O
presidente do BNDES, Luciano Coutinho, considera que o Brasil, como
anfitrião da Rio+20, deve assumir o papel de "construtor de
consensos" durante a conferência, porque tem uma posição privilegiada na
boa relação com países desenvolvidos e em desenvolvimento. Em entrevista, Coutinho disse
que o Brasil não tem uma "posição refratária" à proposta de criação
de uma agência na ONU para cuidar do tema ambiental. "Tenho dúvida quanto
a criar uma burocracia na ONU, se ela será eficaz para a agenda de eficiência
do uso de energia".
Daniela Chiaretti, Cristiano Romero e Alex Ribeiro
Luciano Coutinho acha que o momento global é ingrato para a conferência, porque os EUA estão centrados no debate político-eleitoral e "a Europa está um tremendo salseiro", pelos problemas econômicos. Mesmo diante desse quadro, segundo Coutinho, o Brasil precisa fazer o máximo para que a Rio+20 construa pelo menos uma agenda mais nítida para a política de sustentabilidade. "Falo no sentido estrito da palavra, de uma agenda que leve a iniciativas concretas de redução de consumo e de eficiência energética".
O presidente do BNDES afirmou que o potencial de melhoria da eficiência energética é "extremamente relevante e não tem sido devidamente priorizado", inclusive pelo setor privado. "Vejo muita cobrança da Rio+20 voltada para governos, mas estamos longe de construir uma verdadeira adesão do setor privado à sustentabilidade responsável, que permita reduzir a intensidade do uso de energia".
Ao responder pergunta sobre "economia verde", Coutinho preferiu citar o conceito de "green development", definido como o direito ao crescimento das economias em desenvolvimento com novos paradigmas, mais eficientes, com energia renovável e cuidados com a área social.
Eis a entrevista.
Valor – Um ponto crucial da economia verde, eixo da Rio+20, pressupõe corte dos incentivos aos combustíveis fósseis. O Brasil, com o pré-sal, não vai na contramão?
Luciano Coutinho acha que o momento global é ingrato para a conferência, porque os EUA estão centrados no debate político-eleitoral e "a Europa está um tremendo salseiro", pelos problemas econômicos. Mesmo diante desse quadro, segundo Coutinho, o Brasil precisa fazer o máximo para que a Rio+20 construa pelo menos uma agenda mais nítida para a política de sustentabilidade. "Falo no sentido estrito da palavra, de uma agenda que leve a iniciativas concretas de redução de consumo e de eficiência energética".
O presidente do BNDES afirmou que o potencial de melhoria da eficiência energética é "extremamente relevante e não tem sido devidamente priorizado", inclusive pelo setor privado. "Vejo muita cobrança da Rio+20 voltada para governos, mas estamos longe de construir uma verdadeira adesão do setor privado à sustentabilidade responsável, que permita reduzir a intensidade do uso de energia".
Ao responder pergunta sobre "economia verde", Coutinho preferiu citar o conceito de "green development", definido como o direito ao crescimento das economias em desenvolvimento com novos paradigmas, mais eficientes, com energia renovável e cuidados com a área social.
Eis a entrevista.
Valor – Um ponto crucial da economia verde, eixo da Rio+20, pressupõe corte dos incentivos aos combustíveis fósseis. O Brasil, com o pré-sal, não vai na contramão?
Luciano
Coutinho – O petróleo é um recurso sujeito a um processo de
depleção [esgotamento pela extração contínua de um recurso natural]. As
reservas se exaurem à medida que há exploração. Para manter a produção estável,
é preciso continuar investindo porque os poços tendem em geral a perder
capacidade após certo período. No mundo inteiro, a estrutura atual de produção
é sujeita a processos de depleção, portanto, isso demanda investimentos. Então,
é possível perfeitamente projetar um crescimento na capacidade produtora e
exportadora brasileira, sem que isso signifique que a fatia de combustíveis
fósseis no consumo global ou no consumo brasileiro vá aumentar. Não é
incompatível fazer um grande esforço de investimento e de capacidade produtiva
e, ao mesmo tempo, aumentar, na oferta de combustíveis, a participação das
energias renováveis. O pré-sal é a mais recente descoberta de grande escala.
