sábado, 10 de dezembro de 2016

Contra o “Escola sem Sentido”

O projeto em questão não só está distante dos verdadeiros problemas da educação do país e da experiência internacional bem sucedida. Ele também atrapalha a busca de soluções. Como os estudos em todo o mundo têm mostrado, o professor é figura-chave do processo educativo. A “Escola sem partido” propõe um tal clima de perseguição – como seus cartazes ameaçadores -, numa espécie de “macarthismo pedagógico”, que seria muito difícil recrutar docentes de qualidade, capazes de exercer seu ofício com criatividade e paixão, elementos essenciais nessa profissão.

 

Fernando Abrúcio

Nesse momento de grande crise, o país enfrenta vários desafios. Melhorar a gestão pública, reformular o sistema político, aperfeiçoar e ampliar o combate à desigualdade, tornar a Previdência Social mais justa e sustentável ao longo do tempo, enfim, são tantas as questões, complexas e de difícil resolução, que nem sabemos se teremos condições políticas de realiza-las com a urgência que merecem ser tratadas. Numa hora como essa, não deveria se gastar muito tempo com a discussão de temas irrelevantes e anacrônicos. Mas não é que surge na agenda legislativa um projeto propondo a chamada “Escola sem partido” como um item importante para melhorar o Brasil? Ao procurar entende-lo, constatei que melhor seria chama-los de “Escola sem sentido”, dado que sua concepção não se baseia em evidências e estudos, nem na experiência internacional, atrapalha a construção de uma reforma educacional condizente com nossos males e, pior, pode asfixiar a escola, acabando por matar o seu sentido.
Um diagnóstico honesto sobre a educação brasileira deveria dizer, em primeiro lugar, que houve uma série de melhorias nos últimos 20 anos, como a universalização do ensino fundamental, a ampliação do número de alunos nas universidades e a criação de amplos sistemas de avaliação, mas que o modelo de ensino ainda tem vários problemas. Nenhum deles, no entanto, se deve prioritariamente ao que argumenta a Escola sem Partido. Isto é, o nível de ideologização dos professores, algo a ser comprovado cientificamente, não se constitui uma das principais causas das fragilidades e carências da política educacional do país.
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Fernando Abrúcio – Cientista Político – 05.08.2016.
IN Valor Econômico, Cad. Eu e fim de semana.