segunda-feira, 22 de abril de 2013

Tratado de Comércio de Armas é aprovado na Assembleia Geral da ONU


TEXTO NÃO PREVÊ PROIBIÇÃO DE VENDAS A GRUPOS ARMADOS NÃO ESTATAIS E FOI CONSIDERADO DESEQUILIBRADO POR MUITOS PAÍSES.

Redação Opera Mundi
Com 154 votos a favor, 3 contra e 23 abstenções, a Assembleia Geral da ONU aprovou, após mais de uma década de negociações, nesta terça-feira (02/04) o ATT (sigla em inglês do Tratado de Comércio de Armas), com o mobjetivo de regulamentar um mercado que movimenta cerca de 70 bilhões de dólares anuais.
A nova resolução foi apresentada pela Costa Rica depois que três países (Síria, Coreia do norte e Irã, os mesmos que votaram contra agora) bloquearam na semana passada a possibilidade de o tratado ser adotado por consenso. "Não somos contra o tratado, mas não podemos apoiá-lo como está porque não inclui os pontos que tínhamos colocado para que fosse equilibrado", disse o embaixador sírio na ONU, Bashar Jaafari, ao anunciar o voto de seu país.
O texto não proíbe a transferência de armas a grupos não estatais e ignorou a proposta de alguns países de mencionar os direitos inalienáveis dos povos cujo território está sendo ocupado por uma potência estrangeira, segundo o representante sírio.
"A pergunta que devemos fazer é por que demoramos tanto tempo", afirmou o embaixador costarriquenho na ONU, Eduardo Ulibarri. A resolução pede que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, encaminhe o tratado para a assinatura dos Estados a partir de 3 de junho.
O tratado foi apoiado pelos Estados Unidos, maior exportador de armas do mundo, pelos 27 países da União Europeia e o Brasil. Os representantes da Bolívia, Cuba, Equador, Nicarágua e Venezuela afirmaram que iriam se abster por considerar que o tratado "privilegia" os países exportadores e pode ser "manipulado politicamente".
Os cinco países disseram que o texto do tratado "não é equilibrado", não inclui uma menção à proibição de transferência de armas a grupos não governamentais e tem "deficiências" que impedem o voto a favor de sua aprovação.

Também optaram pela abstenção Rússia, Índia, China, Egito, Indonésia e Sudão, que no entanto se mostraram dispostos a aprovar o tratado no futuro.

O Paquistão, um dos países cuja posição era ambígua antes da votação, anunciou finalmente sua decisão de apoiar o novo tratado, embora antes tenha defendido a importância de se respeitar o "consenso" na ONU.

Entre os equipamentos bélicos envolvidos no tratado estão tanques de guerra, veículos de combate, sistemas de artilharia (calibres iguais ou superiores a 75 mm), aviões de combate, helicópteros, navios, mísseis e lançadores, armas pequenas (como revólveres, pistolas, espingardas, fuzis, carabinas e submetralhadoras) e armas leves (como lançador de granadas, lançador de mísseis portáteis e metralhadoras mais pesadas).

De acordo com o documento, a venda deverá ser proibida se algum estado signatário tiver conhecimento, no momento de autorização das exportações, de que elas serão utilizadas para fins de genocídio, crimes contra humanidade, violações aos direitos humanos, destinação do produto a grupos considerados terroristas ou criminosos e outras violações da Convenção de Genebra.

Para que os Estados possam aderir ao Tratado, ele deve ser ratificado internamente, de acordo com a legislação nacional. No Brasil, o Congresso Nacional precisa aprová-lo para que o Poder Executivo o ratifique e ele passe a valer para o país.


Redação Opera Mundi – 02.04.2013
IN Opera Mundi –http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/28138/tratado+de+comercio+de+armas+e+aprovado+na+assembleia+geral+da+onu.shtml


  


EUA não apoiarão tratado mundial de armas que exija restrições internas

Secretário de Estado, John Kerry, diz que tratado feriria Segunda Emenda, que defende direito de posse e uso de armas por cidadãos norte-americanos.

Agência Efe
O secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, disse nesta sexta-feira (15/03) que apoia o TCA (Tratado de Comércio de Armas) internacional, desde que "não seja exigido nenhum tipo de restrição ao comércio nacional de armas de fogo dos EUA".
A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou em outubro uma resolução convocando os países para outra sessão de negociações entre os dias 18 e 28 de março, após a suspensão feita em julho passado a pedido dos EUA e de outros países por mais tempo para discutir as propostas.


Kerry afirmou em comunicado que os "Estados Unidos estão cientes do seu compromisso para se chegar a um sólido e efetivo acordo do TCA que ajude a solucionar os efeitos do comércio mundial de armas na paz e estabilidade".


O secretário de Estado disse que seu país busca "um tratado efetivo que reconheça que cada nação deve desenvolver e fazer cumprir seus próprios mecanismos nacionais de controle de exportações e importações".


