terça-feira, 30 de setembro de 2014

Para calcular o futuro


 E o que é mais importante, o Brasil terá que sustentar uma "vontade estratégica" consistente e permanente, ou seja, uma capacidade social e estatal de construir consensos em torno de objetivos internacionais de longo prazo, junto com a capacidade de planejar e implementar ações de curto e médio prazo, mobilizando os atores sociais, políticos e econômicos relevantes, frente a cada situação e desafio em particular.
Mais difícil do que tudo isto, entretanto, será o Brasil descobrir um novo caminho de afirmação da sua liderança e do seu poder internacional, dentro e fora de sua zona de influência imediata. Um caminho que não siga o mesmo roteiro das grandes potências do passado, e que não utilize a mesma arrogância e a mesma violência que utilizaram os europeus e os americanos para conquistar, submeter e "civilizar" suas colônias e protetorados. Em segundo lugar, como todo país que ascende dentro do sistema internacional, o Brasil terá que questionar de forma cada vez mais incisiva, a ordem institucional estabelecida e os grandes acordos geopolíticos em que se sustenta.

José Luís Fiori
As "grandes potências" se protegem coletivamente, impedindo o surgimento de novos estados e economias líderes, através da monopolização das armas, da moeda e das finanças, da informação e da inovação tecnológica. Por isto, uma "potência emergente" é sempre um fator de desestabilização e mudança do sistema mundial, porque sua ascensão ameaça o monopólio das potências estabelecidas". J.L.F. "História, Estratégia e Desenvolvimento. Para uma Geopolítica do Capitalismo", Editora Boitempo, 2014, SP, p: 35 (no prelo)
No século XX, o Brasil deu um passo enorme e sofreu uma transformação profunda e irreversível, do ponto de vista econômico, sociológico e político. No início do século, era um país agrário, com um Estado fraco e fragmentado, e com um poder econômico e militar muito inferior ao da Argentina. Hoje, na segunda década do século XXI, o Brasil é o país mais industrializado da América Latina e a sétima maior economia do mundo; possui um estado centralizado e democrático, uma sociedade altamente urbanizada - ainda que desigual - e é o principal player internacional do continente sul-americano.
Além disso, é um dos países do mundo com maior potencial de crescimento pela frente, se tomarmos em conta seu território, sua população e sua dotação de recursos estratégicos, sobretudo se for capaz de combinar seu potencial exportador de commodities com a expansão sustentada do seu próprio parque industrial e tecnológico. Tudo isto são fatos e conquistas inquestionáveis, mas estes fatos e conquistas colocaram o Brasil frente a um novo elenco de desafios internacionais, e hoje, em particular, o país está enfrentando uma disjuntiva extremamente complexa.
(...)




José Luís Fiori – Professor titular de economia política internacional da UFRJ, é autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, e coordenador do grupo de pesquisa do CNPQ/UFRJ "O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo" – 28.05.2014
IN Valor Econômico – versão impressa.


sábado, 27 de setembro de 2014

Terra em transe


As metrópoles se transformaram, assim como os paradigmas da pesquisa sobre os problemas urbanos.