Com exceção das grandes reservas na Arábia Saudita, no Cazaquistão e
no Irã, essa é a maior província. No planejamento de longo prazo da
própria Petrobras, trabalha-se com a ampliação da participação de combustíveis
renováveis. Essa é uma tendência global. Os incentivos colocados para energia
eólica já a tornaram competitiva em vários países. Espero que, no futuro,
outras formas de energia renovável possam se tornar competitivas e ocupar um
espaço crescente. Por exemplo: a energia solar seria uma promessa muito
interessante para um país como o Brasil.
Valor – Como as economias emergentes poderão se desenvolver em um mundo de sete bilhões de pessoas e caminhando rapidamente para nove bilhões, em que o consumo per capita terá que ser menor para fazer frente à pressão sobre os recursos naturais?
Valor – Como as economias emergentes poderão se desenvolver em um mundo de sete bilhões de pessoas e caminhando rapidamente para nove bilhões, em que o consumo per capita terá que ser menor para fazer frente à pressão sobre os recursos naturais?
Luciano
Coutinho – Podem se desenvolver e não se pode é negar o
direito ao desenvolvimento, que era uma tese que estava implícita em algumas
das colocações originais dos países desenvolvidos e que provocou tanta
resistência. É possível reduzir a intensidade no PIB de uso de energia e
conciliar desenvolvimento econômico com uma utilização mais eficiente da
energia e/ou um aumento de participação de energias renováveis. Isso demanda
mudança tecnológica. Algumas economias, a mais importante é o Japão,
conseguiram reduzir nos últimos dez anos a intensidade energética do PIB.
Outras economias relegaram esse processo. A China mudou de
atitude.
Valor – Como?
Valor – Como?
Luciano
Coutinho – Estrategicamente, começa a dar prioridade a uma
agenda de poupança de recursos tanto de energia quanto de água. A China, pelo
tamanho da população, tem de fato um problema de estresse sobre a água, que é
tão importante quanto o de intensidade de energia. É um país que tem uma matriz
energética altamente dependente de carvão e começou a mudar e a apoiar energias
renováveis. O desembolso no ano passado dos bancos públicos para energias
renováveis foi de US$ 45 bilhões, um investimento pesado.
Valor – É possível obter ganhos expressivos por meio de eficiência?
Valor – É possível obter ganhos expressivos por meio de eficiência?
Luciano
Coutinho – O potencial de melhoria de eficiência no uso de
energia é algo extremamente relevante e não tem sido devidamente priorizado.
Essa é uma agenda muito grande, que compreende, por exemplo, tornar mais
eficiente o uso de energia em processos industriais. Envolve rever todos os
eletrodomésticos. Houve uma notável melhoria nos últimos 20 anos de eficiência
de consumo de energia na geladeira, mas isso não foi tão marcante em outros
aparelhos, como máquinas de lavar louça e de lavar roupa, tanto em termos de
poupança de energia quanto de água. É uma agenda que precisa ser induzida. A
outra agenda importante é a de iluminação pública. Também tem um tremendo potencial.
Tecnologia de edifício inteligente; sistemas mais inteligentes de automação de
elevadores; processos industriais que emitam menos carbono e usem menos
energia. Essa é uma agenda muito relevante e muito difícil. Ela precisa engajar
o setor privado.
Valor – Por que é difícil?
Valor – Por que é difícil?
Luciano
Coutinho – Exige uma combinação de projeção tecnológica e um
pouco de regulação. Não acredito que essa agenda venha, com a força necessária,
só com base em uma adesão voluntária do setor privado. Muitas empresas têm
usado o "label" [a marca] de que elas que são "green"
[ecológicas]. Como não existe uma métrica nem um benchmark estabelecidos, você
não sabe se isso é marketing ou é real. O primeiro problema é ter padrões de
comparação técnica aceitos, porque também não se pode simplesmente impor. Só
ter padrões não resolve. É preciso uma visão de engenharia de processo, uma
engenharia de produto, que permita olhar para o futuro e estabelecer uma meta e
isso tem que ser ao mesmo tempo factível. Um exemplo é a eficiência de motores
automotivos. O governo americano jogou lá para frente uma meta, uma coisa muito
bem construída. Então, esse é um tipo de padrão que, se você estabelece uma
meta num mercado muito grande como o americano, que é um mercado para o qual o
mundo inteiro produz, então, você consegue fazer um padrão global. É muito
difícil você fazer isso num país só. Esse é um debate de eficiência que precisa
de fato engajar o setor privado. Vejo muita cobrança da Rio+20 voltada
para os governos, mas acho que estamos longe de construir uma verdadeira adesão
do setor privado à sustentabilidade responsável, que permita reduzir a
intensidade de uso de energia.
