terça-feira, 2 de setembro de 2014

Uma política de educação para fazer outro país


Em oito anos do governo FHC, sucatearam-se as universidades federais e institutos de pesquisa, a Petrobras e outras instituições que geram conhecimento e inovação. As federais foram condenadas a pão e água – em alguns casos, não tinham dinheiro nem para pagar a água

Reginaldo Moraes
Tempos atrás, quando os tucanos ditavam as regras, um ex-ministro da educação disse: “a ênfase no ensino universitário foi uma característica de um modelo de desenvolvimento autossustentado, desplugado da economia internacional e hoje em estado de agonia terminal” (revista Exame, 17 de julho de 1996).
O sistema de educação superior e de pesquisa era considerado supérfluo, desnecessário, oneroso, como fica claro nessa afirmação: “Para mantê-lo, era necessário criar uma pesquisa e tecnologia próprias (…). Com a abertura e a globalização, a coisa muda de figura. O acesso ao conhecimento fica facilitado, as associações e joint-ventures se encarregam de prover as empresas de países como o Brasil do know-how que necessitam (…). Alguns países, como a Coreia, chegaram mesmo a ‘terceirizar’ a universidade. Seus melhores quadros vão estudar em escolas dos Estados Unidos e da Europa. Faz mais sentido do ponto de vista econômico”.
Evitemos personalizar essa visão – ela era a visão do governo tucano, não apenas de um ministro. E era a expressão acabada de um pensamento de colonizado – ou de gerente colônia. Para essas cabeças, o melhor que o País poderia ter era um contrato de fornecimento com o país-chefe. Uma Alca (Área de Livre Comércio das Américas) ou coisa parecida. E treinar serviçais para essa função.
(...)





Reginaldo Moraes professor da Unicamp, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-Ineu) e colaborador da Fundação Perseu Abramo. – 23.07.2014
IN Brasil Debate.