Fabrício Marques
Os problemas urbanos do Brasil se tornaram mais complexos nas últimas décadas, e a FAPESP, ao longo de seus 50 anos, financiou o trabalho de pesquisadores que revelaram essa transformação. Se na década de 1970 os estudos diagnosticavam as periferias das metrópoles como um território fortemente atingido por ondas migratórias e uniformemente alijado da presença do Estado, o paradigma atual da pesquisa mostra que elas se tornaram heterogêneas, são contempladas com serviços públicos de saúde e educação, ainda que com qualidade desigual, mas que comprometem a vida de seus moradores com deficiências de transporte e violência, para citar dois exemplos. Outra mudança de paradigma tem a ver com a capacidade de reunir dados sobre as cidades e utilizá-los, com a ajuda de recursos computacionais, para gerar conhecimento novo e aplicações para a sociedade. “A massa de dados disponível hoje é gigantesca e permite realizar estudos de grande alcance. Há não muito tempo os pesquisadores eram obrigados a restringir o alvo de pesquisa pela dificuldade de coletar dados”, explica Marta Arretche, professora do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) e diretora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos 11 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela FAPESP entre 2000 e 2011.
Uma das vocações do CEM é produzir e disseminar dados georreferenciados sobre as principais metrópoles brasileiras. “Quando começamos, o geoprocessamento era pouco desenvolvido no país e as bases cartográficas, raras”, diz Eduardo Marques, professor do mesmo departamento da USP e diretor do centro entre 2004 e 2009. “Órgãos públicos produziam dados, que acabavam não sendo disponibilizados. Nós compramos bases de dados, digitalizamos e integramos outras, usamos para nossas pesquisas e as colocamos no nosso site, de graça.” O centro também desenvolve estudos e projetos sob encomenda. Quando alguma esfera de governo precisa de um trabalho específico, o CEM faz o geoprocessamento com dados disponíveis, que são analisados e cruzados pelos pesquisadores do centro.
(...)
Para continuar a leitura, acesse – http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/03/23/terra-em-transe/








Fabrício Marques – março de 2012
IN Revista Fapesp, Ed. 193. 
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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

“A juventude despolitizada de 2013 parece ter encontrado sua redentora”. Entrevista especial com Adriano Codato


ADRIANO CODATO - "A despeito das paixões de seus torcedores, MARINA SILVA não reinventará a política nacional. Pelo contrário, ela reforça os regulamentos e as práticas existentes. Utiliza todos os recursos tradicionais da tradicional política brasileira: migração entre partidos, personalismo, alianças multipartidárias (logo, 'não ideológicas'), apoios heterodoxos. O interessante é que ela faz tudo isso dizendo que não o faz e ampla parcela dos eleitores desiludidos com a velha política acredita (...) Penso que a repercussão das MANIFESTAÇÕES DE JUNHO DE 2013, já está sendo sentida pelo sistema político e pelos seus protagonistas. Marina Silva, uma política de carreira, conseguiu encarnar a figura da política pura em meio aos impuros e apresentar-se como a promessa de redenção dos males nacionais repetindo um chavão sem conteúdo: 'REFORMA POLÍTICA'. Imagina-se que através dela seja possível repudiar a política real (apoios 'FISIOLÓGICOS', amplas maiorias, sistemas de corrupção), os partidos tradicionais, 'Tudo isso que aí está', enfim. A juventude despolitizada de 2013 parece ter encontrado sua redentora".

Patrícia Fachin
 “Imagina-se que através de Marina seja possível repudiar a política real (apoios ‘fisiológicos’, amplas maiorias, sistemas de corrupção), os partidos tradicionais, ‘tudo isso que aí está’”, comenta o cientista político.
O crescimento de Marina Silva nas pesquisas eleitorais é uma consequência e uma “repercussão das manifestações de junho de 2013”, avalia Adriano Codato em entrevista à IHU On-Line. “Uma política de carreira”, menciona, Marina“conseguiu encarnar a figura da política pura em meio aos impuros e apresentar-se como a promessa de redenção dos males nacionais repetindo um chavão sem conteúdo: ‘reforma política’”. Para ele, uma terceira via na política brasileira a partir da eleição de Marina, “que é uma costela do PT, diga-se de passagem, só conseguirá, porém, firmar-se como força política (e não simplesmente eleitoral) se conseguir eleger também uma bancada razoável na Câmara dos Deputados (bem acima dos atuais 5%), governadores nos estados, etc.”. E acrescenta: “Será inevitável aceitar, caso Marina vença, o desembarque maciço da tropa do PMDB, a aproximação e, tão logo seja decente, o casamento com o PSDB e, quem sabe o futuro, até mesmo a ressurreição do DEM”.
 (...)