Valor – Como tocar essa agenda?
Valor – Como tocar essa agenda?
Luciano
Coutinho – Ela deveria ser liderada pelos países
desenvolvidos. Eles é que podem estabelecer um padrão que termine virando um
padrão mundial. Eles é que têm a capacidade de desenvolver a tecnologia e de,
eventualmente, de transferi-la. Claro que isso não nos absolve, indústria
brasileira, de buscar desenvolver nosso próprio esforço de reduzir a
intensidade de uso da energia na economia.
Valor – Um dos pontos da Rio+20 é estudar métricas e padrões e uma das áreas que podem ser alvo disso é a de energia.
Valor – Um dos pontos da Rio+20 é estudar métricas e padrões e uma das áreas que podem ser alvo disso é a de energia.
Luciano
Coutinho – Há três iniciativas dentro da ONU. Existe uma
chamada "sustainable energy for all" [energia sustentável para
todos]. Essa iniciativa primeiro pensa em incluir os pobres da África que
cortam árvore para cozinhar ou usam fogão a diesel, a um custo enorme. É um "Luz
para Todos" internacional. Custa pouco. É fundamental para
reduzir pobreza e isso não vai poluir mais o mundo. Essas populações consomem
energia de uma maneira também predatória.
Valor – Quais são as outras duas iniciativas da ONU?
Valor – Quais são as outras duas iniciativas da ONU?
Luciano
Coutinho – Aumentar a fração das renováveis e elevar a
eficiência no uso da energia. Estamos muito atrás. A agenda ficou paralisada
pela resistência americana, durante um tempo pela resistência chinesa, mas
curiosamente a China mudou. Do Plano Quinquenal anterior para o atual houve uma
mudança qualitativa importante.
Valor – Que papel o senhor atribui ao setor privado nessa discussão?
Valor – Que papel o senhor atribui ao setor privado nessa discussão?
Luciano
Coutinho – O setor privado tem lideranças no mundo
genuinamente preocupadas com a questão ambiental e com o aquecimento global e
suas consequências. Mas não há massa crítica ainda e não tem adesão de governos
para organizar isso. Os governos precisam fazer algo porque meio ambiente é uma
tremenda falha de mercado. O mercado não consegue coordenar a questão
ambiental.
Valor – No Brasil passamos muito tempo sem construir hidrelétricas. Retomamos isso a muito custo nos últimos anos e essa matriz é de energia renovável. Ainda assim, há um debate fortíssimo, por exemplo, sobre a construção de Belo Monte.
Valor – No Brasil passamos muito tempo sem construir hidrelétricas. Retomamos isso a muito custo nos últimos anos e essa matriz é de energia renovável. Ainda assim, há um debate fortíssimo, por exemplo, sobre a construção de Belo Monte.
Luciano
Coutinho – Aí tem um pouco de desinformação e um pouco de
"xiitismo". O projeto Belo Monte tem a mesma relação
entre a área inundada e produção de energia que uma PCH (pequena
central hidrelétrica) ou até mais eficiente. Assim como Santo Antônio e Jirau,
são usinas a fio d'água, já foram desenhadas para maximizar a relação entre
energia e área afetada.Belo Monte podia ter um lago muito maior,
para ter energia garantida em um nível mais alto com um sacrifício ambiental
muitíssimo maior, mas ela não foi concebida assim. Agora, temos uma economia
crescendo e com necessidade de energia. É preciso fazer projetos com a
filosofia minimizadora. Entre essa alternativa e fazer térmica, hidrelétrica
ainda é uma alternativa melhor. Se pudéssemos acelerar o processo tecnológico e
ter, por exemplo, energia solar eficiente, energia eólica... O fator de
capacidade da eólica é, em média, de 20% a 25%. Em 75% do tempo fica parada
porque tem que ter vento, precisa fazer uma torre mais alta para ter vento,
colocar máquinas maiores, não é fácil.
Valor – E sobre conservação de energia? O Brasil parece pensar mais em aumentar a produção. O senhor enxerga alguma mudança?
Valor – E sobre conservação de energia? O Brasil parece pensar mais em aumentar a produção. O senhor enxerga alguma mudança?
