Judith Butler – “A teoria queer sugere
uma série de reflexões importantes aos jovens. Eis algumas: Como você sabe de
que gênero você é? E como você se imagina no futuro? O gênero está ali desde o
começo ou se estabelece com o tempo? Existem mais que dois gêneros? O que é
gênero e como funciona? Pode deixar de funcionar? Por que algumas pessoas se
inquietam tanto sobre gênero, sobretudo quando outra pessoa não tem a aparência
que se esperaria? Por que crianças às vezes são intimidadas por causa de seu
gênero? E se seu corpo não aparenta o gênero que você sente ter? Como é
olhar-se no espelho e não ver seu eu do jeito que o sente? Qual a diferença
entre sexo e gênero? Por que existem tantas ideias diferentes de gênero de
acordo com o lugar de onde se vem?
E há algumas questões
relacionadas à sexualidade: Como sei se sou hétero ou gay? São as únicas duas
opções? Como aprendo o que quero? Como testo o que eu quero? Se eu me sinto
atraído por alguém do mesmo sexo, sou gay? Por que às vezes ficamos nervosos
com pessoas pelas quais somos atraídos? Por que às vezes é mais fácil ficar
sozinho lendo ficção científica? Como lésbicas fazem sexo? O que é coito anal?
Os bissexuais são só "indecisos"? Por que às vezes temos vergonha do
que desejamos, de nossas fantasias? Por que às vezes temos vergonha ou ficamos
inquietos quanto a desenvolver novas características sexuais ao crescermos? Por
que algumas pessoas odeiam gays e lésbicas? Por que às vezes é tão assustador
não se encaixar? O que as crianças podem fazer por um mundo em que ninguém
sofra por causa de seu gênero ou sexualidade?“
Úrsula Passos
No último dia 9 [09.09.2015], em São Paulo, um grupo de cerca de dez
pessoas protestava, em frente do Sesc Vila Mariana, contra a presença ali de
uma filósofa americana, com cartazes que diziam frases como "Fora
aberração de gênero" e "Cuidado! Querem impor a ideologia homossexual
nas escolas".
Em 1990, Judith Butler lançou o livro que seria um dos marcos do
feminismo recente e que influenciou os estudos de gênero e a teoria queer –nome
dado ao amplo campo para o qual o gênero, sexo e orientação sexual são
construções sociais, e não determinações biológicas–, que ganhavam espaço nas
universidades e centros de pesquisa desde os anos 1970 e que se fortaleceram na
década de 90.
"Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade" [trad.
Renato Aguiar, Civilização Brasileira, R$ 39, 238 págs.], que acaba de ser
relançado no Brasil, se insere nos estudos pós-estruturalistas e questiona a
busca de uma identidade para o sujeito do feminismo.
A partir da conhecida frase de Simone de Beauvoir em "O Segundo
Sexo" –"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher"–, dos estudos de
linguagem e da psicanálise, a hoje professora da Universidade da Califórnia em
Berkeley questiona o aspecto binário –masculino ou feminino– do gênero e a
ideia de que ele seja natural e biológico.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2015/09/1683172-sem-medo-de-fazer-genero-entrevista-com-a-filosofa-americana-judith-butler.shtml
Judith Butler – Filósofa.
Úrsula Passos – 20.09.2015.
IN Folha de S. Paulo, Ilustríssima.