Patrícia Fachin – 05.09.2014
Adriano Codato - Cientista Político e Professor da UFPR
IN Instituto Humanitas Unisinos.


domingo, 21 de setembro de 2014

SP precisa explicar os erros de sua política de segurança pública


outro efeito nefasto da alarmante letalidade policial é a destruição da legitimidade da ação da polícia junto a grandes parcelas da população. Os jovens da periferia desconfiam da ação da polícia e sentem medo quando a polícia está presente. A presença da polícia é fator de insegurança para os jovens negros da periferia, contrariando todas as nossas crenças de que a presença da polícia transmita a sensação de segurança. O descrédito na polícia é muito negativo para a ordem democrática, pois reforça a legitimidade de soluções fora da lei, incluindo a administração de conflitos por agentes vinculados ao crime e a violência cometida com as próprias mãos. 

Jacqueline Sinhoretto
Os números alarmantes da letalidade policial precisam ser melhor estudados por relatórios independentes e por pesquisadores. Mas o mais importante é que eles sejam explicados pela Polícia Militar e pela Secretaria de Segurança Pública, pois eles devem ao público transparência e compromisso. É preciso que o Comando da PM, a SSP e o Governo do Estado de São Paulo expliquem porque aumentaram os confrontos com mortos nas atuações policiais. E expliquem o que está dando errado nas operações policiais para que elas estejam fugindo tanto ao controle e produzindo resultados indesejados com tanta frequência.
Não obstante, as declarações do governador e o próprio discurso da PM indicam que o crescimento do número de mortos está ligado a uma política de segurança que aposta no confronto violento, ao invés de apostar em investigação e inteligência para realizar o controle do crime. Entrevistas concedidas por policiais civis aos pesquisadores da UFSCar têm abordado a sensação de desprestígio que a polícia investigativa sente diante da gestão Alckmin. Alguns usaram a expressão “sucateamento da Polícia Civil”. Eles percebem um privilégio à PM para atuar em procedimentos sigilosos promovidos em parceria com setores do Ministério Público, atuando num modelo de investigação pouco democrático e com objetivos não muito esclarecidos.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://ponte.org/sp-precisa-explicar-os-erros-de-sua-politica-de-seguranca-publica/





Jacqueline Sinhoretto – Professora do Departamento de Sociologia da UFSCar, Coordenadora do Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos (GEVAC) – 09.08.2014
IN A ponte.org.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O modelo de desenvolvimento proposto por Lula e Dilma


O objetivo maior dessa estratégia, e inédito no Brasil, tem sido a inclusão e a proteção social, com radical redução da pobreza e igualdade de oportunidades para todos.
 (...) sua sustentação econômica em médio e longo prazo reside na continuidade da expansão dos investimentos em três frentes de expansão: investimentos em produção e consumo de massa, investimentos em infraestrutura e investimentos na produção de bens e serviços intensivos em recursos naturais.
A desaceleração recente nessas frentes de expansão não justifica que ignoremos enormes avanços já alcançados, e tampouco o potencial de desenvolvimento futuro contido nelas.

Ricardo Bielschowsky
Os governos Lula e Dilma implementaram no período 2003-2014 uma estratégia de desenvolvimento socioeconômico de longo prazo, cujos êxitos alcançados e perspectivas de sucesso futuro as oposições tentam minimizar, momentaneamente favorecidas pelo baixo crescimento atual do PIB.
A estratégia foi enunciada na campanha eleitoral de 2002, e reiterada em uma série de documentos e pronunciamentos oficiais ao longo dos três mandatos: crescimento com baixa inflação e redistribuição de renda, associado ao modelo de consumo de massa.
No “Programa de Governo 2002”, da Coligação Lula Presidente, as linhas do novo modelo estavam assim anunciadas:
“(…) O motor básico do sistema é a ampliação do emprego e da renda per capita e, consequentemente, da massa salarial que conformará o assim chamado mercado interno de massas. O crescimento sustentado a médio e longo prazo resultará da ampliação dos investimentos na infraestrutura econômica e social e nos setores capazes de reduzir a vulnerabilidade externa, junto com políticas de distribuição de renda”.
O objetivo maior dessa estratégia, e inédito no Brasil, tem sido a inclusão e a proteção social, com radical redução da pobreza e igualdade de oportunidades para todos.



