Dois
meses de conversas no WhatsApp [da Cúpula] do MBL.
As
críticas ao PSDB deixam os inimigos tradicionais do MBL como coadjuvantes no
ringue. Não faltam, é claro, porretadas em Dilma, em Lula, no PT, no PSOL, em
Marina Silva e na Rede. Mas outros possíveis adversários aparecem com mais
destaque: Jair Bolsonaro (”tosco”, “ignorante”, “sem noção”, “inadmissível”) e
Luciano Huck – que, caso saia candidato, poderia “diluir o voto da direita”,
enfraquecendo Doria. “Ele é piada”, disse Renan Santos. Quinze minutos depois,
completou: “Huck é lixo. Politicamente correto, desarmamentista, ambientalista
de boutique, intervencionista.”
Bruno Abbud
Na última terça-feira de julho, uma mensagem apitou no celular de Kim
Kataguiri, principal líder do Movimento Brasil Livre. Conhecido nacionalmente
como a face pública do MBL, ele acabara de ser incluído em um grupo de WhatsApp
chamado “MBL – Mercado”. A cúpula do grupo – que ganhou notoriedade nas redes
sociais clamando pelo impeachment de Dilma Rousseff – também estava lá: os
irmãos Renan e Alexandre Santos, o vereador democrata de São Paulo Fernando
Holiday, o youtuber oficial do movimento e dono do canal “Mamãe Falei”, Arthur
do Val, e Pedro Augusto Ferreira Deiro, também conhecido como o funkeiro Pedro
D’Eyrot. O grupo, criado por um entusiasta do MBL, serviria como interface
entre o movimento e executivos de médio e alto escalão do mercado financeiro –
pelo menos 158 funcionários de instituições como Banco Safra, XP Investimentos
e Merrill Lynch. Objetivos iniciais: levantar dinheiro para financiar o MBL e
levar as pautas dos executivos às discussões públicas e aos encontros a portas
fechadas que os membros do MBL teriam com políticos e lideranças nacionais.
Contudo, muito mais seria dito.
A piauí teve acesso ao histórico de conversas do dia 25 de julho (13h49)
até a última quarta-feira, 27 de setembro (20h25). As trocas de mensagens
durante esses dois meses renderam 685 páginas de bate-papo que tratam de temas
como saúde, segurança pública e educação. Os debates acalorados aconteciam, no
entanto, quando o grupo falava de seu principal assunto no momento: o PSDB. Em
meio a uma guerra fria entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o
prefeito paulistano, João Doria – que disputam nas coxias o cargo de candidato
à Presidência da República no próximo ano –, o partido é tratado como um
território a ser pilhado pelo MBL. O movimento quer drenar parte das jovens
lideranças tucanas – as quais chamam de “cabeças pretas” –, deixando os decanos
do partido – os “cabeças brancas” – à deriva.
“A ideia é deixar todo esse povo podre afundando com o psdb e trazer a
galera mais Jovem e liberal pro mbl”, respondeu Kim Kataguiri em 22 de agosto a
um participante temeroso de que o grupo se juntasse ao tucanato. Outro líder do
movimento, Alexandre Santos, emendou: “Mas não estamos nos juntando ao PSDB.
Muito menos ao Aecio, Beto Richa e Alckmin.” Ao serem questionados se o MBL
teria “algum preconceito com pessoal mais velho”, referindo-se aos tucanos mais
antigos, Kataguiri teclou: “Com os do PSDB temos preconceito, conceito e
pós-conceito. São pilantras.” No dia seguinte, Renan reforçou, em um áudio
enviado ao grupo: “Não bastava a gente tirar o PT do poder, estamos destruindo
o PSDB ali, essa ala de esquerda tá desesperada, estamos pegando os melhores
nomes deles e, ou eles vão sair, ou eles acabam fortalecendo e tomam partido e
tiram essa esquerda aí. Mas a esquerda do PSDB tá desesperada, e não para de
vir novas lideranças do PSDB pro time. Doideira. Bom dia, aí.”
(...)
Para
continuar a leitura, acesse http://piaui.folha.uol.com.br/o-grupo-da-mao-invisivel/
Bruno Abbud – Jornalista – 03.10.2017.
IN Revista Piaui.