As desigualdades no Brasil acompanham o
escurecimento da pele, mostra pesquisa: quanto mais preto, mais pobre, menos
renda, menos educação, menos oportunidades.
Ao identificar os muitos tons de pele do
grande grupo de pardos e, portanto, ao representar melhor as distinções
existentes na ampla camada que separa brancos e negros, o estudo mostra que o
racismo não está apenas nas pontas extremas entre o branco e o preto, mas se dá
em cada um dos degraus de cor que separam, por exemplo, o moreno do moreno
claro, o mulato do morno escuro, o jambo do castanho.
Carla
Rodrigues
Quanto mais escura a cor da pele, menos renda, menos educação, menos
oportunidades. O inverso também é verdadeiro: quanto mais clara a cor da pele,
mais renda, mais educação, mais oportunidades. Para além da diferença aguda
entre os pontos mais extremos da desigualdade na estratificada sociedade
brasileira - na ponta mais alta, homem, branco, urbano e rico; na mais baixa,
mulher, preta, rural e pobre -, a pesquisa A Dimensão Social das Desigualdades,
do sociólogo Carlos Costa Ribeiro, encontrou uma escala de desigualdades que
acompanha de forma contínua o escurecimento da cor da pele.
Os dados mostram como a cada ponto a mais no escurecimento da cor da
pele corresponde também um ponto a menos na escala de oportunidades sociais e
econômicas (veja gráfico na próxima página). "Com isso, consigo refinar a
percepção sobre desigualdade racial", diz Ribeiro, do Instituto de Estudos
Sociais e Políticos (Iesp), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A proposta de trabalhar com um amplo espectro de cores de pele - 14,
autodeclaradas pelos seus entrevistados - está ancorada na história da miscigenação
racial no país. No Brasil, explica, raça diz mais respeito à aparência física e
à cor da pele do que à origem. Tonalidade da pele, tipo de cabelo, formatos de
nariz e de boca são traços distintivos de maior ou menor proximidade com o
branco, expressão física dessa miscigenação, e melhor representação da
realidade social do que a mera divisão entre brancos e não brancos.
Carla Rodrigues – Professora no Departamento de Filosofia da
UFRJ – 14.02.2014
IN
Valor Econômico.