Luciano
Coutinho – Tem-se no Brasil um complexo Rio Madeira,
10 ou 12 Gigawatts de potencial de poupança de energia. É assim no mundo
inteiro e isso demanda uma política organizada. É preciso poupar energia em
todos os níveis. Por exemplo, o "smart-grid", que não é fácil de
fazer. Significa ter uma computadorização geral da distribuição de energia. E
tem um sistema inteligente que diz que, na casa de fulano tem muita demanda de
energia, na de beltrano tem pouca, e eu distribuo a carga do sistema para as
áreas onde se está usando.
Valor
– A Rio+20 é uma conferência sem dinheiro. Não se
pensa em criar um fundo ou exigir alguma transferência de recursos. Como o
senhor vê isso?
Luciano
Coutinho – O momento global é ingrato para a conferência.
Primeiro tem uma eleição nos EUA e a sociedade está centrada em outro debate,
voltada para dentro, com um presidente em fim de mandato buscando outro. A Europa está
em um tremendo salseiro, uma situação complicada com governos fragilizados. Os
países [como a Alemanha] que eram campeões da causa estão voltados para dentro
da crise, podendo dar pouca atenção e com poucos recursos. O MDL, o
mecanismo de desenvolvimento limpo que são os créditos de carbono, é algo que
caduca em alguns anos e precisa ser renovado. Infelizmente, não se percebe uma
mobilização de países para aumentar ou renovar o sistema. Não obstante o quadro
não ser favorável, temos que fazer o máximo para que a Rio+20 construa
condições de avanço. E que construa, pelo menos com clareza, uma agenda mais
realista, mais nítida para a política de sustentabilidade.
Valor – Realista em que sentido?
Valor – Realista em que sentido?
Luciano
Coutinho – Falo no sentido estrito da palavra, que leve a
iniciativas concretas de redução de consumo, de eficiência energética. E que
seja pragmática, de engajamento, com construção de padrões. Esse é o grande
problema. Há um grande pedaço da questão que não se resolve por "dictat"
de governo. Uma parte se resolve: é reprimir desmatamento e queimada. O governo
faz supervisão com satélite e está conseguindo. Outro aspecto, o governo pode
fazer. Por exemplo, na construção da política energética seria incentivar o uso
de renováveis. Agora, tem um pedaço enorme do sistema de consumo que é mercado.
Valor – Faltam lideranças?
Valor – Faltam lideranças?
Luciano
Coutinho – Sim, as lideranças globais estão voltadas para
outras questões, e poucas têm uma participação clara, de profundidade, nos
desafios que o processo de aquecimento global traz para a humanidade. São
poucas lideranças, infelizmente.
Valor – O Brasil não está em posição muito defensiva? Por exemplo, na questão da criação de uma agência da ONU para cuidar do tema. Os europeus gostariam de criá-la e os americanos não querem nem ouvir falar nisso e o Brasil parece que também não. O que o Brasil teme?
Valor – O Brasil não está em posição muito defensiva? Por exemplo, na questão da criação de uma agência da ONU para cuidar do tema. Os europeus gostariam de criá-la e os americanos não querem nem ouvir falar nisso e o Brasil parece que também não. O que o Brasil teme?
Luciano
Coutinho – O Brasil não tem uma posição refratária, mas tem
que construir consensos. Tenho dúvida quanto a se criar uma burocracia da ONU,
se ela será eficaz para a agenda de eficiência do uso de energia, por exemplo,
que é uma agenda que precisa de um forte engajamento do setor privado. Não
quero entrar nesse tema específico, nem opinar taxativamente sobre ele. Acho
que a posição do Brasil, como anfitrião do encontro, precisa ser a de construir
consensos. O país tem uma posição privilegiada porque tem uma boa relação com
países desenvolvidos e em desenvolvimento, então, precisa buscar ser um
construtor de consensos para que possa haver avanços em várias agendas.
Valor
– A transferência de tecnologia é um ponto travado
desde a Rio 92. É também um ponto nebuloso, em que os governos tentam
regulamentar o que é da esfera privada. A Rio+20 pode avançar nisso?
