domingo, 23 de agosto de 2015

Escolhas certas



A guerra às drogas está sendo abandonada. Em quatro Estados e em Washington, a maconha foi legalizada. Em vários outros, sua posse foi descriminalizada. (...)
Acontece que reduzir substancialmente a população carcerária não é tarefa simples. Restringir a entrada no sistema de indivíduos condenados por crimes relativamente leves, sem uso de violência e sem caráter sexual – que corresponde a muito do que tem sido feito até agora  (...)
Outro problema é que as pessoas que administram o sistema têm incentivos significativos para manter as coisas como estão.


The Economist
O sistema prisional dos Estados Unidos parou de crescer. Agora, é hora de tomar medidas concretas para fazê-lo encolher
David Peace, um sujeito de 35 anos nascido em Dallas, nunca usou a internet. Também nunca fez uso de um telefone celular, nunca tirou carta de habilitação e nunca teve um emprego. Negro, com um físico robusto e um sorriso largo, foi condenado em 1997 por lesão corporal qualificada, depois de usar uma faca numa briga com um vizinho. Os anos que a maioria dos homens de sua idade dedicariam ao trabalho ou à constituição de uma família, Peace passou em diversas penitenciárias do Texas. Em 2016 ele poderá deixar o estabelecimento penal de segurança mínima de Cleveland, cidade próxima a Houston, onde está preso atualmente. A perspectiva de enfrentar o mundo do outro lado das grades ainda o intimida. “Tenho a sensação de ter sido deixado para trás”, diz ele. “Vivi esses anos todos num lugar onde as escolhas eram feitas por mim e agora preciso aprender a fazer as escolhas certas.”
Nenhum outro país mantém tanta gente presa quanto os EUA – ou adota penas de reclusão tão longas. Considerando-se o conjunto de penitenciárias federais e estaduais, cadeias locais e centros de detenção de imigrantes, há cerca de 2,3 milhões de pessoas encarceradas no país. O sistema pune com especial rigor os negros e hispânicos, cujas taxas de detenção são, respectivamente, seis e duas vezes mais altas que a dos brancos. Um terço dos jovens negros do sexo masculino estão fadados a ver o sol nascer quadrado em algum momento da vida. E o que não falta nas penitenciárias americanas são drogas, abusos e violência. Apesar disso, o custo para o contribuinte é de cerca de US$ 34 mil por detento ao ano. O total da conta chega a aproximadamente US$ 80 bilhões.
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The Economist – 21.06.2015
IN The Economist – traduzido para O Estado de São Paulo.