(…)




Ricardo BielschowskyProfessor Titular do Instituto de Economia da UFRJ - 26.09.2014

IN Brasil Debate. 

As sementes do fascismo, no século 21


O fascismo do século 21 evoca ideologias mistificadoras, muitas vezes envolvendo supremacia racial e ou cultural e xenofobia.A cultura neofascista banaliza e exalta a guerra e a violência social.

William I. Robinson
Em Policing the Crisis, clássico estudo conduzido, em 1978, pelo famoso socialista e teórico cultural Stuart Hall e alguns colegas, os autores mostram que a reestruturação do capitalismo, uma resposta à crise da década de 1970 – a última grande crise mundial do capitalismo até a de 2008 –, produziu, no Reino Unido e em todo o mundo, um “estado excepcional”. Significava um processo de ruptura com os mecanismos de controle social, então consensuais, e um autoritarismo crescente. Eles escreveram:
“Este é um momento extremamente importante. Esgotado o repertório da hegemonia por meio do consentimento, destaca-se cada vez mais a tendência ao uso rotineiro das características mais repressivas do Estado. Aqui, o pêndulo no exercício da hegemonia inclina-se, de forma decisiva. De um período em que consentimento suplantava a coerção, passa-se a outro em que a coerção volta a ser a forma natural e rotineira de assegurar o consentimento. Esse deslocamento interno do pêndulo da hegemonia – de consentimento para coerção – é uma resposta do Estado à crescente polarização (real e imaginária) das forças de classes. É, exatamente assim, que uma “crise de hegemonia” se expressa… O lento desenvolvimento de um estado de coerção legítimo, o nascimento de uma sociedade de “lei e ordem”… Todo teor da vida social e política é transformado (neste momento). Um novo ambiente ideológico, claramente distinto, é urdido. (Policing the Crisis, pp. 320-321).”
Esta é também uma descrição exata da atual conjuntura. Estamos testemunhando a transição de um estado de bem-estar social para um estado de controle social, em todo o mundo. Estamos diante de uma crise global sem precedentes, dada sua magnitude, seu alcance global, a extensão da degradação ambiental e da deterioração social e a escala dos meios de violência. Nós realmente estamos enfrentando uma crise da humanidade, entramos em um período de grandes agitações, de mudanças e incertezas. E esta crise é distinta dos episódios anteriores de crises mundiais – a de 1930 ou a de 1970 – precisamente porque o capitalismo mundial é fundamentalmente distinto, no início do século 21.
Entre as transformações qualitativas que ocorreram no sistema capitalista, em face da globalização das últimas décadas, há quatro que quero destacar. A primeira é a ascensão do capital transnacional e a integração de todos os países dentro de um novo sistema financeiro de produção globalizada. A segunda é o surgimento de uma nova Classe Capitalista Transnacional (TCC, sigla em inglês para “Transnational Capitalist Class”). Este grupo apoia-se em novos circuitos globais de acumulação, ao invés dos velhos circuitos nacionais. A terceira transformação é a ascensão da que eu chamo de aparatos estatais transnacionais. A quarta, o aparecimento de novas relações de desigualdade e dominação na sociedade global, incluindo a crescente importância das desigualdades sociais e de classe, relacionadas aos desequilíbrios Norte-Sul.

(...)

