A Cepal e a Unicef divulgaram nesta sexta-feira um relatório que reflete a situação da pobreza
infantil na América Latina.
O indicador de maior peso
na medição da pobreza no Brasil tem a ver com o saneamento (34,7%), seguido
das dificuldades de acesso à água (8,6%) e à moradia (2,7%).
Sebatián
Premici
A pobreza na América Latina chega a 45% do total de menores que vivem na
região. Isto quer dizer que existem 80,9 milhões de menores que têm uma ou
várias necessidades básicas insatisfeitas. A informação consta de um relatório
elaborado conjuntamente pela Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e a Unicef, que foi apresentado ontem
[sexta-feira] no marco dos Diálogos de
Proteção Social. A pesquisa utilizou uma metodologia de medição que
aponta não apenas para os níveis de ingressos das populações mais vulneráveis,
mas contempla um conjunto de direitos estabelecidos pela Convenção Internacional da Criança,
como o acesso à moradia, à educação, à água potável e à alimentação. Dos 18
países da região, a Argentina ocupa o quarto lugar quanto à qualidade de vida
das crianças pobres, atrás da Costa Rica, do Chile e do Uruguai. Mais abaixo
aparecem Venezuela, Brasil, México, Peru e Colômbia, entre outros.
A Unicef estabeleceu em
2005 uma definição de pobreza: “As crianças pobres são aquelas que sofrem uma
privação dos recursos materiais, espirituais e emocionais necessários para
sobreviver, desenvolver-se e prosperar”. Esta aproximação pretende produzir uma
metodologia diferente para medir as situações de vulnerabilidade na região.
“A pobreza não é apenas uma questão de ingressos; há múltiplos fatores
que definem uma pessoa nestas circunstâncias. A ideia de criar uma nova
metodologia de medição aponta no sentido de identificar as diferentes áreas de
ação para que os Estados possam desenvolver políticas públicas”, explicou a
este jornal María Nieves Rico, especialista da Divisão de Desenvolvimento Social da Cepal.
A pesquisadora foi uma das especialistas que apresentaram o relatório no
auditório da Universidade San Andrés,
junto como Cippec e a Fundação Tzedaká.
O relatório intitulado Pobreza
infantil na América Latina e Caribe toma os dados dos institutos de
estatísticas de cada um dos países. No caso da Argentina, foram recolhidos da Pesquisa Permanente de Domicílios,
elaborada pela Indec. A pobreza infantil no país se situa em 28,7%. O melhor
situado é a Costa Rica (20,5%), seguido pelo Chile (23,2%) e pelo Uruguai
(23,9%).
Em contraposição, os países com maior pobreza infantil são El Salvador (86,8%), Guatemala (79,7%), Bolívia (77,2%) e Peru (73,4%), entre outros. O Brasil, uma das potências econômicas
da região, tem uma pobreza infantil de 38,8%.
A pesquisa da Cepal e da Unicef determinou que 53% dos 80,9
milhões de crianças pobres são prejudicadas por uma privação moderada ou severa
e apenas uma de cada cinco crianças nesta situação é privada em três ou mais
dimensões. “Isto sugere que é possível reduzir de maneira substancial a pobreza
infantil com ações que, embora não necessariamente sejam de baixo custo, podem
localizar-se em uma área específica de intervenção”, assinala a pesquisa.
Por exemplo, no caso da Argentina, o indicador de maior peso nos níveis
de pobreza é a de moradia (24,8%). Depois vem saneamento básico (3,7%),
educação (2,7%) e água potável (2,6%). Estes são dados de 2006, data de corte
utilizada para realizar o relatório. No entanto, tanto a Cepal como a Unicef asseguram que a pobreza seguiu baixando. Segundo indicou a
este jornal a pesquisadora Rico,
em 2009 a pobreza infantil na Argentina havia diminuído de 28,7% para 25,7%. O
resto dos indicadores também teve uma melhoria: saneamento (2,3%), água (1,6%)
e moradia (21,7%). O único indicador que sofreu um agravamento foi a educação
(3,2%). Estes dados não foram publicados no relatório.
“O que podemos notar no caso argentino é o peso que tem o acesso à
moradia e a aglomeração na definição da pobreza infantil. Por isso, queremos
elaborar um guia metodológico para que os governos possam adotá-lo e ter um
enfoque mais global para encarar esta problemática”, acrescentou a especialista
da Cepal.
No caso do Brasil, a
composição da pobreza infantil é diferente. Em 2007, estava em 38,8%, ao passo
que em 2009 foi de 38,7%. O indicador de maior peso na medição da pobreza tem a
ver com o saneamento (34,7%), seguido das dificuldades ao acesso à água (8,6%)
e à moradia (2,7%).
“A informação analisada permite identificar áreas de política pública
nas quais é preciso agir com decisão e de maneira urgente e integral”, explica
o relatório.
Sebatián
Premici – 12.11.2011
Tradução para o “Instituto Humanitas Unisinos” – Cepat.
IN “Pagina 12”– http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=49336