUE”. Por que logo a classe média? Não seria mais
razoável afirmar que as elites é que são o “atraso de vida” do Brasil, como
sempre foi dito? E mais, ela fala da classe média brasileira, não da classe
média de maneira geral, não como categoria social. Então, para ela, a
identificação deste fenômeno não tem uma fundamentação eminentemente filosófica
ou sociológica, e sim empírica: é fruto da sua observação, sobretudo da classe
média paulistana. E por que a classe média brasileira e não a classe média em
geral? Estas indagações me perturbavam, e eu ficava reticente com as afirmações
de dona Marilena.
(...)
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Renato Santos de Souza – UFSM – 20.10.2013
IN Jornal GGN.