 William I Robinson – Professor of Sociology at the University of California, Santa Barbara – 16.09.2013
As ideias deste ensaio serão desenvolvidas em detalhe no livro Global Capitalism, Global Crisis, a ser publicado em 2014 pela Cambridge University Press. Este texto baseia-se numa fala à Conferência sobre Poder e Justiça, em Nova York.
Tradução de Taís Gonzalez para o Outras Palavras
IN Revista Forum. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Onde está a direita no Brasil?


o que a diferença entre os discursos de direita e de esquerda tem revelado é uma disputa sincera por juízos estéticos na política. Vamos desde a direita no armário à esquerda caviar. Expressões estas que são difundidas nas redes sociais e que tomo emprestado de analistas políticos da mídia para tratar de uma pobreza recente do debate político. Os juízos estéticos na política fazem com que tanto a esquerda como a direita fiquem submersas num campo em que a avaliação movida pelo que é belo ou feio conta mais do que a avaliação movida pelos valores.

Fernando Filgueiras
Ao longo dos anos 1990, a ideia de que as ideologias políticas de direita e de esquerda estariam em crise foi motivo de um forte consenso e o caminho traçado pela globalização seria o de uma terceira via. Àquela altura, soava como esquizofrenia ou anacronismo defender qualquer posição ideológica no plano político. A globalização, então, aplainou o conflito ideológico entre direita e esquerda, atribuindo à terceira via a solução para os problemas sociais e econômicos dos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
No caso do Brasil, especificamente, a sensação que a geração formada nos anos 1990 carrega nos ombros é a de que as ideologias não fazem muito sentido, porque direita e esquerda dissolveram-se em um discurso político cantado em uníssono. De fato, promover enquadramentos ideológicos é uma das tarefas mais difíceis da análise política. A chance de erro em função das idiossincrasias do analista é gigantesca. Porém, ela faz sentido se concebida não como um juízo estético, mas como um juízo de valor. O que a confrontação entre direita e esquerda revela é uma diferença de valores fundamentais, os quais organizam a forma como indivíduos ou grupos políticos interpretam e constroem a realidade. Os juízos de valor importam porque eles permitem formatar de maneiras diversas problemas políticos e soluções. E estes juízos são constituídos publicamente, tendo em vista os instrumentos de comunicação social.
Entretanto, o que a diferença entre os discursos de direita e de esquerda tem revelado é uma disputa sincera por juízos estéticos na política. 

(...)

Para continuar a leitura, acesse – http://www.valor.com.br/politica/3451552/onde-esta-direita-no-brasil








Fernando Filgueiras – Professor de Ciência Política da UFMG, coordenador do Centro de Referência do Interesse Público – 06.03.2014
IN Valor Econômico, ed. impressa. 


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Hoje na História: 1821 - Ata de Independência da América Central é assinada


Ao contrario dos demais países da região, com exceção do Panamá, foi um processo relativamente pacífico.

Max Altman 
A Ata de Independência da América Central do domínio espanhol foi assinada em 15 de setembro de 1821 por parte dos atuais países – Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica. Tal capitania estava então conformada pela Província de Guatemala, Chiapas, Comayagua, San Salvador e a província de Nicarágua e Costa Rica.
Ao contrario dos demais países da região, com exceção do Panamá, foi um processo relativamente pacífico. O movimento independentista centro-americano tomou como exemplo a independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa, além de ter sido influenciado pelas ideias do reformismo ilustrado espanhol e do Iluminismo racionalista europeu.
A independência centro-americana tomou impulso em seguida à ocupação da Espanha pelas tropas de Napoleão em 1808. O primeiro movimento independentista na América Central se deu em 5 de novembro de 1811, quando uma conspiração encabeçada pelos padres José Delgado e Nicolás Aguilar tentou apoderar-se de armas depositadas numa casamata de San Salvador e de 200 mil pesos depositados nas arcas reais, que consideraram suficiente para o grito de liberdade.
Os fuzis seriam colocados em mãos desta cidade, em seguida desconheceriam a autoridade do intendente da província, fundariam uma Junta Popular de governo e procurariam levar o movimento a todas as províncias. A ele, seguiram-se as revoltas na Nicarágua, a Conjuração de Belén, e outros de 1814 a 1821.
Foi enorme a repercussão da independência dos Estados Unidos e da Carta de Filadélfia de 1776. Nela se estipulava que os governos tinham a obrigação de garantir a liberdade, a vida e a felicidade dos habitantes; se não cumprissem essa obrigação, as pessoas podiam substituí-los. Essas ideias ressoaram na mente dos criollos – pessoas nascidas no continente latino-americano, porém filhos de europeus.
Os ideais do reformismo ilustrado espanhol e do iluminismo racionalista europeu também repercutiram na América Central. No final do século 18 obras de autores como Montesquieu, Rousseau e dos enciclopedistas chegavam à biblioteca de ilustres criollos e espanhóis.
(...)

