terça-feira, 20 de dezembro de 2016

As ocupações se espalham...


A nacionalização da tática das ocupações colocou um desafio aos dispositivos de repressão e aos governos de diferentes estados, que reagem de acordo com certos padrões que parecem se repetir. Em São Paulo, o aprendizado da derrota de 2015 representou para o governo uma sofisticação e um endurecimento do autoritarismo: ao mesmo tempo que faz a ‘reorganização’ de maneira menos visível, ele investe na organização de grêmios aparelhados como instrumento de verniz democrático. Quanto à repressão, aposta-se na individualização da perseguição/criminalização dos secundaristas (...) e, sobretudo, na realização das reintegrações de posse pela polícia militar sem necessidade de mandado judicial.

Antônia M. Campos, Jonas Medeiros e Márcio M. Ribeiro
No dia 23 de setembro de 2016, o governo federal oficializou, por meio de medida provisória (MP), a nova política de fomento às escolas de ensino médio em tempo integral. Exatamente um ano antes era anunciada a “reorganização” da rede de ensino do estado de São Paulo. Como a MP, a reorganização foi apresentada de maneira autoritária: estudantes e professores receberam a notícia pela imprensa. Em ambos os caos, a reação não tardou:  no ano passado foram cerca de duzentas ocupações de escolas pelos estudantes paulistas: este ano, vemos novo movimento de ocupações de escolas públicas, universidades e institutos federais, contrário tanto à reforma do ensino médio, como à PEC n. 241, outra medida de ataque à educação pública, mas que não se restringe a esse campo.
Embora o anúncio do governador paulista, Geraldo Alckmin, de adiar por um ano a reorganização tenha sido uma vitória inegável do movimento secundarista, isso demonstrou que a administração continua defendendo que “uma série de boatos” teria “confundido a população”. Além disso, o governo segue realizando a “reorganização” disfarçada e silenciosamente, fechando salas em vez de ciclos e escolas inteiras.
(...)







Antônia M. Campos – Mestre em Sociologia na Unicamp; Jonas Medeiros – Doutorando em Educação na Unicamp; Márcio M. Ribeiro – Professor da EACH-USP – Novembro 2016.
IN Le Monde Diplomatique Brasil.