AVRITZER - "Neste presidencialismo de
coalizão fragmentado, fazer alianças é bom e ruim. É bom porque é difícil
governar sem maioria no Congresso. Mas o preço dessa maioria é ruim para o
país. Sabemos quais são os partidos ligados às falhas nas obras de
infraestrutura para a Copa, por exemplo. Não é bom ter alianças tão amplas, mas
elas garantem tempo na TV e uma certa governabilidade. É infeliz a frase de
Aécio. O "sugar" não diz respeito ao governo, é sugar o país. O preço
das alianças amplas é a ineficiência da máquina pública. Se for eleito, é Aécio
quem vai ter que lidar com esse problema. Uma das grandes dificuldades do país
é um centro apolítico fisiológico representado por alguns partidos".
Diego Viana
No contexto de uma eleição marcada pela
insatisfação popular com a representação política, um dos fenômenos políticos
mais importantes é a ascensão do Partido Socialista Brasileiro (PSB) ao ponto
de se qualificar, em princípio, para disputar uma vaga no segundo turno e
alterar a correlação de forças políticas no Brasil. É a opinião do cientista
político Leonardo Avritzer, professor da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e presidente da Associação Brasileira de Ciência Política.
Para Avritzer, a presença da aliança entre Eduardo
Campos (PSB) e Marina Silva no pleito soma-se a outros fatores significativos
para os resultados da eleição de outubro, como o desgaste dos 12 anos de governo
petista, que começa a desfazer a ampla aliança da eleição de 2010, e o desafio
que o candidato tucano, o senador mineiro Aécio Neves, enfrenta para
nacionalizar uma liderança ainda estadual.
Ao fim de um período em que um possível fracasso da
organização da Copa do Mundo, incluídas as obras de infraestrutura, era um
assunto de temores públicos e debates políticos, a conclusão do torneio abre as
portas para o período eleitoral. Embora a questão da Copa tenha sido politizada
tanto pelo governo quanto pela oposição, Avritzer entende que ambos erraram, ao
não perceber que o tema dizia respeito a um compromisso não do governo, mas do
país.
(...)
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Diego Viana – 04.07.2014
Leonardo Avritzer – Cientista Político professor titular da UFMG
In Valor
Econômico, edição impressa.
Sugadores para todos
Trata-se de um aspecto
estrutural do sistema político brasileiro. O presidencialismo de coalizão visa
à formação de maiorias e não se constroem maiorias sem o recurso aos partidos
de adesão. E os incentivos para a aproximação também estão presentes no
processo eleitoral - num jogo que não pode ser desvinculado da dinâmica
governativa. Governos oferecem prebendas, presentes e futuras, para manter ou
atrair aliados de campanha. Mas há também o valioso tempo de propaganda
eleitoral gratuita no rádio e na TV. Quem não o aufere, sabe que o aliado o
arrebanhará, num jogo de soma zero - o que um perde é exatamente o que o outro
ganha.
Cláudio Gonçalves
Couto
Nos idos de março, o presidente do PMDB gaúcho,
Edson Brum, proferiu a seguinte pérola da sinceridade política, crivada de
ironia: "A única certeza que tenho é que o PMDB estará com o próximo
presidente, ganhe Dilma, Aécio ou Campos. Por que me preocupar com isso
agora?". Foi complementado nesta semana pelo presidenciável tucano, Aécio
Neves, numa referência à adesão de PSD e PR à postulação da presidenta Dilma
Rousseff, ao mesmo tempo que o PTB se mandava para as bandas de sua
candidatura: "Muito mais gente já desembarcou e o governo ainda não
percebeu. Vão sugar um pouco mais. E eu digo para eles: façam isso mesmo,
suguem mais um pouquinho e depois venham para o nosso lado".
Ambas as declarações explicitam o modus operandi de
nosso sistema partidário, tanto no âmbito eleitoral quanto na dimensão
governativa. O PMDB é o exemplar maior de um tipo de agremiação - o partido de
adesão - que aderirá a qualquer governo ou candidatura, sem maiores
preocupações programáticas, desde que bem recompensado. São lábeis os limites
para essa adesão pragmática tão flexível: de forma pontual, quando estiverem em
jogo interesses específicos de setores sociais vinculados a determinados
membros do partido (como seus financiadores de campanha e bases eleitorais), ou
quando as mutantes circunstâncias da conjuntura política tornarem oportuno um
rompimento justificado por questões de fundo puramente retóricas.
Afora tais circunstâncias, enquanto bem
recompensados com cargos, verbas e apoios eleitorais localizados, os partidos
de adesão se manterão jungidos a quem lhes favoreça. Porém, da mesma forma,
saltarão do barco tão logo o custo do apoio se eleve ou haja recompensa maior
por perto. Como não se prendem a nenhuma plataforma de envergadura, não lhes
custa nada migrar de um governo para outro, mesmo que sejam liderados por
agremiações - essas sim - dotadas de alguma consistência programática e de
objetivos mais claros para as políticas públicas. Tais agremiações, por sua
vez, não têm como simplesmente prescindir do apoio dos partidos de adesão, na
ilusão de assim implementar suas agendas sem a necessidade de concessões e
menores riscos de corrupção.
(...)
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Cláudio Gonçalves
Couto – Cientista Político professor da FGV –
27.06.2014
IN Valor Econômico, edição impressa.