Luciano
Coutinho – O ponto da transferência de tecnologia, colocado em
abstrato, no vácuo, se torna ineficaz. Por que se fala em transferir
tecnologia, gratuitamente, para quem? Como? De que forma? Na verdade, se as
economias desenvolvidas não estabelecerem padrões de eficiência energética
olhando padrões tecnológicos futuros, e elas próprias estabelecerem, com
métricas, padrões novos, fica difícil universalizar esses padrões. Temos que
lembrar que economias em desenvolvimento são, em grande medida, influenciadas
pelo desenvolvimento direto de grandes empresas internacionais que são canais
para transferência de tecnologia de processo, não necessariamente de tecnologia
própria para os países. Claro que as grandes economias em desenvolvimento têm
projetos próprios e legítimos de incentivar e promover a sua capacitação
tecnológica própria, inclusive nas áreas de energias renováveis. Este é o caso
do Brasil, da China.
Valor – Existe uma certa desconfiança em relação ao Brasil. O presidente Obama sinaliza que talvez não venha, a presidente Dilma não comparecerá ao encontro preparatório de chefes de Estado em Estocolmo. O Brasil está se empenhando como fez na Rio92?
Valor – Existe uma certa desconfiança em relação ao Brasil. O presidente Obama sinaliza que talvez não venha, a presidente Dilma não comparecerá ao encontro preparatório de chefes de Estado em Estocolmo. O Brasil está se empenhando como fez na Rio92?
Luciano
Coutinho – Bem, era um momento favorável. A Rio+20 bem
organizada será. O campo político do presidente Obama está em
plena campanha e logo irá esquentar. Como os EUA não podem liderar uma grande
posição, para ele ir lá, firmar compromissos que podem ser facilmente
criticados pelo adversário na campanha, bem, eu diria que ele tem uma bola
quadrada. Em compensação, vem o chinês, vem muito chefe de Estado.
Valor – Ângela Merkel espera sinalização forte do Brasil. É o oposto de Obama: ela tem um eleitorado verde e ela tem necessidade de vir.
Valor – Ângela Merkel espera sinalização forte do Brasil. É o oposto de Obama: ela tem um eleitorado verde e ela tem necessidade de vir.
Luciano
Coutinho – Já há mais de 80 chefes de Estado confirmados. Não
acho que o Brasil não esteja fazendo esforço.
Valor – Alguns países veem o tema da economia verde com desconfiança, temendo que embuta barreiras protecionistas. O que acha?
Valor – Alguns países veem o tema da economia verde com desconfiança, temendo que embuta barreiras protecionistas. O que acha?
Luciano
Coutinho – É, existe ainda uma apreensão de países em
desenvolvimento em relação à velha agenda. Porque a velha agenda passava uma
mensagem de "não se desenvolva" para não permitir uma série de
problemas. Existe uma concepção de "green economy", para uma
economia desenvolvida, onde a agenda é diferente. E existe um outro conceito,
que é o "green growth", o crescimento verde. Eu acredito que o
que nós deveríamos ter é um crescimento do tipo "green development".
Valor – O que é esse conceito?
Valor – O que é esse conceito?
Luciano
Coutinho – É o direito ao crescimento pelas economias em
desenvolvimento com novos paradigmas, mais eficientes e com mais energia
renovável. O conceito de "green development" inclui também o
desenvolvimento social. Até porque, se você não enfrenta a questão social, ela
cobra um preço ambiental. Uma coisa que nos preocupa muito no governo é, por
exemplo, o desmatamento formiguinha, porque aquele feito pelo grande produtor,
esse é até fácil de detectar e reprimir. Mas, se você não cuida da pequena
agricultura e dos assentamentos, eles vão destruindo a floresta. E a
formiguinha é difícil de detectar. Precisa ter incentivo para a agricultura de
baixo carbono; incentivo para técnicas sustentáveis para a pequena propriedade;
recuperação de pastagens degradadas. O conceito intuitivo e errôneo é que, se
eu incluir essas pessoas, elas entrarão no mundo do consumo e, portanto,
consumirão mais. Bem, essas pessoas precisam consumir. Se elas estão na franja
da sociedade, também consumirão. Incluir não significa, necessariamente, emitir
mais carbono. O desenvolvimento inclusivo faz parte do sustentável,
ambientalmente falando. O Brasil amadureceu e o país pode dar contribuições
muito interessantes com a sua experiência. Até como anfitriões, precisamos ter
uma atitude mais construtiva, de buscar conciliar e buscar consenso.
Daniela Chiaretti, Cristiano Romero e Alex Ribeiro – 25.04.2012.
