MARCOS COSTA LIMA – “o país passou a cristalizar um movimento regional
na América do Sul que se consolida dia a dia. Abrimos um novo espaço
internacional com a China, deslocando lenta e gradualmente a liderança dos
Estados Unidos. Essas novas realidades estão a exigir novas respostas. Temos
imensas possibilidades de construir um país mais equânime, menos desigual e com
superação da pobreza. Mas há forças do status quo que trabalham em outra
direção. Precisamos urgentemente qualificar o nosso desenvolvimento, tanto do ponto de vista da natureza,
quanto do ponto de vista humano, que deve vir associado à inclusão das massas,
que historicamente foram excluídas”.
Cyro Andrade
A noite avançava, e eles continuavam trabalhando, numa sala do primeiro
andar do Catete. Você são uns boêmios cívicos, disse numa certa
madrugada o presidente Getúlio Vargas, então no segundo governo, ao descer as
escadas do palácio e encontrar sua assessoria
econômica em mais uma reunião prolongada. É como Marcos Costa Lima inicia a
apresentação do livro que organizou, ”Os Boêmios Cívicos”. A
Assessoria Econômico-Política de Vargas (1951-54) resultado de um projeto
acadêmico com o título de “Razão pragmática e
utopia do desenvolvimento: estrategistas da industrialização brasileira”. Os “boêmios
cívicos”: contribuições de Rômulo Almeida, Cleantho de Paiva Leite, Jesus
Soares Pereira e Ignácio Rangel.
Com pesquisa realizada por um grupo de alunos de mestrado então sob
orientação de Costa Lima no departamento de ciência política da Universidade
Federal de Pernambuco, chegou-se a uma monografia, consubstanciada no livro.
Inaugura-se, assim, com apoio do Centro Internacional Celso Furtado, uma futura
série de trabalhos do gênero sobre intelectuais que deram contribuição
importante para a construção do Estado brasileiro moderno, com projetos,
discursos e iniciativas governamentais, mas que, por razões diversas, não
chegou a ser sistematizada. No caso dos “boêmios”, a exceção é Ignácio Rangel, que deixou uma obra
acadêmica.
O recorte aplicado à escolha dos integrantes da assessoria de Vargas,
para a monografia, exclui “outras figuras de relevo”, como o
engenheiro Thomaz Pompeu Accioly Borges e o sociólogo Helio Jaguaribe “todos,
servidores públicos que tiveram papel decisivo no segundo governo Vargas, mas
que ficarão para outra oportunidade”, diz Costa Lima. A propósito, afirmou
Rômulo Almeida em depoimento ao Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil, da Fundação Getulio Vargas,
citado no livro:A nossa assessoria, que muita gente pensa que era
somente de esquerda, tinha gente de direita também, tinha o Glycon de Paiva.
Os “boêmios cívicos”, explica Costa Lima, estão
alinhados com a figura de “ideólogos do Terceiro
Mundo”(na expressão do linguista e sociólogo mexicano Pablo Gonzáles
Cassanova), por suas posturas pró-industrialização e pró-independência
nacional com incorporação das populações urbanas ao processo político. No
contexto brasileiro, todos fizeram
oposição ao Vargas do Estado Novo.
Também compõem o livro artigos, entre outros, dos economistas Pedro
Cezar Dutra (Nem ortodoxia nem populismo: o segundo governo
Vargas e a economia brasileira e O mito do populismo econômico de Vargas) e Fernando Cardoso Pedrão (Ignácio Rangel e a
segunda Revolução Industrial no Brasil).
(...)
Para continuar a leitura, acesse – http://www.valor.com.br/cultura/3342558/noite-adentro-pensando-um-pais-que-pudesse-ser-chamado-moderno#ixzz2lDdUV5if
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Cyro Andrade – 19.11.2013
"Os Boêmios Cívicos - A Assessoria
Econômico-Política de Vargas (1951-54)" Marcos Costa Lima (org.).
Editora: e-papers. 416 págs. Brochura, R$ 35,00; versão eletrônica, R$ 9,90
IN Valor Econômico, edição impressa.