quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Praia democrática é mito, diz antropóloga


Autora de livro sobre a ocupação da orla, Julia O’Donnel reflete sobre arrastão, tribos e outras idiossincrasias das areias cariocas.


Mariana Filgueiras
Assim que se mudou para o Rio, em 2004, e começou a frequentar as praias cariocas, a antropóloga paulistana Julia O’Donnel se surpreendeu com uma pergunta que ouvia com frequência:
— Em que posto da praia você vai?
Para ela, a escolha dependia tão somente do fato de haver espaço livre ou das condições do mar em determinado trecho de areia. Começou a se interessar pelo tema, conversar com as pessoas, e tentar entender por que a praia, apesar de ser um trecho restrito, é tão dividida entre si. Levou a curiosidade para o doutorado que faria na UFRJ e a tese virou o livro “A invenção de Copacabana: culturas urbanas e estilos de vida no Rio de Janeiro”, lançado em abril pela editora Zahar. O trabalho analisa o projeto de civilidade que se construiu na orla a partir de sua ocupação pelos cariocas, entre os anos de 1890 e 1940 — e a maneira pela qual a elite, a primeira a tomar as praias para si, na virada do século XX, adotou um discurso de exclusividade em relação ao espaço. Nas últimas semanas, ao ler notícias e comentários nas redes sociais sobre a nova onda de assaltos que ocorreu em dias de praias lotadas, provocando uma reação da polícia — que anunciou delegacias móveis nas areias, reforço de policiamento e até a polêmica medida de revistar ônibus vindos da Zona Norte durante o verão —, Julia notou um eco do mesmo discurso de “faxina social” que encontrara no início do século para sua pesquisa. Um discurso que põe em xeque o mito da praia como um espaço totalmente democrático, como defende ela. Moradora de São Conrado, mas frequentadora do Leme por causa da língua negra que há décadas afeta a qualidade da praia, a pesquisadora e professora de Antropologia Social da Fundação Getúlio Vargas conversou com a Revista O GLOBO sobre a praia que encontrou como um objeto de estudo.
(...)




Mariana Filgueiras – 01.12.2013
Júlia O’Donnel – Antropóloga.
IN O Globo.