IN Valor – http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Institucional/Sala_de_Imprensa/Galeria_Arquivos/Entrevista_Valor_26_04.pdf
Para Coutinho, infraestrutura é o melhor
investimento no Brasil
Coutinho
acredita que os gargalos na área de infraestrutura são, na verdade, uma
oportunidade de investimento.
Arícia
Martins e Guilherme Soares Dias
SÃO PAULO - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, ressaltou hoje a importância do
banco, afirmando que todos os países precisam de grandes bancos de
investimentos. Ele lembrou também que o país tem herança de indexação
financeira. “O passivo de nossos bancos ainda está vinculado à liquidez
diária”, disse.
De acordo com ele, hoje o esforço do banco é no
desenvolvimento de debêntures de infraestrutura. “Estamos trabalhando com novas
modalidades para o financiamento de longo prazo em bases privadas”, destacou.
Coutinho acredita que os gargalos na área de infraestrutura são, na verdade,
uma oportunidade de investimento. “A melhor alternativa que temos é
infraestrutura”, disse, fazendo referência ao retorno que o investidor pode
alcançar. Para ele, essa nova fronteira de investimentos possui “taxa rentável
e retorno eficiente”.
Coutinho afirmou que o BNDES "acompanha de
perto" todos os projetos que financia e tem tido, até o momento,
performance "extremamente satisfatória". Como o banco estatal é
conhecido por sua qualidade técnica e isenção no processo decisório de
empréstimos, ele avaliou que os aportes do Tesouro no BNDES são um
investimento.
O presidente do BNDES participou nesta manhã de
evento promovido pela revista britânica The Economist. Perguntado sobre o novo
papel do BNDES como um banco de fomento em uma economia sem hiperinflação e
taxas de juros normalizadas, o presidente da instituição disse que qualquer
economia, mesmo desenvolvida, precisa de um banco como BNDES, já que as
instituições de mercado são extremamente pró-cíclicas e, em períodos de crise,
restringem concessões de crédito. "O Brasil ainda precisa de um grande
banco", afirmou.
Segundo Coutinho, o primeiro-ministro britânico,
David Cameron, o perguntou durante sua estadia no Brasil quais são as normas
que tornam o BNDES uma instituição tão eficiente. Para Coutinho, são sua
qualidade técnica e governança. No contexto de convergência da taxa básica de
juros, a Selic, para a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), Coutinho julga que
o desafio do BNDES será "aprender a conviver e competir com o mercado".
“Teremos um esforço compartilhado entre BNDES, o mercado de capitais e o
mercado de crédito”, disse.
Arícia Martins e Guilherme Soares Dias – 04.10.2012
IN Valor – http://www.valor.com.br/brasil/2855480/coutinho-investimentos-em-infraestrutura-precisam-crescer-mais-de-50
Coutinho: Investimentos em infraestrutura precisam crescer mais de 50%
O
investimento anual necessário em infraestrutura para garantir o desenvolvimento
do país deve ser entre US$ 90 e US$ 100 bilhões, segundo o presidente do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. “Hoje
esse investimento chega a US$ 60 bilhões por ano”
Arícia Martins e Guilherme Soares Dias
SÃO PAULO - O investimento anual necessário em
infraestrutura para garantir o desenvolvimento do país deve ser entre US$ 90 e
US$ 100 bilhões, segundo o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. “Hoje esse investimento chega a
US$ 60 bilhões por ano”, ressaltou, ao participar de evento promovido pela “The
Economist” em São Paulo.
Hoje, a carteira do BNDES em projetos de
infraestrutura soma cerca de US$ 250 bilhões. “Vamos aumentar esse valor [de
projetos em infraestrutura] com ajuda do mercado privado”, ressaltou. De acordo
com ele, no momento em o mercado financeiro estiver normalizado (pensando em
padrões mundiais de operação no longo prazo), o BNDES terá que aprender a
conviver e competir com o mercado. “O mercado de capitais no Brasil se
desenvolveu porque o BNDES foi um grande fator de estímulo e continuará
sendo”, afirma.
Ele lembrou ainda que o país possui taxas
transitórias do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que têm data
para acabar até o fim do ano. Coutinho ressaltou ainda que o custo implícito
nas operações do Tesouro caiu e deve continuar em queda. “Já diminuiu muito e
possivelmente diminuirá ainda mais”, afirmou.
Arícia Martins e Guilherme Soares Dias – 04.10.2012