Max Altman – 15.09.2013
In  Opera Mundi. 

sábado, 13 de setembro de 2014

Vulnerabilidade das famílias brasileiras cai 19% em 10 anos


Pesquisa do Ipea comparou os censos demográficos de 2000 e 2010.

IPEA
O índice de vulnerabilidade das famílias, obtido a partir dos censos demográficos de 2000 e 2010, revela que houve redução média de 19,3% da vulnerabilidade das famílias brasileiras nesse período. Em 2000 a vulnerabilidade era de 0,305, e no censo de 2010 o resultado foi de 0,246.
Dos seis componentes do índice geral, o “acesso ao trabalho” e aos “recursos financeiros” foram os maiores responsáveis pela redução média nacional: 29,4 e 36,2%, respectivamente. O “desenvolvimento infanto-juvenil” apresentou redução no índice da ordem de 16%. As dimensões com desempenho relativamente pior foram “condições habitacionais” (-13%), “acesso ao conhecimento” (-11,9%), e “vulnerabilidade social” (-9,2%).

Os dados fazem parte do Texto para Discussão nº 1835 - Índice de Vulnerabilidade das Famílias (2000-2010), produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).







Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) – 22.05.2013
IN IPEA.  

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sobre segurança e terror


 Podemos dizer que a política trabalha secretamente no sentido da produção de emergências.

Giorgio Agamben
A segurança como princípio condutor da política de estado remonta ao nascimento do estado moderno. Ela é já mencionada por Hobbes como o oposto do medo, o qual compele os seres humanos a se reunirem ao interior de uma sociedade. Mas só no século dezoito a idéia de segurança adquire um sentido próprio. Numa conferência de 1978 no Collège de France (ainda a ser publicada), Michel Foucault mostrou como a prática política e econômica dos fisiocratas opõe segurança à disciplina e à lei, como instrumentos de governo.
Turgot e Quesnay, assim como os funcionários fisiocratas do governo, não estavam preocupados principalmente com a prevenção da fome ou a regulamentação da produção, mas queriam permitir o seu desenvolvimento para, em seguida, regulamentarem e “assegurarem” suas conseqüências. Enquanto o poder disciplinar isola territórios, impedindo-lhes a passagem, as medidas de segurança levam a uma abertura e à globalização; enquanto a lei quer prevenir e regular, a segurança intervém através de processos contínuos, com o fim de dirigi-los. Em poucas palavras, a disciplina quer produzir ordem, a segurança quer regular a desordem. Como as medidas de segurança podem funcionar somente dentro de um contexto de liberdade de tráfego, comércio e iniciativa individual, Foucault mostra que o desenvolvimento da segurança acompanha as idéias do liberalismo.
Hoje nos deparamos com desenvolvimentos extremos e muito perigosos quanto à idéia de segurança. Durante uma época de gradual neutralização da política e abandono progressivo das tradicionais funções do estado, a segurança se torna o princípio básico da atividade de estado. O que antes era apenas uma entre várias medidas definitivas de administração pública, até a primeira metade do século vinte, agora se torna o único critério de legitimização política. A idéia de segurança traz consigo um risco essencial. Um estado que faz da segurança sua única tarefa e fonte de legitimidade é um organismo frágil; ele é sempre passível de ser provocado pelo terrorismo, até se tornar ele mesmo terrorista.
(...)

