O projeto em questão não só está distante dos
verdadeiros problemas da educação do país e da experiência internacional bem
sucedida. Ele também atrapalha a busca de soluções. Como os estudos em todo o
mundo têm mostrado, o professor é figura-chave do processo educativo. A “Escola
sem partido” propõe um tal clima de perseguição – como seus cartazes
ameaçadores -, numa espécie de “macarthismo pedagógico”, que seria muito
difícil recrutar docentes de qualidade, capazes de exercer seu ofício com
criatividade e paixão, elementos essenciais nessa profissão.
Fernando
Abrúcio
Nesse momento de grande crise, o país enfrenta vários desafios. Melhorar
a gestão pública, reformular o sistema político, aperfeiçoar e ampliar o
combate à desigualdade, tornar a Previdência Social mais justa e sustentável ao
longo do tempo, enfim, são tantas as questões, complexas e de difícil
resolução, que nem sabemos se teremos condições políticas de realiza-las com a urgência
que merecem ser tratadas. Numa hora como essa, não deveria se gastar muito tempo
com a discussão de temas irrelevantes e anacrônicos. Mas não é que surge na
agenda legislativa um projeto propondo a chamada “Escola sem partido” como um
item importante para melhorar o Brasil? Ao procurar entende-lo, constatei que
melhor seria chama-los de “Escola sem sentido”, dado que sua concepção não se
baseia em evidências e estudos, nem na experiência internacional, atrapalha a
construção de uma reforma educacional condizente com nossos males e, pior, pode
asfixiar a escola, acabando por matar o seu sentido.
Um diagnóstico honesto sobre a educação brasileira deveria dizer, em
primeiro lugar, que houve uma série de melhorias nos últimos 20 anos, como a
universalização do ensino fundamental, a ampliação do número de alunos nas
universidades e a criação de amplos sistemas de avaliação, mas que o modelo de
ensino ainda tem vários problemas. Nenhum deles, no entanto, se deve prioritariamente
ao que argumenta a Escola sem Partido. Isto é, o nível de ideologização dos
professores, algo a ser comprovado cientificamente, não se constitui uma das
principais causas das fragilidades e carências da política educacional do país.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.valor.com.br/cultura/4659425/contra-escola-sem-sentido
Fernando Abrúcio – Cientista Político – 05.08.2016.
IN Valor Econômico, Cad. Eu e fim de semana.