A corrupção não é a maior questão do País. A miséria foi, no século
XX, o flagelo nacional, como no XIX foi a escravatura. (...) As iniciativas de
inclusão social em larga escala, que chegaram ao apogeu nos governos Lula e
Dilma, foram mais abrangentes porque retiraram multidões da miséria e
procuraram fazer isso de forma consolidada. Não se completaram, porque o
problema é enorme. Cinco séculos de exclusão não se resolvem da noite para o
dia. E essa é a questão.
Mas o tema que emplacou foi a corrupção. E nenhum petista deveria
reclamar. Afinal, o partido passou pelo menos 20 anos, da fundação à
Presidência, acusando de corruptos os governos que tivemos. Ligava dois temas
éticos, o combate à corrupção e à miséria. No poder, fez muito por ambos. Deu
autonomia à polícia, à procuradoria, aos sistemas de controle. Criou programas
premiados de inclusão social. Mas parou de falar em ética. Em vez de pregar,
fez. Mérito seu, das palavras para os atos, mas palavras são necessárias para
criar nova consciência. Calando-as, deixou o espaço da ética livre para a
pregação da direita, que jamais colocou como flagelo do País a miséria: pôs, em
seu lugar, a corrupção – acrescentando que nunca antes, na história do Brasil,
tinha sido tão grande. Mentira? Sim, mas pegou.
Renato Janine Ribeiro
O melhor que pode
acontecer para o Brasil e para a esquerda, hoje, é aprofundar o combate à
corrupção. Foi a manipulação desse tema que derrubou o governo constitucional
do PT: investigações concentradas em seus governos, uma campanha implacável da
mídia, a atuação dos operadores do Direito. Daí a aversão de muitos petistas às
campanhas contra a corrupção. Tudo indica que o primeiro ato acabou, mas a peça
continua. Dirigentes do partido que herdou o governo, o PMDB, são o novo alvo
das investigações, dos protestos. O divisor de águas será o momento em que
também o partido promotor do impeachment, o PSDB, entrar na linha de fogo. Aí
poderemos separar o joio do trigo. Em todos os partidos, é mais que provável
que tenha havido ou haja corruptos – assim como gente honesta.
A corrupção não é a
maior questão do País. A miséria foi, no século XX, o flagelo nacional, como no
XIX foi a escravatura. A abolição em 1888 foi solução superficial. Os escravos
não ganharam terras ou indenização. Quando se discutia indenização, se pensava
nos senhores, porque perderam propriedade, não nos cativos, que tinham sido
privados de seu direito à liberdade.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://brasileiros.com.br/2016/12/combater-corrupcao-ate-o-fim/
Renato Janine Ribeiro – Professor de Filosofia, ex-Ministro da Educação – 16.12.2016.
IN Brasileiros.