Para continuar a leitura, acesse –   http://imediata.org/?p=70








Giorgio Agamben – filósofo italiano – 20.11.2001
Breve artigo escrito como resposta aos ataques do 11 de setembro, pelo filósofo Giorgio Agamben, publicado pelo Frankfurter Allgemeine Zeitung em 20 de setembro de 2001.
Tradução: Agência Imediata
IN  “Imediata.org”.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A possível extinção do Estado de Israel


Argumentava-se então que havia de se encontrar um espaço para o povo judeu, que ninguém queria receber depois do genocídio alemão. Muito antes dessa catástrofe, os sionistas judeus tinham já pensado em vários locais para[2] o seu futuro Estado. No final do século XIX, a região do Uganda, no que é hoje o Quénia, então colónia inglesa, foi ponderada como um possível local para o futuro Estado de Israel. Um espaço na Argentina chegou também a ser considerado. Mais tarde, auscultado sobre um local no norte de África (no que é hoje a Líbia), o rei da Itália, Victor Emmanuel, terá recusado, respondendo: “Ma è ancora casa di altri”. Mas nenhum europeu, por mais preocupado com a situação dos judeus, jamais pensou num lugar dentro da própria Europa. Havia que inventar-se “uma terra sem povo para um povo sem terra”. Mesmo que fosse necessário obliterar um povo. E assim se vem paulatinamente eliminando um povo da face da terra desde há sessenta e seis anos. A Cisjordânia palestiniana vem sendo desmantelada pelos colonatos ilegais e a Faixa de Gaza transformada em prisão a céu aberto.

Boaventura de Sousa Santos
Podem simples cidadãos de todo o mundo organizar-se para propor em todas as instâncias de jurisdição universal possíveis uma ação popular contra o Estado de Israel no sentido de ser declarada a sua extinção, enquanto Estado judaico, não apenas por ao longo da sua existência ter cometido reiteradamente crimes contra a humanidade, mas sobretudo por a sua própria constituição, enquanto Estado judaico, constituir um crime contra a humanidade? Podem. E como este tipo de crime não prescreve, estão a tempo de o fazer. Eis os argumentos e as soluções para restituir aos judeus e palestinianos e ao mundo em geral a dignidade que lhes foi roubada por um dos atos mais violentos do colonialismo europeu no século XX, secundado pelo imperialismo norte-americano e pela má consciência europeia desde o fim da segunda guerra mundial.
O termo sionismo designa o movimento que apoia o “regresso” dos judeus à sua suposta pátria de que também supostamente foram expulsos no século V AC. Há, no entanto, que distinguir entre sionismo judaico e sionismo cristão. O sionismo judaico tem origem no antissemitismo que desgraçadamente sempre perseguiu os judeus na Europa e que viria a culminar no holocausto nazi. O sonho de Theodor Herzl, judeu austríaco e grande poponente do sionismo, era a criação, não de um Estado judaico, mas de uma pátria segura para os judeus. O sionismo cristão, por sua vez, é antissemita, e a ideia de um Estado judaico deveu-se a políticos britânicos, sionistas e anglicanos devotos, como Lord Shaftesbury, que, acima de tudo, [1]desejavam ver o seu país livre dos judeus-enquanto-judeus. Eram tolerados os judeus cristianizados (como Benjamin Disraeli, que chegou a ser Primeiro Ministro), mas só esses. Esta tolerância estava de acordo com a profecia cristã de que é destino dos judeus converterem-se ao cristianismo. O mesmo sentimento se encontra hoje entre os evangélicos norte-americanos, que apoiam Israel como Estado judaico, bem como a sua desapiedada expansão colonialista contra os palestinianos, por acreditarem que a redenção total ocorrerá no fim dos tempos, com a conversão dos judeus na Parusia (o regresso de Jesus Cristo).
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://outraspalavras.net/capa/a-possivel-extincao-do-estado-de-israel/







Boaventura de Sousa Santos Doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, diretor dos Centro de Estudos Sociais e do Centro de Documentação 25 de Abril, e Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa - todos da Universidade de Coimbra–  22.08.2014
IN  Outras Palavras.