O
rinoceronte brasileiro é guardião das mais cínicas falácias políticas em que
nos enredamos.
(...)
Rinocerontes
não estão apenas nas redes sociais destilando racismo e homofobia, nas estações
de metrô espancando homossexuais e quem os defende, praticando chacina contra
família de ex-mulher e filho, nas TVs insuflando pânico moral.
Povoam
ministérios, parlamentos, tribunais, movimentos sociais; estão dentro de casa.
Não são loucos ou psicopatas.
Conrado Hübner Mendes
1. Não tolerarás a
diferença nem respeitarás o desacordo.
2. Não perguntarás nem
fraquejarás diante da pergunta. As respostas são evidentes, as soluções são
únicas.
3. Expressarás
desprezo pela política e por políticos, mas farás política com máscara de
apolítica.
4. Opinarás com fé e
convicção. Deixar-se convencer pela opinião contrária é derrota.
5. Não escutarás
cientistas, especialistas, jornalistas. Ignorarás contra-argumentos, fatos,
pesquisas. Não buscarás saber quem, como, onde e por quê.
6. Contra direitos,
falarás em nome de uma entidade mística, abstrata, aritmética, imaginária:
Deus, povo, maioria, "homem de bem". Contra direitos, invocarás uma
missão civilizatória: fazer justiça, combater o crime e a corrupção,
desenvolver a economia.
7. Desfilarás
superioridade moral e intelectual, em nome da qual justificarás toda sorte de
microagressões, linchamentos físicos e reputacionais.
8. Mostrarás o que é
certo e como se faz, nem que seja no grito, no braço ou à bala.
9. Abraçarás slogans
esvaziados de significado, fáceis de assimilar: politicamente correto,
comunismo, feminismo. Atiçarás emoções primárias do seu público por meio dessas
sínteses caricatas do mal.
10. Exigirás que sua
particular forma de viver e se relacionar seja oficial. Dirás que essa forma é
natural e as outras, desviantes.
No bestiário do
primitivismo político brasileiro, entre mulas, raposas e serpentes, o
rinoceronte tornou-se hegemônico. Acima, os seus dez mandamentos.
(...)
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Conrado Hübner Mendes – Professor de direito
constitucional da Faculdade de Direito da USP – 12.01.2017.
In Folha de São Paulo.