Como uma condição para o seu apoio, os Estados Unidos só respaldarão um TCA que se refira às transferências internacionais de armas convencionais sem "impor nenhuma nova restrição ao comércio nacional de armas de fogo dos EUA ou aos exportadores americanos".
"Não apoiaremos um tratado que seja inconsistente com as leis americanas e os direitos dos cidadãos americanos sob a Constituição, incluída a Segunda Emenda", disse Kerry.


A Segunda Emenda defende o direito de posse e uso de armas e a administração de Barack Obama reiterou que defende essa emenda, apesar do alto número de massacres que ocorrem nos Estados Unidos, dos quais a Casa Branca e o Senado responderam com propostas para melhorar os controles na venda de armas de fogo.
Kerry afirmou que o TCA em nível internacional deverá "preservar a decisão de transferir armas convencionais de maneira responsável em nível nacional".
"As nações responsáveis devem ter sistemas de controle que ajudem a reduzir o risco que as transferências de armas convencionais possam ser utilizadas para a execução de crimes em nível mundial, inclusive o terrorismo e sérias violações dos direitos humanos", afirmou Kerry.

Agência Efe – 17.03.2013
IN Opera Mundi – http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/27861/eua+nao+apoiarao+tratado+mundial+de+armas+que+exija+restricoes+internas.shtml




Por um tratado sobre o comércio de armas

Ao contrário do que ocorre com as armas de destruição em massa --como nucleares, químicas e bacteriológicas--, não há, atualmente, acordo internacional que discipline o comércio de armas convencionais.

Antonio de Aguiar Patriota
A inexistência de mecanismos internacionais que disciplinem o comércio de armas convencionais é fator relevante na intensificação de conflitos internos e da violência em grandes cidades.
Ao contrário do que ocorre com as armas de destruição em massa --como nucleares, químicas e bacteriológicas--, não há, atualmente, acordo internacional que discipline o comércio de armas convencionais.
O Brasil, junto com ampla maioria dos Estados membros das Nações Unidas, tem trabalhado para que essa lacuna seja suprida. Vamos contribuir para que a conferência final das Nações Unidas para um Tratado sobre o Comércio de Armas (ATT --do inglês, Arms Trade Treaty), a realizar-se em Nova York, a partir de 18 de março, produza resultados concretos e significativos.
Estamos envidando esforços para que, ao final da conferência, seja adotado um instrumento que estabeleça parâmetros internacionais comuns a ser respeitados nos processos nacionais de autorização para a exportação de armamentos. Não é algo trivial: se adotado, esse instrumento representará um importante avanço.
A adoção do Tratado sobre o Comércio de Armas não significa menor ênfase por parte do Brasil no sentido de trabalhar no contexto da ONU pela eliminação das armas de destruição em massa, que representam a maior ameaça à própria sobrevivência da humanidade. A respeito dessas armas, o Brasil defende que sejam cumpridos com sentido de urgência os compromissos assumidos no plano multilateral, que são essenciais para alcançar o objetivo maior da paz.
O significado principal do ATT está em prever ferramentas para a prevenção e para o combate ao tráfico de armas, que tem contribuído para o surgimento de conflitos e incrementado a violência armada em diversas regiões do mundo.
O Brasil defende que o tratado preveja expressamente a proibição de transferência de armas por Estados para atores não estatais.
É também necessário que "certificados de usuário final" sejam emitidos em todas as transações, atestando que o armamento não será reexportado sem prévia anuência do exportador original.
É importante entender que o ATT não tem por objetivo restringir o comércio lícito de armas. Trata-se de iniciativa que visa a aumentar a responsabilidade dos Estados em relação a essas transações, condicionando as exportações de armas convencionais a controles nacionais que obedeçam a padrões mínimos --estabelecidos multilateralmente--, sem criar restrições indevidas às transações.
Por restringir o acesso ilegal aos instrumentos de violência, iniciativas como a adoção de um Tratado sobre o Comércio de Armas representam importantes avanços não apenas na proteção das populações civis em situações de conflito, mas também da agenda de prevenção de conflitos internacionais. Precisamos lutar por esse objetivo.
A facilidade na obtenção de armas convencionais pelo comércio ilícito multiplica os danos causados por conflitos. E quem sofre as consequências, na maioria das vezes, são civis desarmados, particularmente grupos vulneráveis como crianças e idosos.
O Brasil confia em que seja possível adotar, no âmbito das Nações Unidas, um acordo equilibrado e não discriminatório. E que, com isso, seja dado um passo auspicioso em direção a uma ordem internacional mais segura e pacífica.


Antonio de Aguiar Patriota - Ministro das Relações Exteriores – 17.03.2013
IN Folha de São Paulo – http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1247562-antonio-de-aguiar-patriota-por-um-tratado-sobre-o-comercio-de-armas.shtml