sexta-feira, 15 de março de 2013

Cinismo cruel


é quase certo que o pastor e deputado Marco Feliciano presidirá a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. (...)
Acontece que o deputado Marco Feliciano é um inimigo público e declarado de minorias estigmatizadas e tem um discurso público que estimula a violação da dignidade humana desses grupos.

Jean Wyllys
Graças ao jogo de interesses entre os partidos da base aliada, é quase certo que o pastor e deputado Marco Feliciano presidirá a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
Esse fato não é escandaloso -e eu não me oponho a ele- pelo simples fato de ele ser pastor. Se o deputado Marco Feliciano fosse um pastor identificado com a garantia dos direitos humanos e da dignidade das minorias estigmatizadas, não haveria problema algum e eu não faria qualquer oposição.
Acontece que o deputado Marco Feliciano é um inimigo público e declarado de minorias estigmatizadas e tem um discurso público que estimula a violação da dignidade humana desses grupos.
Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que disse que o problema da África negra é "espiritual" porque "os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé", revivendo uma interpretação distorcida e racista da Bíblia, que já foi usada no passado para justificar a escravidão dos negros?
Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que se referiu à Aids como "o câncer gay"? Um deputado que defende um projeto de lei para obrigar o Conselho Federal de Psicologia a aceitar supostas "terapias de reversão da homossexualidade" anticientíficas e baseadas em preconceitos.
Um deputado que quer criminalizar o povo de terreiro e enviar pais e mães de santo à cadeia por rituais religiosos que estão presentes nos mesmos capítulos da Bíblia que ele usa para injuriar os homossexuais? Ele lê a Bíblia com um olho só. Um deputado que apresentou um projeto para anular diversas (boas) decisões do Supremo Tribunal Federal, entre elas a sentença que reconhece as uniões homoafetivas como entidades familiares.
Na verdade, para ser justo, o acordo realizado para dar a presidência da CDHM ao PSC, com ou sem Marco Feliciano, já era um grave problema. Trata-se de um partido que fez campanha definindo a família de uma maneira que exclui não só gays e lésbicas, como também as famílias monoparentais, as com filhos adotivos e tantas outras. Trata-se de um partido que defende posições fundamentalistas que vão contra os direitos de muitas das minorias que essa comissão deve proteger.
Eu me formei num cristianismo que acolhe os diferentes, respeitando sua dignidade. Eu me apaixonei na juventude por esse cristianismo que deu origem à Teologia da Libertação, que participou da luta contra a ditadura e que nos deu grandes referências.
O PSC, lamentavelmente, não tem nada a ver com isso. E Marco Feliciano menos ainda! Que ele seja o novo presidente da comissão é uma contradição: é como colocar à frente das políticas contra a violência de gênero um cara que bate na mulher.
É isso que milhares de brasileiras e brasileiros estão sentido nesse momento: que a Câmara bateu neles. Em nós -confesso que eu também senti. Às vezes, me pergunto o que estou fazendo aqui. Mas depois vejo a mobilização de milhares de pessoas para impedir essa loucura e penso: é isso que estou fazendo, tentando representar aqueles que, como eu, sempre receberam mais insultos e porradas que direitos e estima! Saibam que não estão sozinhos! Luta que segue!


Jean Wyllys - Deputado federal pelo PSOL-RJ – 06.03.2013
IN Folha de São Paulo - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/97074-cinismo-cruel.shtml






Câmara cria comissão para evitar Coronel Telhada nos Direitos Humanos

A indicação de coronel Telhada inicialmente para a Comissão de Direitos Humanos (da câmara Municipal de São Paulo) antes do desmembramento foi apoiada pela liderança dos tucanos na Câmara, mas o partido, dono da segunda maior bancada, apoiou a separação entre segurança pública e direitos humanos (articulada pelo PT) nas negociações ocorridas entre segunda e ontem.

Raimundo Oliveira 
A Câmara Municipal de São Paulo desmembrou nesta terça-feira (5) em duas a Comissão Extraordinária de Direitos Humanos, Cidadania, Segurança Pública e Relações Internacionais. A divisão foi acompanhada de um acordo entre as lideranças dos partidos com maior bancada para evitar que o vereador Coronel Telhada (PSDB), ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), o grupo de choque da PM paulista, pudesse assumir o posto de presidente na Comissão Legislativa de Direitos Humanos.
A vereadora Juliana Cardoso (PT), uma das articuladoras do desmembramento, deve assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos, e Telhada deverá disputar com o vereador Ari Friedenbach (PPS) a presidência da nova Comissão de Segurança.
Segundo Juliana, uma das principais prerrogativas dos direitos humanos é apurar violações e abusos por parte do Estado, principalmente de suas forças de segurança, e por conta do histórico profissional de Telhada, não faria sentido ele presidir a comissão. “É preciso saber qual o papel do vereador e como funciona uma casa legislativa”, afirmou ela.
Telhada, uma das estrelas da primeira sessão do Legislativo paulistano neste ano, por conta da manobra em torno de sua atuação, afirmou que a divisão e o argumento de Juliana Cardoso para minar sua ida para a comissão de Direitos Humanos demonstra "falta de educação e preconceito" por parte da vereadora.
“Se ela acha que direitos humanos não englobam os direitos dos policiais e que um policial não pode integrar uma comissão destas, então acho que os direitos humanos, neste caso, são só para as pessoas que não são direitas mesmo”, disse.
A indicação de coronel Telhada inicialmente para a Comissão de Direitos Humanos antes do desmembramento foi apoiada pela liderança dos tucanos na Câmara, mas o partido, dono da segunda maior bancada, apoiou a separação entre segurança pública e direitos humanos nas negociações ocorridas entre segunda e ontem. Telhada não é da ativa na PM desde novembro de 2011.
Nesta terça-feira, durante sessão de abertura das atividades no Legislativo, o vereador Floriano Pesaro (PSDB), lider do PSDB na Câmara, confirmou o acordo e disse que seu partido apoia a mudança. Pesaro também afirmou que a bancada dos tucanos fará uma oposição “duríssima” ao governo do prefeito Fernando Haddad (PT).
Haddad possui maioria na Câmara, mas segundo o líder tucano, vai precisar saber negociar para evitar manobras como a obstrução da pauta por vereadores. “Ele pode ter maioria, mas um só vereador pode obstruir a pauta”, afirmou. Além dos tucanos, PHS, PPS, parte do PV e dos Democratas também integram a oposição a Haddad.
O prefeito esteve hoje na abertura do Legislativo e disse que tem grandes expectativas para sua administração e seu relacionamento com a Câmara. “O Executivo sabe de suas limitações e conta com o Legislativo para aperfeiçoar os projetos de lei que enviar”, disse.
Para a primeira sessão extraordinária da Câmara, que deve ser realizada amanhã, Haddad enviou dois projetos, um que repassa ao governo federal um terreno para a construção da universidade federal na zona leste, localizado na área onde funcionou a fábrica da metalúrgica Gazarra, em Itaquera. O outro repassa também ao governo federal uma área em Pirituba, zona oeste, para a construção de um instituto federal de educação.
Segundo o presidente da Câmara, o vereador José Américo (PT), outros projetos, como o que deve por fim à cobrança da taxa de inspeção veicular, só devem ser encaminhados após o carnaval. # que um policial não pode integrar uma comissão destas, então acho que os direitos humanos, neste caso, são só para as pessoas que não são direitas mesmo”, disse.


Raimundo Oliveira – Jornalista da Rede Brasil Atual – 06.02.2013
IN Brasil de Fato – http://www.brasildefato.com.br/node/11862