segunda-feira, 26 de maio de 2014

Rolezinho: os shoppings centers oferecem aos paulistanos realidade virtual


A “classe baixa com poder de consumo mas ainda fora de patamares mínimos de dignidade”, conhecida como “nova classe média”, está alcançando a inclusão social através do consumo. A pessoa deixa de ser vista como uma ignorante completa, uma estrangeira, porque tem um tênis, um boné um iPhone. Sendo que seria melhor que sua inclusão ocorresse via a garantia de serviços de educação, saúde, cultura e lazer de qualidade e as consequências positivas que isso traz.

Leonardo Sakamoto
“Tem de proibir esse tipo de maloqueiro de entrar num lugar como este.”
A frase – registrada pela sempre presente Laura Capriglione, para a Folha de S. Paulo – é de uma frequentadora do Shopping Internacional de Guarulhos, revoltada com a chegada de centenas de jovens pobres que marcaram, via redes sociais, de se divertirem por lá no último sábado (14).
Antes de mais nada, tem que proibir esse tipo de pessoa que diz a frase acima de andar por aí, solta. Depois ela morde alguém e fica por isso mesmo.
Considerando que eles não roubaram nada, por que 23 deles foram detidos? Cor de pele? Trajes inadequados? Falta de comprovante de renda? Gosto musical? Se um princípio de arrastão ocorreu, como dizem algumas testemunhas, por que o shopping soltou uma nota afirmando que nada foi roubado?
Não precisa ser sociólogo para perceber que a molecada que marca esses encontros quer, acima de tudo, reafirmar sua existência. E mesmo alguns tumultos que possam causar têm a ver com isso. É como se gritassem a plenos pulmões: “Ei, eu existo, pô!” Boa parte dos jovens negros e pobres da periferia nascem e morrem diariamente sem que o Estado esboce um bocejo de preocupação ou que o restante da sociedade fique sabendo.
Os shoppings centers oferecem aos paulistanos realidade virtual. Meus amigos de Alphaville, ao criticarem os condomínios fechados em que cresceram, chamam esse tipo de estrutura de “bolhas”. Um ambiente agradável, asséptico, sem pobreza, dor ou feiúra, com temperatura estável e luz na quantidade certa para possibilitar aquilo que fazemos de melhor: comprar.

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Para continuar a leitura, acesse: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/12/16/rolezinho-os-shoppings-centers-oferecem-aos-paulistanos-realidade-virtual/


Leonardo Sakamoto – Jornalista e doutor em Ciência Política – 16.12.2013
IN Blog do Sakamoto.